De mito à ciência – os fatos da Teoria Gaia em livro lançado no IEA

Em oposição à mistificação da teoria, o professor José Eli da Veiga, do Instituto de Relações Internacionais, reuniu cientistas para explicá-la.

USP Online / Agência Universitária de Notícias

A temperatura da Terra é amena porque tem vida ou tem vida porque é amena? Essa pergunta é como a clássica quem veio primeiro: o ovo ou a galinha?. Segundo a geóloga Sonia Maria Barros de Oliveira, impossível de responder. A relação entre o ambiente físico-químico e a vida orgânica no planeta é o que aborda a teoria Gaia, proposta há 40 anos pelos cientistas James Lovelock e Lynn Margulis, tema do livro Gaia: de mito a ciência (Editora Senac, 176 páginas), lançado dia 27 de novembro no Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP.

O volume foi organizado pelo professor do Instituto de Relações Internacionais (IRI) da USP,  José Eli da Veiga, que esteve presente na mesa-redonda de lançamento, acompanhado por Sonia e o jornalista científico Marcelo Leite. “Cansei de ver interpretações anti-científicas da teoria Gaia”, contou Eli, que lida há muito tempo com questões de sustentabilidade e frequentemente se deparava com visões animistas da teoria crença de que todas as coisas, animais, plantas, rios, montanhas, estrelas, entre outras, têm uma espécie de inteligência.

Para disponibilizar uma análise laica e objetiva da teoria, Veiga reuniu os biólogos Charbel Niño El-Hani, Nei Freitas Nunes-Neto e Ricardo Santos do Carmo, todos da Universidade Federal da Bahia, que redigiram um capítulo sobre sua trajetória histórica; a professora do Instituto de Geociências (IGc) da USP, Sonia de Oliveira, que evidencia a relação entre clima e vida; e o biólogo Mauro Rebelo, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que aprofunda o pensamento de Lovelock num texto mais voltado à divulgação científica.

Gaia: do grego, Mãe Terra

Sonia apresentou uma das formulações da hipótese de que “a Terra é um sistema que se auto-regula a favor da vida”. Segundo a professora, esse é ponto mais irrita os cientistas. “Quando se fala a favor da vida, isso tem um sabor teleológico [estudo das finalidades, propósitos] que não faz parte da formação científica”.

Analisando textos científicos consolidados dentro da comunidade científica, percebe-se a influência da teoria Gaia, por exemplo, na Ciência dos Sistemas da Terra (CST), que mostra como a Terra e os sistemas orgânicos co-evoluíram. Nascida da Teoria Tectônica de Placas, que vai entender o funcionamentos dos vulcões, terremotos e relevos, a CST enxerga a Terra como sistema integrado. “O clima como produto da inter-relação entre oceanos, atmosfera, biosfera e desses três com a litosfera”, explicou Sonia.

Ainda, para ela, os ciclos biogeoquímicos seriam uma tradução da ideia de Gaia. Ela expôs a história da formação da nossa atmosfera, e afirmou que a liberação de gás oxigênio, há 2,3 bilhões de anos, chamado surto de oxidação, está intimamente ligado com o surgimento da vida e até de alguns minerais.

Outro ponto importante é a estabilidade climática que o Planeta apresenta ao longo de sua história. A geóloga faz uma comparação com um termostato, que percebe a temperatura externa e age para mantê-la ideal, num equilíbrio dinâmico.

Quanto à existência de um relação entre o ambiente externo e a vida orgânica não há dúvidas. O problema surge em algumas interpretações dadas à teoria Gaia, principalmente quanto à intencionalidade. “A ciência moderna nasce em oposição à noção de finalidade anteposta, porque não dá para demonstrar, isso é metafísica”, falou o jornalista Marcelo Leite. Para ele, “nós vamos muito mais longe se adotarmos uma visão racionalista sobre o meio ambiente”.

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