USP também participa da Campus Party com inovação e conhecimento

São esperados para esta edição oito mil visitantes que, ao longo de cinco dias, participarão de debates, palestras e oficinas sobre inovação, ciência, cultura e entretenimento digital.

Colaborou: Denis Pacheco

A Campus Party reúne, onde quer que seja realizada, aficionados pelo mundo digital. No Brasil, desde sua primeira edição, quando atraiu três mil “campuseiros” em 2008, ela se tornou o principal acontecimento tecnológico do país. Para a edição deste ano, são esperados oito mil visitantes que, desta segunda (28) até sexta-feira (1) participarão de debates, palestras e oficinas sobre inovação, ciência, cultura e entretenimento digital.

Apesar de seu caráter inicialmente underground, a Campus Party tem conseguido trazer também o conhecimento acadêmico produzido nas universidades. Diversos docentes e alunos de pós-graduação da USP participam desta edição do evento.

“A Campus Party é mais focada no agrupamento de pessoas de todos os tipos que gravitam e vivem 24 horas o mundo digital. Aqui no Brasil, a criação de mesas e workshops tem sido um caminho que melhora, ano a ano, a discussão sobre inovações ou, pelo menos, ajuda a plantar sementes para discussões mais aprofundadas em fóruns mais especializados”, comenta Elisabeth Saad, professora da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP.

Conhecimento e soluções

Elisabeth fará parte da mesa Jornalismo Reloaded, cuja ideia é trazer para o país a discussão sobre uma forte tendência que se instala no jornalismo digital – especialmente no Estados Unidos – das inovações em termos de conteúdo, produtos e serviços serem geradas fora do âmbito de funcionamento da grande mídia. Serão abordados também os motivos pelos quais no Brasil existe uma enorme dificuldade de este processo se estabelecer. De acordo com a professora, a força dos conglomerados locais ainda é grande. “Gostaríamos que todos pensassem fora da caixa e gerassem novos fazeres para o jornalismo, sem depender das grandes marcas. Justamente para estimular esse movimento, que deve partir dos jovens, após a mesa será ministrado um workshop sobre Design Thinking”, completa Elisabeth.

Gostaríamos que todos pensassem fora da caixa e gerassem novos fazeres para o jornalismo, sem depender das grandes marcas. (Elisabeth Saad)

Ainda na área de comunicação, o professor Luli Radfahrer, também da ECA, comentará a respeito da “morte do instante decisivo” na fotografia, termo criado e posto em prática pelo fotógrafo Henri Cartier-Bresson. “Pessoas caçam o pato com metralhadora agora”, brinca o professor para se referir às mudanças que a popularização da câmera digital desencadeou no mundo da fotografia. “Todo mundo está pegando cenas do cotidiano e aquela teoria de ‘instante decisivo’ de Bresson morreu, porque agora todos capturam os mais diversos momentos decisivos. A relação com a fotografia é completamente diferente hoje e demanda uma outra postura ao encará-la”, explica Radfahrer.

Pessoas caçam o pato com metralhadora agora. (Luli Radfahrer, sobre a forma digital de fotografar)

Ismar Soares, professor do Núcleo de Comunicação e Educação (NCE) da ECA, e supervisor do Projeto Mídias na Educação do Ministério da Educação, será um dos palestrantes da mesa “Educomunicação e inclusão social pela tecnologia”. Pela definição do programa do evento, a Educomunicação propõe o encontro da educação com a comunicação multimídia, colaborativa e interdisciplinar. A metodologia pode ser utilizada por estudantes e professores de qualquer área, envolvendo videogames, softwares de aprendizagem online, podcasts, blogs, fotografia, e vídeos.

Tecnologia e ciência também andam de mãos dadas. Na palestra Biologia Sintética: Hackeando Organismos Vivos, Carlos Hotta, do Departamento de Bioquímica do Instituto de Química (IQ) da USP, fala sobre algo que acredita poder gerar mudanças tão grandes na sociedade quanto o surgimento dos computadores: a Biologia Sintética. “É uma área nova da ciência que tenta juntar princípios da biologia molecular e da engenharia a fim de gerar organismos com aplicações tecnológicas. Acredito que ela vá ganhar cada vez mais espaço em nossas vidas”, comenta o professor.

A Biologia Sintética tenta juntar princípios da biologia molecular e da engenharia para gerar organismos com aplicações tecnológicas. (Carlos Hotta)

Além de professores, alunos da USP também marcam presença na “festa”. William Colen, mestrando do Instituto de Matemática e Estatística (IME), vai falar sobre o Corretor Gramatical CoGrOO – um corretor de código aberto que pode verificar erros gramaticais em textos e é projeto do Centro de Competência em Software Livre (CCSL) da USP – e como ele pode ser usado como ferramenta de desenvolvimento no processamento da língua portuguesa. O corretor já auxilia diversas pesquisas dentro da USP, como traduções e a classificação automática de laudos médicos (em parceria com o Hospital A.C. Camargo).

Ganhos conjuntos

A USP, como uma Universidade pública e produtora de conhecimento, tem muito a contribuir com a Campus Party. Este é o consenso entre professores e alunos participantes. Para Carlos Hotta, pesquisadores devem ajudar a sociedade a entender os potenciais e os impactos de novas tecnologias. Willian Colen e Elisabeth Saad concordam que a USP pode enriquecer o evento, principalmente com inovação.

O Brasil, de acordo com Colen, possui um grande potencial de crescimento na área de tecnologia da informação e a Universidade tem o papel de desenvolvedora das pesquisas que fomentarão esse desenvolvimento. Ele ressalta ainda que existem grupos de estudos dentro da USP pensando justamente sobre tecnologia e sociedade, e cita o próprio CCSL. “Nele, professores, alunos e pesquisadores discutem software livre, problemas relacionados a patentes de software, ciência aberta, entre outros temas.

A relação entre o mundo acadêmico e a Campus Party pode ser positiva também na outra via.Um grande encontro como a Campus Party oferece oportunidade grupos como o CCSL exporem suas ideias para uma grande audiência, como destacao mestrando. Além disso, esse tipo de evento, diferentemente dos eventos acadêmicos a que está acostumado, é uma boa oportunidade de se levar a ciência produzida dentro da Universidade direto para um público-alvo produtivo. “É uma via de duas mãos: eles se beneficiam em conhecer novidades vindas da academia e nós descobrimos os anseios e necessidade dessa comunidade. Ainda temos um feedback interessante sobre a nossa produção”, afirma o aluno.

É uma via de duas mãos: eles se beneficiam em conhecer novidades vindas da academia e nós descobrimos os anseios e necessidade dessa comunidade. (Willian Colen)

Hotta pensa na mesma direção. “A Biologia Sintética está associada com um movimento de se fazer ciência independentemente da academia e de empresas”, explica. Assim, ele acredita que a Campus Party agrega pessoas que com potencial interesse em fazer parte deste movimento.

Que caiba a “nós da USP nos envolvermos cada vez mais no evento”, recomenda Elisabeth, para que tal interação se torne ainda mais enriquecedora.

Serviço

Campus Party 2013 – São Paulo
De 28 de janeiro a 3 de fevereiro, das 10 às 22 horas no Parque do Anhembi (Av. Olavo Fontoura, 1209, São Paulo). A entrada custa de R$ 150,00 a R$ 300,00Informações detalhadas sobre aquisição de ingressos estão na página do evento.

Foto da Homepage: Cristiano Sant’Anna / indicefoto

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