Modo de ensinar música ajuda a evitar tensão muscular, revela pesquisa da FSP

Nas aulas de instrumentos, professores ensinam os movimentos de forma a controlar tensões no corpo.

Júlio Bernardes / Agência USP de Notícias

O modo com que os professores de música ensinam os alunos a tocar instrumentos pode ser uma forma de prevenir problemas musculares causados pela atividade. Em pesquisa da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, a fisioterapeuta e ergonomista Flora Vezzá entrevistou professores e verificou que eles procuram ensinar os movimentos de forma a evitar tensões do corpo que prejudiquem os instrumentistas e a qualidade do som produzido pelos instrumentos. O estudo recomenda maior troca de experiências entre os professores e um diálogo com os profissionais de saúde para aprimorar a prevenção das tensões junto aos músicos.

A fisioterapeuta procurou identificar formas de prevenção de queixas de dor no sistema músculo-esquelético em músicos profissionais. “Durante o estudo foram acompanhadas as aulas de instrumentos de alunos que estão aprendendo a tocar, além da realização de entrevistas com 20 professores”. As aulas foram acompanhadas na Escola de Música do Estado de São Paulo – Tom Jobim, uma das mais tradicionais do País, ligada à Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (OSESP). Os professores entrevistados davam lições de instrumentos de cordas orquestrais (viola, violino, violoncelo e contrabaixo acústico).

“Os professores foram perguntados sobre os instrumentos, como eram tocados e de que maneira isso era ensinado, a fim de descobrir os ‘truques’ para enfrentar cada instrumento”, conta Flora. “Embora o aprendizado do movimento seja formal, não há uma formação específica para se ensinar a tocar. A técnica de ensino é aprendida na prática”.

De acordo com a fisioterapeuta, várias características do trabalho dos professores ajudam os alunos a desenvolver suas habilidades com os instrumentos, mantendo atenção aos parâmetros de saúde. “Em primeiro lugar, os alunos são ensinados a ter uma postura adequada, de modo que possam se posicionar de uma forma que exija menos esforço”, afirma. “Particularmente no caso dos instrumentos de corda, se o músico estiver tenso, essa tensão irá se revelar no som produzido, que será prejudicado”.

Movimentos passo a passo

Os professores procuram fazer com que os alunos estudem passo a passo os movimentos, aumentando de forma gradativa o nível de complexidade. “Conforme a movimentação, o corpo reage de formas diferentes, influenciando na tensão muscular”, diz Flora. “Essa aprendizagem ajuda o aluno a evitar problemas corporais decorrentes da repetição de movimentos”.

Para dar aos alunos a ideia dos movimentos, os professores se valem de metáforas. “Eles não se limitam a dizer ‘abaixa’, ‘levanta’, procurando criar imagens mentais que criem um contexto do movimento, como fazer comparações com a movimentação dos animais”, conta a fisioterapeuta. “Isso ajuda os alunos a controlarem as tensões”.

Flora ressalta que a prevenção não se limita apenas à atitude de tocar de forma menos agressiva para o corpo. “Além da técnica, existem aspectos profissionais e o meio da música clássica é muito exigente no que diz respeito a qualidade e existem poucos espaços com vínculo estável, o que obriga os músicos a realizarem muitos trabalhos diferentes”, aponta. “Dessa forma, conhecer estes aspectos da profissão e criar formas coletivas de enfrentá-los pode ser uma forma adicional de prevenir as tensões e problemas dolorosos”.

A fisioterapeuta recomenda uma maior troca de experiências entre os professores de música, de modo a criar um espaço de discussão e formalização dos saberes de ofício sobre os aspectos que podem evitar o surgimento de problemas musculares nos instrumentistas. “Se possível, esse debate deve ser acompanhado por um profissional de saúde, não para simplesmente falar de doença, mas para avaliar a atividade de tocar um instrumento musical e contribuir para o desenvolvimento de formas de atuar que não sejam agressivas”. A pesquisa é descrita em tese de doutorado apresentada na FSP no dia 25 de abril. O estudo foi orientado pela professora Isabel Maria Teixeira Bicudo Pereira.

Mais informações: email floravezza@gmail.com, com Flora Vezzá

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