Para John Hopcroft, grandes dados são o futuro da Ciência da Computação

O Instituto de Matemática e Estatística recebeu a visita de John E. Hopcroft (Cornell University), um dos pioneiros da área de ciência da computação.

“A Era da Informação é uma revolução que está mudando todos os aspectos das nossas vidas”. A afirmação anterior exprime uma realidade que alguns já podem intuir, mas ganha força pela figura de quem a declarou. Na sexta-feira, 22 de março, o professor e teórico americano John Hopcroft esteve no Instituto de Matemática e Estatística (IME) da USP, onde trouxe para um auditório lotado sua visão sobre como serão os próximos quarenta anos na Ciência da Computação.

Conhecido por suas contribuições essenciais para o desenvolvimento das primeiras teorias da computação, John Hopcroft veio à USP pela primeira vez não apenas para debater previsões de um futuro não muito distante, como também para estabelecer uma parceria entre a Cornell University e a Universidade de São Paulo. “Cornell está querendo construir um relacionamento com o Brasil. Estamos procurando por estudantes interessados pelo mundo inteiro”, afirma Hopcroft ao abrir a apresentação.

Premiado em 1986 com o Turing Award, também conhecido como o “Nobel da computação”, o cientista desenvolveu, no final dos anos 1960, as bases curriculares do curso de Ciência da Computação. “Todos nós estudamos seus algoritmos”, destaca o professor Yoshiharu Kohayakawa, do IME, um dos responsáveis pela vinda de Hopcroft ao Instituto.

Nomeado para a National Science Board em 1992 pelo então presidente George Bush, John Hopcroft percorre o mundo contando um pouco de sua trajetória e atraindo alunos para um campo que permanece em franco crescimento.

“A Ciência da Computação está passando por uma mudança”, salienta o pesquisador. Quando convidado a criar as disciplinas que dariam origem ao currículo do curso, John Hopcroft se tornou inadvertidamente um dos primeiros cientistas da computação do mundo. Na época, a principal preocupação no ensino era com a programação. Atualmente, destaca o professor, estudantes são os “motores da mudança”, pois cabe a eles mapear o fluxo de ideias que cerca a Ciência, para que possam criar novas teorias capazes de satisfazerem as necessidades do futuro.

Rastrear a evolução de redes sociais, extrair informações de bancos de dados não estruturados, processar enormes quantidades de dados e orientar o campo para aplicações práticas são algumas das previsões de Hopcroft para a área. “A Ciência da Computação irá englobar todos os campos muito em breve”, reforça.

“Big Data”

“Hoje, a humanidade gera 2.5 exabytes de dados por dia. Transmitimos 2 zetta bytes diariamente. Isso equivale a aproximadamente 174 jornais por dia para cada pessoa do planeta”, calcula Hopcroft. A internet, de acordo com o professor, possui algo próximo a 20 bilhões de sites e continua a crescer. “As ferramentas de análise de dados de hoje são insuficientes”, explica ao retomar a necessidade de ampliação da Ciência.

Da compreensão dos dados obtidos com o estudo da partícula elementar Bóson de Higgs até a digitalização de dados médicos em busca do melhor tratamento possível para pacientes no mundo todo, as aplicações da Ciência da Computação não encontram barreiras. E saber trabalhar com essas gigantescas bases de dados (Big Data) pode ser a resposta para a solução de inúmeros problemas cotidianos.

“Imagine a redução do consumo de combustível que uma rede compartilhada de informações de GPS poderia acarretar na economia de um país”, teoriza Hopcropt prevendo inúmeras outras aplicações em pesquisa. Sociólogos, que no passado só conseguiam analisar comunidades com até 1000 pessoas, hoje, graças às redes sociais, podem estudar milhões simultaneamente. “Será possível rastrear comunidades com o tempo, mas para isso precisamos entender a estrutura dos diferentes tipos de redes sociais, assim como desenvolver definições adequadas do que entendemos como uma comunidade”, explica.

Para a indústria que se alimenta da informação, John Hopcroft acredita que as aplicações também serão fontes de emprego e lucro. “Perceba o ranking, por exemplo. Ranking é uma indústria multibilionária. Compreender, através de filtros colaborativos qual a probabilidade de um usuário comprar um determinado item, baseando-se em suas compras anteriores, poderá ser essencial” explica.

“Vivemos em uma época emocionante para a Ciência da Computação. Temos muitos dados a explorar”, revela entusiasmado aos alunos que abarrotavam o auditório.

Como conselho para os brasileiros, o professor é categórico: “Vocês precisam investir em educação. Não apenas no Ensino Superior, mas em sua base também. Talento é algo distribuído uniformemente pelo mundo, mas oportunidades não são”.

Prevendo um futuro em que o intelecto dirigirá nações inteiras, John Hopcroft encerra lembrando a todos que serão as instituições, os países e os indivíduos que se posicionarem para o futuro aqueles que realmente se beneficiarão de tudo o que a ciência da computação tem a oferecer.

Mais informações: email yoshi@ime.usp.br, com o professor Yoshiharu Kohayakawa

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