Enzima indica risco cardiovascular em adolescentes obesos, revela pesquisa da FSP

Identificação da enzima poderá ser utilizada como marcador de risco cardiovascular

Júlio Bernardes / Agência USP de Notícias

Adolescentes obesos analisados em pesquisa da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP apresentaram maior atividade da enzima Lp-PLA2, indicando risco cardiovascular mais elevado quando comparados aos jovens com peso normal. O estudo da nutricionista Isis Tande da Silva também aponta que obesos possuem no organismo menores concentrações das vitaminas A (beta-caroteno) e E (alfa-tocoferol), que tem ação antioxidante, e sugere políticas de orientação para melhorar os hábitos alimentares dos adolescentes.

“A ação da Lp-PLA2 ainda não é totalmente conhecida, mas existem estudos que mostram sua maior concentração e atividade em casos de eventos cardiovasculares, como o infarto”, afirma a nutricionista. Isis e o grupo de pesquisa da profesora Nágila Raquel Teixeira Damasceno, da FSP, realizaram uma avaliação nutricional em 2.746 adolescentes entre 10 e 19 anos em cinco escolas públicas da cidade de São Paulo.

Durante esse processo foram selecionados 242 jovens, divididos em três grupos: eutróficos (saudáveis), sobrepesos e obesos. “A taxa de adolescentes com excesso de peso encontrada foi similar a apresentada na Pesquisa de Orçamento Famíliar (POF), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2010, que foi de 21,5%”, conta. “Além da coleta de sangue, foram feitas medidas antropométricas (peso, altura, circunferência da cintura, percentual de gordura corporal) e aplicados três recordatórios alimentares, em que os participantes tinham que dizer tudo o que comeram em três dias não consecutivos.”

As amostras de sangue foram usadas para medir a atividade da Lp-PLA2 no plasma e verificar os índices de colesterol, insulina, glicose e antioxidantes plasmáticos. “A análise revelou que a atividade da enzima é maior entre os adolescentes com obesidade do que nos demais”, destaca Isis. Os obesos apresentaram maiores níveis de insulina, e alguns já tinham diabetes. “Eles possuíam ainda menores concentrações de colesterol HDL, importante para a proteção cardiovascular, parâmetro que também mostrou-se baixo em alguns jovens saudáveis.”

Antioxidantes

Os adolescentes com obesidade apresentaram menores níveis plasmáticos das vitaminas A (betacaroteno) e E (alfa-tocoferol), que tem ação antioxidante. “Ambas, em especial o alfa-tocoferol atuam como protetores contra a oxidação das frações lipídicas (gorduras)”, descreve a nutricionista. “A vitamina A é encontrada em vegetais de coloração alaranjada e avermelhada, enquanto a vitamina E está presente nas nozes, castanhas e sementes, alimentos pouco consumidos entre os entrevistados.”

Isis constatou que os hábitos alimentares dos jovens pesquisados são ruins, tanto entre os que tem sobrepeso e obesidade, quanto entre os saudáveis. “Frutas e legumes são pouco consumidos, ao contrário dos produtos industrializados”, ressalta. “Muitos se alimentam de forma errada nas cantinas das escolas e quando há relatos de refeições feitas em casa, há forte presença de frituras e alimentos ricos em gordura saturada e açúcares simples. Também é frequente o consumo de fast-food, apesar de serem alunos de escolas públicas.”

Para a nutricionista, é preciso implantar políticas públicas que direcionem os adolescentes para uma alimentação saudável. “Além das orientações nas escolas, é preciso incluir indicações nutricionais nos rótulos e na publicidade dos alimentos”, alerta. A pesquisadora aponta que dentro de alguns anos a identificação da enzima poderá ser utilizada como marcador de risco cardiovascular, associada aos marcadores clássicos, aprimorando a atendimento médico e o tratamento nutricional. “Isso dependerá do resultado de novas pesquisas, da redução dos custos dos kits para testes de Lp-PLA2 e de sua difusão pelas sociedades médicas e de nutricão.”

A pesquisa é descrita na tese de doutorado Associação da atividade de Lp-PLA2 e de antioxidantes lipossolúveis com marcadores cardiometabólicos em adolescentes, defendida na FSP em outubro de 2011, sob a orientação da professora Nágila Raquel Teixeira Damasceno, do Departamento de Nutrição da FSP.

O trabalho foi premiado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) com o Prêmio Capes de Teses 2012, na categoria “Saúde Coletiva”. As principais conclusões do projeto estão resumidas no artigo “Influence of obesity and cardiometabolic makers on lipoprotein-associated phospholipase A2 (Lp-PLA2) activity in adolescents: the healthy young cross-sectional study”, aprovado para publicação na revista científica Lipids in Health and Disease, que deverá ser publicado neste ano.

Mais informações: email isistande@usp.br, com Isis Tande da Silva

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