Pesquisador da FMUSP estuda estimulação magnética como método para reduzir consumo de cocaína

Ao agir sobre as regiões do cérebro responsáveis pela fissura, o método conseguiu diminuir o consumo de cocaína dos pacientes tratados em até 60%.

Júlio Bernardes / Agência USP de Notícias

A técnica de estimulação magnética transcraniana de repetição consegue reduzir o desejo intenso (fissura) de consumir cocaína em dependentes da droga. Ao agir sobre as regiões do cérebro responsáveis pela fissura, o método conseguiu diminuir o consumo de cocaína dos pacientes tratados em até 60%. Os resultados são de uma pesquisa realizada na Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) pelo médico psiquiatra Philip Leite Ribeiro.

Para realizar a estimulação, é utilizada no paciente uma bobina que produz um potente campo magnético que, oscilando, gera uma corrente elétrica. “O campo magnético produzido é pontual, mas extremamente potente”, diz Ribeiro. “A corrente atravessa o crânio e age no sistema nervoso central, realizando a modulação do cérebro de forma não invasiva.”

O médico relata que os estímulos elétricos gerados despolarizam os neurônios (células do sistema nervoso). “Eles atingem regiões que estão diretamente ligadas à modulação da fissura, que são a área ventral tegmental anterior, o giro cingulado anterior e o córtex orbito-frontal, permitindo a sua redução”, diz. A pesquisa foi orientada pelo professor Marco Antonio Marcolin, da FMUSP, descrita em dissertação de mestrado apresentada em novembro de 2012.

O tratamento conseguiu uma redução de 80% da fissura e de 60% do consumo de cocaína, comprovada pelas análises de urina. “É uma redução mais efetiva do que a conseguida atualmente por meio de medicamentos”, destaca Ribeiro. “A terapia com fármacos consegue uma diminuição da fissura entre 20% e 30%”.

Estimulação

Os pacientes foram submetidos a 20 sessões de estimulação magnética, cinco vezes por semana, no Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas (HC) da FMUSP. Após esse período, participavam de um grupo de prevenção de recaídas por dois meses, coordenado por uma psicóloga, e recebiam alta ao final de três meses. “Antes, durante e depois do tratamento, os pacientes foram submetidos a uma avaliação neuropsicológica detalhada”, conta o médico. “Também foram realizados exames de urina periódicos para avaliar a presença de benzoilecgonina, a principal subtância produzida pelo organismo a partir da cocaina (metabólito)”.

O primeiro aparelho de estimulção magnética foi desenvolvido em 1985, em Shefield (Inglaterra). “Ele iniciou uma nova era na estimulacao cerebral”, diz Ribeiro. ”Atualmente no mercado há várias máquinas que, em geral, obedecem ao mesmo princípio do aparelho utilizado na pesquisa”.

A estimulação magnética já é utilizada nos serviços de saúde, como terapia para casos de depressão resistente a tratamentos medicamentosos, de alucinações que resistetem ao tratamento e de dor. “A técnica também é adotada no mapeamento de áreas funcionais em cirurgias neurológicas, para diminuir o impacto das intervenções cirúrgicas no funcionamento do cérebro”, afirma o médico.

Em dependentes de cocaína, a neuromodulação ainda é adotada apenas experimentalmente, em hospitais universitários e centros de pesquisa. “No caso da dependência, o método ainda necessita de aprovação do Conselho Federal de Medicina (CFM) para poder ser utilizado no tratamento clínico”, observa Ribeiro. “Também serão necessárias outras pesquisas que repliquem os resultados obtidos neste estudo”.

Mais informações: email pleiterb@gmail.com

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