Urbanização de favelas deve valorizar o espaço público, aponta estudo da FAU

A arquiteta Marcia Grosbaum, da FAU, elaborou uma matriz de indicadores de avaliação, uma espécie de programa com pontos que devem ser abordados durante a elaboração de um projeto de urbanização.

Paloma Rodrigues / Agência USP de Notícias

Processos de urbanização de favelas devem dar importância para a criação de lugares públicos para a integração social da comunidade. A indicação vem de um estudo da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP. A arquiteta Marcia Grosbaum elaborou uma matriz de indicadores de avaliação, uma espécie de programa com pontos que devem ser abordados durante a elaboração de um projeto de urbanização.

As cinco propostas que compõem a matriz são: inserção social, inserção ambiental, áreas de encontro e lazer, dinâmica de uso dos espaços públicos, inserção da moradia e inserção urbana. Cada um deles especifica os indicadores importantes a serem considerados, como por exemplo no item “inserção social” o de atentar para o vínculo que os moradores da favela têm com a terra, para a oferta de serviços públicos no entorno e para a qualidade e abrangência de seus atendimentos.

Para Marcia, o ponto que mais precisa ser priorizado atualmente é o que se refere às áreas de encontro e lazer. “O que víamos nas primeiras iniciativas de urbanização de favelas era um foco no saneamento básico. Nas últimas décadas, o espaço público começou a ser pensado, mas isso ainda precisa ser expandido. Ele é fundamental como espaço de vida social da comunidade e também como opção de lazer”, diz ela.

Análise de casos

As áreas de favelas se caracterizam por serem densamente e precariamente ocupadas. Cada vez mais verticalizadas e insalubres, essas áreas não passam por um progresso que regule essa ocupação. Isso faz com que beiras de córregos, áreas de risco e áreas públicas também sejam alvo dessa população que, sem alternativa de moradia digna, migra para a periferia. Nesse processo, áreas de convívio público e de troca de relações sociais se perdem. Mas Marcia diz ser este ponto reversível.

Foi estudando dois casos localizados em São Paulo que a urbanista conseguiu elaborar a matriz de indicadores. Márcia estudou o caso do Jardim Iporanga/ Esmeralda, em Cidade Dutra, na zona sul da cidade. A comunidade fica às margens da Represa Guarapiranga e causava muita poluição para as águas do reservatório.

O projeto de urbanização utilizou as áreas de tratamento de esgoto e água para fazer locais de convívio da população. “Vimos que o papel do urbanista foi fundamental, poque pensou no espaço como um instrumento integrador dos diversos sistemas: redes de água, esgoto, drenagem, coleta de lixo, circulação de pedestres e equipamentos de lazer.” Como exemplos de alternativas encontradas na comunidade, podemos citar canaletas que viraram piscininhas, áreas de nascentes que, em vez de serem cobertas e encanadas, foram transformadas em fontes que integram praças, dentre diversos outros.

Esse trabalho, que é complexo e envolve diversas disciplinas, tem de ser coordenado pelo urbanista. A matriz é pensada para esse profissional, como um roteiro que ele pode seguir para repensar a estrutura das favelas e tentar solucionar os problemas da disposição dos seus espaços públicos. “O papel do engenheiro de drenagem e do engenheiro geotécnico é importantíssimo, pois resolvem os problemas específicos de drenagem e de estabilização dos solos. Mas a comunidade precisa ser pensada sob um contexto social, que mostra a necessidade de integração e articulação. Esse olhar integrado é capaz de melhorar a qualidade de vida urbana.”

Mais informações: email magrosbaum@uol.com.br

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