Ação dos mediadores é fundamental em mostras de ciências

A pesquisadora Tassiana Fernanda Genzini de Carvalho, do Instituto de Física (IF) da USP, estudou a comunicação entre os mediadores, que conduzem as visitas na Estação Ciência, e o público.

Por Paloma Rodrigues

O trabalho dos mediadores da Estação Ciência da USP é importante para a compreensão do público sobre o conteúdo em exposição, mas a atividade acontece sem uma reflexão sobre o próprio discurso construído para informar os visitantes. A constatação vem de uma pesquisa realizada no Instituto de Física (IF) da USP. De acordo com a física Tassiana Fernanda Genzini de Carvalho, autora do estudo, essa reflexão acrescentaria muito na experiência de ambos, tanto do estudante de graduação, que atua como mediador na Estação, como do público, que teria um profissional melhor preparado para guiá-lo.

Os mediadores são estudantes de graduação de diferentes cursos da USP que comandam os grupos de visita por toda a Estação Ciência. A pesquisa analisou os recursos que eles usam durante seu trabalho, como os conceitos científicos, os sensos comuns e as simplificações, dentre outros. Tassiana gravou as mediações e depois assistiu a todas para conseguir entender a maneira como os estudantes trabalhavam. Ela diz que é natural que eles usem “sensos comuns” para tentar facilitar o entendimento das pessoas. O problema é que, ao fazer isso, muitas vezes fazem analogias erradas e passam alguns conteúdos de forma equivocada.

“Eu atentei para os momentos em que eles davam explicações envolvendo física, por exemplo. Um mediador fez uma analogia pra explicar o fenômeno da atração elétrica: disse que o corpo da estudante que servia como exemplo estava agindo como um imã e por isso atraia o papel. O conceito não está correto, já que o que ocorre é uma atração elétrica e não magnética”, esclarece.

Ela diz saber que a intenção do mediador é facilitar o entendimento do público e que, na verdade, ele sabe a diferença entre os conceitos, mas que não deveria fazer esse tipo de analogia, porque ela traz uma teórica simplificação, já que o público continuou não entendendo o que era atração elétrica, apenas entendeu um conceito errado no lugar. A orientadora do estudo foi a professora Jesuina Lopes de Almeida Pacca, do Instituto de Física (IF) da USP.

Interação

O mediador é fundamental na promoção da interação da exposição e do público. É ele quem realiza as experiências, quem convida os voluntários a participarem de experimentos e a entrarem em contato com o que está exposto. A pequisa ressalta que, sem ele, grande parte dos visitantes guardariam suas dúvidas, por simplesmente não terem sido instigados a pensar sobre tal efeito ou teoria ou por sua atenção não ter sido voltada para determinada parte da exposição.

“Quem visita o museu sempre lembra dos aspectos lúdicos que são promovidos pelo monitor, a Estação não consegue fazer isso sozinha. E esses aspectos são sim aprendizagem”, destaca a física. Para a formação do mediador, a Estação Ciência promove uma série de palestras e organiza apostilas escritas. Esse processo dura uma semana. A maioria das palestras é ministrada por professores da USP.

Mas Tassiana diz que a figura do mediador se forma realmente quando ele observa seus semelhantes atuando. “O novo mediador passa uma semana observando o trabalho dos demais. Ele não sabe se o método do outro mediador é eficaz ou não, mas ele o observa e percebe um padrão de atuação, então ele vai moldar o seu trabalho pelo trabalho dos outros mediadores mais experientes”, diz.

Tassiana também fala baseada em sua própria experiência, pois trabalhou como mediadora na Estação Ciência entre 2008 e 2009, durante o sexto e sétimo semestre de sua graduação em física. A pesquisadora diz que esse foi um dos motivos que a incentivaram abordar este tema na pesquisa, pois ela acredita que o trabalho do mediador é muito importante para a compreensão do público sobre a Estação, mas que esse trabalho acontece sem uma reflexão sobre o próprio discurso construído.

Essa reflexão poderia ser promovida por um orientador e por discussões em grupos. Tassiana diz que refletir em pares também pode ser muito eficaz. “Essa proposta só se efetiva em parceria com a coordenação e direção da Estação Ciência, uma vez que esse processo demandaria uma infraestrutura, pessoas especializadas em fazer a formação”. Isso acrescentaria muito no trabalho do mediador e ele poderia fornecer uma experiência ainda mais rica e completa para o visitante da Estação Ciência.

Mais informações: email tassiana@usp.br, com Tassiana Fernanda Genzini de Carvalho 

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