Cartilha tira dúvidas de gestantes sobre o vírus Zika

No texto, o professor responde, de forma simples e direta, as principais dúvidas das gestantes sobre o vírus, como o contágio; os cuidados e a prevenção; a microcefalia e demais riscos a mães e recém-nascidos.

O professor Geraldo Duarte, responsável pelo Setor de Gestação de Alto Risco do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HCFMRP) da USP, acaba de divulgar Cartilha de Orientação para Gestantes sobre Infecção pelo Zika Vírus.

Geraldo Duarte - Foto: Divulgação FMRP-USP
Geraldo Duarte – Foto: Divulgação FMRP-USP

No texto, o professor responde, de forma simples e direta, as principais dúvidas das gestantes sobre o vírus, como o contágio; os cuidados e a prevenção; a microcefalia e demais riscos às mães e recém-nascidos.

Confira a seguir a íntegra do documento.

Como a infecção pelo vírus Zika se manifesta?
De forma geral, a evolução da doença é benigna, com período de incubação (do contato com o vírus até o aparecimento do primeiro sinal ou sintoma) de quatro dias.

Pessoas com o quadro clínico completo da infecção pelo vírus Zika apresentam exantema (manchas pelo corpo), febre baixa, conjuntivite (olhos vermelhos), dores musculares, dor de cabeça e artralgia (dor nas articulações). Estas manifestações podem durar até uma semana.

Todas as pessoas com a infecção pelo vírus Zika apresentarão sintomas ou sinais da doença?
Não. De cada 10 pessoas infectadas pelo vírus Zika, espera-se que somente duas apresentem os sinais e os sintomas descritos no item anterior.

Portanto, um grande percentual de pessoas pode ter a doença e não saber que tem ou teve a doença.

Síndrome de Guillain-Barré
A síndrome de Guillain-Barré tem várias causas e o vírus Zika também é responsável pelo desenvolvimento de alguns casos desta síndrome em adultos.

Ela é uma doença imunológica que acomete o sistema nervoso periférico, provocando inúmeros sintomas e sinais.

Dentre as várias formas de manifestações clínicas, a principal é a fraqueza dos membros inferiores em graus variados, podendo chegar inclusive à paralisia das pernas.

As gestantes devem ficar atentas, pois os sinais e sintomas da dengue, Chikungunya e Zika são muito parecidos. O médico precisa ser procurado imediatamente na suspeita de qualquer uma destas infecções.

Como a infecção pelo vírus Zika é transmitida?
O vírus Zika é transmitido por meio da picada do mosquito Aedes aegypti, o mesmo que transmite o vírus da dengue e o vírus Chikungunya.

Por esse motivo, as medidas de prevenção e controle são as mesmas já adotadas contra a dengue e para o Chikungunya.
Assim, deve-se evitar a multiplicação do mosquito, eliminando os locais em que ele prolifera. Na realidade esta é a única forma efetiva de controlar estas infecções.

Existe tratamento contra a infecção pelo vírus Zika?
Apenas tratamento sintomático. Não há tratamento específico contra o vírus Zika

O tratamento sintomático baseia-se no uso de acetaminofen (paracetamol) para febre e dor, conforme orientação médica.
Não está indicado o uso de ácido acetilsalicílico e drogas anti-inflamatórias, devido ao risco aumentado de complicações hemorrágicas, como ocorre com a dengue. Orienta-se procurar o serviço de saúde para condução adequada.

O que é microcefalia?
De forma simples, o conceito de microcefalia está relacionado com uma medida menor que a esperada para a idade gestacional da cabeça do feto ou do recém-nascido.

Esta medida pode ser feita no feto (por ultrassonografia) ou após o nascimento, medindo a circunferência (em volta da cabeça) do recém-nascido, também chamado de perímetro cefálico.

Por isto, fixar um valor único para a medida e classificação do recém-nascido ou o feto portador de microcefalia pode trazer resultados inadequados.

No entanto, para fetos ou crianças acima de 37 semanas, sem nenhuma doença, espera-se que a circunferência craniana (perímetro cefálico) esteja acima dos 32 cm.

Existem casos mais ou menos graves de microcefalia?
Quanto mais acometido for o encéfalo fetal, mais grave será o quadro clínico decorrente da microcefalia.

Se meu bebê tiver microcefalia eu posso solicitar aborto?
Não. Em casos de má formação, o aborto permitido por lei só é liberado em casos de anencefalia (não formação do cérebro), o que é diferente da microcefalia.

Quais são as causas conhecidas de microcefalia?
Sabe-se que as microcefalias apresentam várias causas. Pode ser decorrente de causas genéticas, radiações, uso de álcool, oxigenação cerebral fetal insuficiente e processos infecciosos durante a gravidez, entre outras.

As evidências disponíveis até o momento indicam fortemente que o vírus Zika está relacionado à ocorrência de microcefalias. No entanto, não há como afirmar que a presença do vírus Zika durante a gravidez leve sempre ao desenvolvimento de microcefalia no feto.

A exemplo de outras infecções congênitas, o desenvolvimento dessas anomalias depende de diferentes fatores. Eles podem estar relacionados com a carga viral, fatores do hospedeiro, momento da infecção ou a presença de outros fatores e condições desconhecidos até o momento.

Por isso, é fundamental continuar os estudos para descrever melhor a história natural dessa doença.

Porque o vírus Zika causa microcefalia?
Até o momento, não se conhece o mecanismo pelo qual o vírus Zika causa microcefalia.

As informações aqui prestadas se baseiam no que se sabe a respeito deste assunto até o momento.

Sabe-se que ele entra no organismo materno pela picada do Aedes aegypti e após, pela circulação sanguínea, chega ao feto. Como este vírus tem predileção pelo tecido nervoso, esse é o tecido no qual ele provocará o dano que resulta na microcefalia.

Existe vacina contra o vírus Zika?
Não existe vacina contra o vírus Zika até o momento.

Como posso evitar ser infectada pelo vírus Zika?
Visto que o vírus Zika chega ao organismo humano por meio da picada do Aedes aegypti, é possível evitar a infecção pelo vírus Zika, evitando a picada deste mosquito.

A melhor forma de evitar a infecção é controlar a proliferação do mosquito. Mas se esse controle falhar, deve-se evitar a picada.
As formas de evitar a picada consistem na proteção da pele, deixando o mínimo de pele exposta.

Na pele exposta, proteger com repelente.

Se usar tecido muito fino ou de trama larga, aplicar o repelente por cima do tecido.

De forma geral, os repelentes naturais não são eficientes.

Grávida pode usar repelente?
Sim, a grávida pode usar alguns repelentes não naturais. Normalmente, esses produtos trazem informações quanto ao uso por gestantes em suas embalagens.

Os mais indicados são aqueles à base de “Icaridina”, nome comercial “Exposis®”, com tempo de ação que pode durar até 10 horas.

Também podem ser utilizados o “DEET”, nome comercial “Off Repelex®”, (concentração de 15%) e o “IR3535”, nome comercial “Loção antimosquito Johnson®”.

Devem ser evitados contatos com olhos, boca e nariz.

Os repelentes que funcionam quando são ligados na “tomada de luz elétrica” podem ser utilizados desde que estejam a mais de dois metros da gestante.

Para mulheres que planejam engravidar, o que fazer?
Considerando relação entre a ocorrência de microcefalia e a infecção pelo vírus Zika, recomenda-se aos serviços e profissionais de saúde que informem a todas as gestantes e mulheres em idade fértil a respeito deste risco.

Claro que a decisão é do casal, mas a equipe de saúde deve esclarecê-las do risco.

Estou grávida e quero viajar para o Nordeste, posso?
Deve-se seguir a mesma orientação anterior. Para grávidas que querem viajar para as regiões de maior frequência da doença (a exemplo do Nordeste), é preciso orientá-las e esclarecer sobre os riscos. Não há como proibir.

Patricia Cainelli / Assessoria de Imprensa do HCFMRP

Mais informações: (16) 3602-2843

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