Música e teatro se reencontram em oficina na ECA

Maior referência na aproximação entre a música e as artes cênicas, Jean-Jacques Lemêtre esteve na USP entre os dias 6 e 8 de maio ministrando a oficina "O Corpo Musical no Teatro".

Victor Francisco Ferreira / Laboratório Agência de Comunicação 

Em um canto da sala 21 do Departamento de Artes Cênicas (CAC) da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, um aluno executa um exercício de atuação que consiste em simular a entrada em palco e a relação do ator com o público. Do outro, sentam-se o renomado músico francês Jean-Jacques Lemêtre e seus outros alunos, comportando-se como a plateia de um espetáculo. O jovem, sozinho, caminha pelo centro da sala, em direção aos colegas e ao professor. Olha cada um deles nos olhos, levanta a cabeça e o olhar para a parede em frente e afirma: “Bom dia. Eu me chamo Guilherme”. Lemêtre, levantando-se, diz, misturando um português e francês: “Perfecto! Mas… tenho algumas coisas a dizer”.

Ostentando uma volumosa barba branca e com os igualmente brancos e volumosos cabelos presos atrás da cabeça, Jean-Jacques Lemêtre explica um dos principais defeitos dos alunos na execução do exercício. “Todos vocês sabem atuar. Mas ninguém se relaciona com a música”.

Nascido em 1952, desde 1978 Lemêtre é  músico do grupo francês Théâtre du Soleil. Maior referência na aproximação entre a música e as artes cênicas, esteve na USP entre os dias 6 e 8 de maio ministrando a oficina O Corpo Musical no Teatro. Questionado sobre a importância da música para o teatro, primeiro ele brinca: “Você tem uns três ou quatro dias para eu responder?”. Depois, afirma: “A música é necessária e deveria ser obrigatória”.

Para Lêmetre, apesar de originalmente música e teatro estarem juntos, há hoje uma grande ruptura entre os departamentos de música e artes cênicas no mundo. “Os departamentos são divididos. E não há um verdadeiro reencontro. Um músico no teatro é muito raro. E existem muito poucos. Há músicos que fazem música para o teatro, mas músicos de teatro são poucos”.

Quando vem ao Brasil, Lemêtre é auxiliado pelo maestro Marcello Amalfi, pesquisador de pós-graduação do CAC. Segundo Amalfi, que já fez trilhas sonoras para teatro, televisão e cinema, a composição musical teatral é diferente da sonoplastia ou da escolha de músicas para acompanhar uma história. “O último grande nome a fazer isso foi o alemão Richard Wagner (1813-1888), que compunha e escrevia suas óperas. Depois dele, pouco se falou sobre música e teatro”.

Na oficina, a expressão da maioria dos alunos era de atenção e respeito às palavras do maestro francês. Mas também havia nervosismo. “Para mim, como músico, seria fácil. Tocaria a mesma música para vocês todos. A música do medo”, comenta Lemêtre sobre o visível nervosismo de seus pupilos na execução dos exercícios.

Entre os inscritos na oficina estavam alunos de artes cênicas, música, audiovisual e letras, além de professores de teatro. Um dos alunos é o professor de teatro Leandro Moraes. Ele afirma que é fantástico o contato com uma pessoa da importância do francês e ressalta a presença de pessoas da música e do teatro na atividade. “Os músicos ganharam corpo e os atores ganharam música”.

Em meio a exercícios simples que consistiam em caminhar, coordenar movimentos, cantar uma nota musical e treinar ritmo musical, o aprendizado foi grande. “Foi como voltar ao começo, fazer atividades simples, mas importantes. Voltar ao começo é sempre difícil, pois vemos que temos muito o que aprender”, comenta Moraes.

Amalfi acredita que é muito importante para a ECA trazer um nome como Jean-Jacques Lemêtre. “Iniciativas como esta representam avanços importantes  para nossa universidade, e contribuem diretamente para sua marcha em direção a internacionalização. A passagem do renomado compositor francês pela ECA não apenas reafirma o necessário link entre os departamentos de teatro e o de música, como propicia aos participantes do curso uma rica experiência de aprendizado internacional”.

A professora do CAC Maria Lúcia Pupo, responsável  pela oficina, reforça a dimensão internacional de Lemêtre. “Jean-Jacques é fantástico. É um dos maiores músicos do mundo. Só de ele fazer os exercícios já conseguimos ouvir a música”.

Com naturalidade Jean-Jacques Lemêtre resume bem a função de seu trabalho: “O teatro é acima de tudo algo que se faz com o corpo. E o corpo é musical”.

Mais informações: site www.eca.usp.br

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