Banco de Tecidos do HC dobra capacidade para transplante de pele

O Banco é o responsável pela captação, preparo e armazenamento, por até dois anos, da pele a ser transplantada para vítimas de queimaduras, casos de feridas ou lesões na pele, provocadas tanto por traumas, quanto tumores e doenças congênitas.

Um pequeno espaço incrustado no gigantesco complexo hospitalar do Hospital das Clínicas é um dos maiores responsáveis pelo suprimento de tecidos para todo o País. No nono andar do Instituto Central do HC, está o Banco de Tecidos, que dedica-se a captação, preparo e armazenamento – por até dois anos – da pele a ser transplantada para vítimas de queimaduras, feridas ou lesões na pele, provocadas tanto por traumas, quanto tumores e doenças congênitas.

Duplicando sua capacidade de atendimento em maio deste ano, o Banco passou por uma série de obras estruturais que permitiram sua ampliação, com investimentos de R$ 940 mil. “Hoje em dia temos dois bancos apenas que suprem todo o país em relação à pele. O que é um número muito pequeno”, salienta o cirurgião André Paggiaro, que além de responsável pelo Banco também é médico assistente do Departamento de Cirurgia Plástica do Hospital.

De acordo com os dados da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos, somente no primeiro semestre de 2009, foram realizados no país 14.741 transplantes de tecidos. No mesmo período, em 2012, esse número subiu para 19.266. Para o Ministério de Saúde, especificamente os casos de queimaduras representam um agravo significativo à Saúde Pública. Em 2011, foram 1.437 internações em Unidades de Terapia Intensiva (UTI) de Queimados e a taxa de óbito foi de quase 18% (258) das internações. No total, o País conta com 45 unidades hospitalares habilitadas em assistência a vítima de queimaduras, espalhadas pelas cinco regiões do País.

Somente no HC são prestados cerca 530 atendimentos por mês a queimados provenientes de diversas regiões brasileiras. No total, são feitos 6,3 mil atendimentos ao ano. Desses casos, muitos precisam urgentemente de transplantes que são possibilitados pelas técnicas de preservação lá desenvolvidas.

Como funciona o Banco?

“O carro chefe é a pele”, explica Paggiaro. O banco prepara a pele doada para que ela seja transplantada o quanto antes. Geralmente, os pedidos surgem em caráter de urgência – exige-se rapidez especialmente para vítimas de queimados. Conforme relata o médico, o objetivo do tratamento nesses casos é “retirar o tecido necrótico e substituir por um tecido novo, e o transplante é a principal opção para pacientes que tiveram grande parte do corpo queimado”.

O processo de envio da pele é iniciado a partir de um pedido formal. Solicita-se à Central o quanto de pele vai ser necessário para tratar um determinado paciente. Por meio da intermediação do Sistema Nacional de Transplantes, o Banco encaminha o material para o local que o solicitou. Todo o transporte é da responsabilidade do Sistema Nacional de Transplantes e de seus convênios com companhias aéreas.

Ampliação e pesquisa

Até 2011, o Banco possuía apenas duas salas de processamento, e hoje, após os investimentos do Governo do Estado, ganhou quatro salas, ampliando sua capacidade e permitindo à equipe processar o dobro de doadores. “Agora também podemos processar diferentes tipos de tecido com o dobro da velocidade”, explica Paggiaro.

Além da pesquisa envolvendo o processamento do tecido (o que garante a qualidade do tecido processado, armazenado, esterilizado e irradiado), o Banco também ocupa a dianteira no que diz respeito aos tratamentos inovadores para diferentes diagnósticos, associando seus estudos com campos em crescimento, como o da terapia celular.

A terapia celular consiste na substituição de células doentes por células saudáveis, e é um dos potenciais usos das células-tronco no combate a doenças. Em teoria, qualquer doença em que haja degeneração de tecidos poderia ser tratada através da terapia celular.

Dentre os tecidos armazenados no Banco, Paggiaro destaca o âmnio (que é uma membrana que constitui a bolsa amniótica o qual envolve e protege o embrião, também chamado de tecido da placenta) e a fáscia (que é um conjunto de um grupo de músculos envolvido por um tecido fibroso – o invólucro fascial).

A partir do âmnio é possível recuperar, por exemplo, pacientes que sofreram trauma na região da córnea. “Uma vez aplicado sobre a lesão o tecido estimula a cicatrização a partir de uma série de reações”, explica o médico. Já a fáscia pode ser utilizada para tratamento de traumas abdominais, feridas abertas. “Pode-se tentar substituir uma fáscia de abdômen por um tecido implantado até que o paciente consiga fechar aquela ferida”, elucida.

Mais doadores

Para Paggiaro, pela diversidade de tecidos armazenados e sua multiplicidade de aplicações, o Banco do HC pode ser considerado uma referência no País. Atualmente, a unidade é constituída por uma equipe de seis médicos captadores, um enfermeiro, uma biomédica, uma técnica de enfermagem e uma secretária.

Os doadores que ajudam a compor o conteúdo do Banco são os mesmos que doam rins, fígado, pulmão – todos doadores cadáveres. A retirada do tecido é feita como uma cirurgia tradicional e não causa deformação. Ela é realizada em áreas que não ficam expostas, como a região posterior das coxas e dorso.

Apesar da simplicidade do processo, ainda são poucos os brasileiros registrados como doadores de pele. Para o cirurgião plástico, existe atualmente uma preocupação em se aumentar o número de doadores para que cada vez mais pacientes com necessidades de transplante e tratamento possam ser atendidos.

Mais informações: email andrepaggiaro@yahoo.com.br, com o médico André Paggiaro

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