MAC recebe exposição que reconta história das bienais de São Paulo

A exposição "Um Outro Acervo do MAC USP: Prêmios-Aquisição da Bienal de São Paulo, 1951-1963" traz 115 obras de artistas como Robert Adams, Ralph Du Casse e Armando Morales, adquiridas nas bienais dos anos 1950 e 1960 e pertencentes ao acervo do antigo Museu de Arte Moderna de São Paulo.

O Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP abre, a partir de sábado (25), a exposição Um Outro Acervo do MAC USP: Prêmios-Aquisição da Bienal de São Paulo, 1951-1963. Com curadoria da professora Ana Magalhães, a exposição traz 115 obras de artistas como Robert Adams, Ralph Du Casse e Armando Morales, adquiridas nas primeiras bienais do século passado e pertencentes ao acervo do antigo Museu de Arte Moderna (MAM) de São Paulo.

Segundo Ana, as obras são “entradas transversais” de artistas menos conhecidos, que cumpriram um papel importante no debate sobre a arte moderna no período. “O acervo é muito mais amplo do que aquele conhecido de obras primas que são sempre mostradas nas exposições. O objetivo era justamente mostrar o conjunto maior”, explica a curadora.

Nesse sentido, a exposição pretende realizar uma espécie de reconstrução do antigo MAM. Criado em 1948, o MAM começou a receber a Bienal de Arte Moderna de São Paulo a partir de 1951. Nessa época, o museu tinha a dupla função de expor as obras e organizar as bienais. “Isso gerou uma crise interna gerada pelo trabalho de organizar as bienais. Na década de 1950 isso começou a se refletir no setor financeiro”, explica a curadora. “Em dezembro de 1962 o conselho dissolveu o museu e transferiu os acervos para a USP”. Para abrigar as obras vindas do MAM, o MAC foi criado em abril de 1963, e para organizar as bienais de arte moderna, foi fundada a Fundação Bienal de São Paulo.

Prêmios e destaques

Composta por obras premiadas, a exposição leva o visitante a compreender como funcionam as titulações concedidas durante as bienais. O regime de premiações se dividia entre duas categorias: Os prêmios-regulamentares (os chamados grandes prêmios) e os prêmios-aquisição.

Os prêmios-regulamentares eram dados ao conjunto da obra apresentada por um artista na exposição, distribuídos entre estrangeiros e brasileiros divididos em 3 categorias: pintura, escultura e gravura ou desenho. “Essa categoria não implicava a doação da obra ou do conjunto da obra ao museu, mas podia haver negociação para que ela passasse ao acervo do antigo MAM”, revela Ana.

Já os prêmios-aquisição, principais artigos desta exposição, eram definidos pela diretoria artística e pelo júri do prêmio-regulamentar. As categorias escolhidas permaneciam as mesmas, porém, após a escolha, essas obras eram adquiridas por meio de patrocínios para composição do acervo do museu. “Esses prêmios tinham um sentido maior de permanência, já que eram obras pensadas para o próprio acervo”, explica a curadora.

“Os prêmios-aquisição ajudaram a construir a ideia de preservação da memória do que era a arte moderna naquele momento”.

De acordo com a curadora, os pontos comuns das produções artísticas expostas incluem a questão da abstração geométrica dos anos 1950 (influência do concretismo) e a da abstração informal, que privilegiava os aspectos subjetivos da expressão. “Elas se relacionam também com outras duas vertentes modernistas: a revisão do primitivismo e a retomada do surrealismo, correntes que caíram no ostracismo durante o entre-guerras e que foram retomadas após a Segunda Guerra”.

Uma das obras em destaque na exposição, exposta na primeira bienal de São Paulo, em 1951, é a do artista Robert Adams, personagem importante no desenvolvimento da gravura na Inglaterra no final década de 1940. Adams veio para a bienal na figura de representante inglês. “A obra é uma pequena litografia em papel e se relaciona com as questões da arte abstrata na Inglaterra”, explica a professora.

Outro nome destacado é o alemão Fritz Winter, formado na segunda fase (em Dessau) da Bauhaus – escola de design, arquitetura e artes plásticas sediada na Alemanha no início do século 20. O artista representou a Alemanha na Bienal de 1953 após ser capturado na Segunda Guerra Mundial e levado por soviéticos para uma prisão na Sibéria, sendo libertado no final da década de 40. “Winter representa a tradição da Bauhaus. É um legítimo herdeiro desta poética”, define Ana.

A artista brasileira Maria Martins, exposta como prêmio-regulamentar, participou da bienal de 1955 e ganhou evidência devido ao papel diplomático desempenhado nas bienais dos anos 1950. “Ela viajou em 1951 com Yolanda Penteado e, por conta de seu conhecimento do meio artístico internacional, fez o convite aos países para que eles participassem da Bienal de São Paulo”, revela.

“Mais do que um testemunho do que o que ocorreu nas bienais de São Paulo, essas obras são um testemunho da formação de um acervo”, afirma a curadora. “Não é o museu que pode espelhar o que era a bienal, é a bienal que criou a permanência”.

A mostra Um Outro Acervo ficará aberta ao público até 28 de julho de 2013, de terça a domingo, das 10 às 18 horas no MAC Ibirapuera, localizado na Av. Pedro Álvares Cabral, no bairro Moema em São Paulo. A entrada é gratuita.

Mais informações: (11) 5573-9932 / 5573-5255, site www.mac.usp.br/mac

Scroll to top