Concurso no ICB premia imagens da vida microscópica

A competição "Life Sciences" premiou com viagem para a Alemanha, microscópio e câmera digital as melhores microfotografias enviadas por pesquisadores.

Microscópios, ao mostrarem o que o olho humano não consegue enxergar sozinho, parecem abrir a porta para um universo paralelo. Cientistas com uma veia artística puderam compartilhar esse fantástico mundo com o público através do concurso Life Sciences, do Instituto de Ciência Biomédicas (ICB) da USP.

Competições de microfotografia já são consagradas no exterior, como a Small World, da Nikon, que acontece há 38 anos. A professora Glaucia Santelli, que ajudou na organização, pensou: “por que não fazer uma nossa?”. Assim, idealizado pelo professor Rui Curi, diretor do Instituto, o primeiro concurso do gênero do ICB buscou o apoio da Carl Zeiss, empresa líder na indústria óptica e opto-eletrônica. Da parceria vieram a comissão julgadora, com membros da USP e da empresa.

No dia 1 de novembro foi divulgado o resultado da competição, que deu ao primeiro colocado, Alessandro Cosci, uma viagem para o Demo Center da Carl Zeiss, em Munique, Alemanha, ao segundo, Paulo Henrique de Matos Alves, um microscópio Zeiss – Primo Star Binocular e ao terceiro, Adriano Polican Ciena, uma câmera Sony com lentes Zeiss.

A competição foi aberta a nível internacional, de participação gratuita, e recebeu microfotografias até o dia 30 de setembro. As capturas então ficaram disponíveis para votação cultural (sem interferir na classificação da competição) no site do ICB durante o mês de outubro. A estratégia deu muita visibilidade para os concursos internacionais, e o ICB decidiu adotá-la, justifica Glaucia. O dono da foto que recebeu mais votos irá ganhar um livro científico de um professor do ICB.

Para o dia 30 de novembro, está também programada uma exposição no ICB com as imagens do Life Sciences.

Fotomicrografia

Existem vários tipos de microscópios e, portanto, diferentes tipos de imagens produzidas. Há os de lupa, que têm uma ampliação menor, possibilitando, por exemplo, ver o corpo inteiro de um inseto. O eletrônico tem um zoom poderoso, mas só produz imagens em preto e branco. Há ainda os de luz, os focais, os de fluorescência, os com varredura a laser – que permitem modelos em 3D – entre outros. O Life Sciences aceitou inscrições de imagens de qualquer um deles, com escala (índice de ampliação) livre.

Glaucia, que leciona no Departamento de Biologia Celular e do Desenvolvimento, explica que normalmente os espécimes são transparentes, então é preciso colorir. A coloração se dá por uma reação química planejada. “O corante de DNA só vai mostrar o cromossomo e a cromatina do núcleo” exemplifica a docente.

Para gravar a imagem, é preciso adicionar ao microscópio um aparelho digital extra. Esses geralmente vêm com um programa “mais preciso que o photoshop”, segundo a professora, no qual é possível fazer medições e uma série de análises quantitativas das estruturas, afinal “só ver a imagem não é suficiente”.

Usamos o microscópio para responder
uma pergunta científica, só que junto com
isso vem um monte de coisa bonita.

Ela afirma que “a imagem é essencial para a pesquisa em biologia, mas é só um subproduto”. O objetivo principal é testemunhar reações e formas às quais não temos acesso sem a ajuda das lentes. “Usamos o microscópio para responder uma pergunta científica, só que junto com isso vem um monte de coisa bonita”, declara.

Células fotogênicas

Beatriz Cortez, pesquisadora do ICB que teve duas imagens selecionadas para exposição, faz eco à professora. “Acho as imagens lindas, não só porque são bonitas mas porque respondem bastante coisa” diz. Ela afirma que passou a enxergar o mundo de forma diferente depois que começou a trabalhar com microscópios. “Fica tudo muito diferente, você começa a ver que é tudo feito da mesma coisa”, filosofa, encantada com a quantidade de informação existente dentro das coisas pequenas.

As imagens são lindas, não só
porque são bonitas mas porque
respondem bastante coisa.

Esse caráter informativo foi critério de avaliação no concurso, assim como a qualidade técnica, analisando-se iluminação, foco e originalidade do material. Glaucia explica que um esqueleto de célula é muito bonito, porém comum. Já o músculo de um inseto é bem difícil de ser capturado. Por isso a comissão técnica teve participação de cientistas, além de artistas para julgar o impacto visual.

“É uma mistura de quem não entende o que a imagem quer dizer e quem mandou, que sabe o que significa” aborda Beatriz sobre a reação diante das fotos. O Setor de Comunicação Visual do ICB, junto com a Zeiss, irá abrir uma exposição com as imagens do Life Sciences, no dia 30 de novembro. Será no saguão da Diretoria, no edifício ICB III, onde também ocorrerá a cerimônia de premiação. Os painéis ficarão lá até janeiro, e depois a exposição será itinerante, para outros locais do ICB.

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