Telessaúde na fonoaudiologia melhora qualidade de vida de pacientes

Com papel pioneiro, a FOB desenvolve pesquisas de telessaúde em fonoaudiologia, tanto em teleducação, quanto em teleassistência. A professora Deborah Viviane Ferrari é uma das especialistas no assunto.

Sem uma definição consensual, telessaúde na fonoaudiologia pode ser entendida como prestação de serviços de saúde à distância por meio de tecnologia, desde a uma consulta até um treinamento para outros profissionais da área. O conceito é da professora Deborah Viviane Ferrari, da Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB) da USP, e contempla as duas grandeas áreas em que a telessaúde é exercida.

A teleducação consiste em treinamentos de profissionais, alunos de graduação e pós-graduação, cursos rápidos e palestras em diversas áreas da saúde. Deborah conta que a FOB participa não só de cursos voltados para fonoaudiólogos, mas também para outros profissionais, por conta da parceria com a telemedicina. “Participamos de um curso semi-profissionalizante sobre amamentação, integrando-o com os conhecimentos de fono”, afirma a pesquisadora.

A outra grande área é a teleassistência, em que são feitas consultas propriamente ditas através de tele-conferências. Por meio dessas consultas é possível, por exemplo, fazer o reparo e calibrar corretamente aparelhos auditivos, além de orientar e participar do processo de reabilitação dos pacientes.

Vantagens para médicos e pacientes

Os resultados das pesquisas da FOB, segundo Deborah, têm mostrado que a qualidade de atendimento do paciente se mantém, ou seja, o método tem sido bem aceito. “No início, achamos que o paciente fosse ficar um pouco ressabiado por ser atendido por um médico à distância, por mais que houvesse um técnico ao seu lado auxiliando a consulta. No entanto, as pesquisas mostraram que a qualidade na programação de um aparelho permanece igual”, afirma a professora.

“Nossa grande preocupação é a manutenção da qualidade de atendimento. O paciente vem em primeiro lugar”.

Deborah relata que, segundo dados do Ministério da Saúde, mais de 13 milhões de brasileiros possuem perda auditiva que requer maior atenção, ou seja, a utilização de aparelhos de correção. “A perda é de 40 dB na melhor orelha do paciente. Com essa perda, ele não consegue ouvir uma fala baixa, distante ou sem silêncio absoluto, causando uma queda na qualidade de vida da pessoa e na sua participação na sociedade”, explica a professora, alertando sobre um outro ponto importante sobre a  telessaúde, que é a possível rejeição. “A telessaúde não pode ser vista como uma panacéia e não é obrigatória para que profissionais e pacientes usem”.

Porém, as vantagens são grandes, como por exemplo troca de experiências e a articulação entre os profissionais. Eles podem se conversar mais rapidamente e conviver com diversas realidades, tanto aquele que atende em grandes centros médicos e em regiões metropolitanas, quanto aquele com limitações de recurso e que trabalham em regiões menos povoadas do país.

Casos

Para Deborah, dois casos específicos do atendimento via web ficarão marcados em sua memória. O primeiro por se tratar de um paciente na África do Sul, região mais distante que atuou, até agora. “Foi um atendimento bastante interessante, não só por causa da distância, mas pela barreira da língua. Apesar do entrave, o procedimento foi excelente e a comunicação saiu também pelo gestual”, conta a professora.

O segundo caso chega até a ser cômico. “Eu atendi o paciente presencialmente e algum tempo depois, por teleconferência. Ele não percebeu que eu era a mesma pessoa e se sentiu melhor atendido na web do que presencialmente. Não que ele tenha reclamado da primeira vez, mas disse que ficava mais tranquilo ao ser tratado por uma pessoa com qualificações como as minhas, a que estava pelo computador” resume Deborah. A docente lembra com risos que “ele falou de mim para mim mesma, comparando os dois atendimentos e preferindo o segundo por causa da tecnologia”.

O papel da FOB

A FOB tem lugar de destaque na telessaúde no Brasil. Desde o final dos anos 1990 e começo do 2000, diversas pesquisas vêm sendo feitas, principalmente na área da teleeducação, mesmo com limitações de estrutura e recursos.

Em 2004, a Faculdade sediou o primeiro encontro internacional de audiologia em que foi discutido a fundo o tema da telessaúde aplicada a tais profissionais. Neste mesmo ano, lançou, praticamente simultaneamente à academia americana, o programa completo de telessaúde em fonoaudiologia.“A FOB teve um papel pioneiro de pesquisas em telessaúde em fonoaudiologia e isso é reconhecido pelo volume de convites que os docentes daqui recebem”, ressalta Deborah. 

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