Pesquisa da EERP mostra que aceitar a esquizofrenia une a família com o adoecido

Início da doença é mais difícil para familiares por falta de informação e dificuldade em aceitar a situação.

Camila Ruiz / Assessoria de Imprensa da EERP

Pesquisa apresentada na Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP com portadores de esquizofrenia e seus familiares revelou que quando a família aceita a doença, o esquizofrênico se sente bem. O estudo da assistente social Maria Cristina Ferri Santoro aponta que o início da doença é o período mais difícil para os familiares, devido à falta de informação e à dificuldade em aceitar o que ocorre com o doente. Logo após, vem a fase da necessidade de paciência, equilíbrio entre independência e vigilância, e lidar com os avanços no tratamento.

Em relação ao futuro, os relatos indicam o apego a um sentimento de esperança. “Eles têm esperança na ciência, que se descubra a cura e, portanto no tratamento medicamentoso correto que promova a cura”, afirma Maria Cristina. “E em relação à responsabilidade pelo cuidado, os entrevistados também têm esperança de encontrar os recursos para o cuidado dentro da família e de seu contexto sócio-cultural.”

Segundo a pesquisadora, o estudo ressalta ainda a necessidade urgente de se ouvir o portador de transtorno mental e seus familiares sobre a responsabilidade da família de cuidar do adoecido. “O principal objetivo foi saber como as famílias constroem suas práticas de cuidado ao longo do tempo e para isso foram convidados portadores de esquizofrenia e seus familiares, que participam do Grupo em Uso de Medicações Antipsicóticas Atípicas (GRUMA) do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP”.

Maria Cristina destaca que entre os familiares participantes poucos ainda demonstram dificuldade para aceitar o diagnóstico de esquizofrenia. Porém, os familiares que demonstram esta dificuldade reconhecem que se conseguissem aceitar estariam sofrendo menos. “Observa-se nos relatos dos entrevistados que a família se vê como a primeira e única instituição de cuidado”, afirma.

Família

Para o estudo foram entrevistadas 26 pessoas, oito portadores de esquizofrenia e 18 familiares, representando 14 famílias que convivem com essa doença há mais de dez anos.  Para a coleta de dados a pesquisadora utilizou entrevista aberta, genograma (árvore familiar que representa a estrutura interna da família) e questionário sócio-demográfico, com idade, sexo, estado civil, escolaridade, profissão, composição familiar, moradia e renda mensal. “O genograma foi utilizado como estratégia de aproximação e preparo do ambiente da entrevista”, explica a pesquisadora.

A esquizofrenia é uma doença que se caracteriza pela dificuldade que a pessoa apresenta de diferenciar a realidade de suas crenças e percepções muito incomuns. Ela aparece normalmente entre o final da adolescência e começo da vida adulta e atinge cerca de 1% da população.  É um transtorno mental em que o paciente tem os sintomas de alterações do pensamento, alucinações, delírios e alterações no contato com a realidade.

A pessoa passa a acreditar que a realidade se apresenta de uma maneira diferente, suas idéias e pensamentos apresentam conteúdos que para ela são verdade, mas que não estão realmente acontecendo.  As percepções dos cinco sentidos também ficam modificadas, a pessoa passa a ter percepções sem que haja o estímulo externo. Sente cheiro e gostos diferentes em alimentos saudáveis, pode ter visões sem os objetos reais e pode ter formigamento e outras sensações no corpo.

Os pensamentos podem ficar confusos e a pessoa passa a ter uma perda da vontade para realizar suas atividades. Há uma dificuldade em expressar os sentimentos e emoções, passando a impressão de que perdeu estas capacidades. “A esquizofrenia é uma doença crônica, com tratamento por prazo indeterminado. O acompanhamento da família é um recuso fundamental para o tratamento”, alerta Maria Cristina. A dissertação de mestrado A trajetória de cuidado ao portador de esquizofrenia: narrativas familiares foi orientada pela professora Sueli Aparecida Frari Galera, no Programa de Pós-Graduação em Enfermagem Psiquiátrica da EERP e defendida em março.

Mais informações: (16) 3618-9997, e-mail mcrisferri@ig.com.br , com Maria Cristina Ferri Santoro 

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