Pesquisadores do ICMC dedicam-se ao desenvolvimento de jogos eletrônicos

Ao pensarmos nos primeiros jogos eletrônicos, é comum que nos venha à cabeça games convencionais como fitas de Atari, Nintendo ou os primeiros CDs para o PlayStation ou PC. Mas os jogos eletrônicos de atualmente podem ir muito além da função de divertir e entreter. Além de serem utilizadas como ferramentas educacionais e simuladores, as técnicas de jogos estão no nosso dia-a-dia o tempo todo, basta prestar atenção. A palavra game já até virou verbo - estamos na era da gameficação.

Maristela Galati / Assessoria de Comunicação do ICMC

Ao pensarmos nos primeiros jogos eletrônicos, é comum que nos venha à cabeça games convencionais como fitas de Atari, Nintendo ou os primeiros CDs para o PlayStation ou PC. Mas os jogos eletrônicos de atualmente podem ir muito além da função de divertir e entreter. Além de serem utilizadas como ferramentas educacionais e simuladores, as técnicas de jogos estão no nosso dia-a-dia o tempo todo, basta prestar atenção. A palavra game já até virou verbo – estamos na era da gameficação.

Na USP de São Carlos, o professor do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC), Seiji Isotani, tem um interesse especial no uso de jogos na educação. “Gameficar a educação é utilizar de técnicas de jogos para tornar a educação mais interessante e motivar os alunos. A minha ideia é que possamos utilizar os jogos ou suas mecânicas para fazer com que inicialmente o aluno fique com a motivação extrínseca, mas que depois ele internalize e entenda que aquilo está fazendo bem pra ele, e não precise mais de algo em troca para aprender”, explicou.

O interesse do professor nesta área começou quando ele fez seu pós-doutorado na Universidade de Carnegie Mellon, nos Estados Unidos. “Eles estavam desenvolvendo sistemas educacionais intrigantes, com um aspecto de jogos. Mas a ideia já vinha há bastante tempo me instigando a pensar sobre o assunto”, revelou.

Isotani acredita que esse tipo de ferramenta ganhará cada vez mais um espaço de destaque nas salas de aula, pois o uso da técnica de jogos já está invadindo todas as áreas. “Às vezes as pessoas não percebem porque as companhias aéreas colocam milhagem. Ao acumular milhagem, elas ganham alguns benefícios. São técnicas de jogos, que vão entrar no ambiente escolar de qualquer forma”, afirmou.

O professor confessou utilizar essas técnicas de jogos com seus alunos. “Quando os alunos participam da aula, fazendo perguntas ou respondendo um exercício na lousa, ganham ações. Essas ações podem ser trocadas por várias coisas, como uma pergunta da prova que ele não sabe. É o mesmo sistema de um game, em que o jogador troca moedas e pontos adquiridos ao longo do jogo por vidas, por exemplo”, concluiu.

Além da educação, as técnicas de jogos são empregadas nas mais diversas áreas. Os chamados “jogos sérios” são voltados para treinamento por meio de simulação, sendo utilizados, por exemplo, quando é preciso aprender a manusear um aparelho sem colocar em risco vidas humanas ou equipamentos de alto valor. “Nesse caso, cria-se um simulador, que nada mais é que um jogo, onde se pode trabalhar com o equipamento como se fosse real. Então, se der algum problema, a pessoa poderá começar de novo, e quando esta for usar o equipamento real, utilizará as regras que foram determinadas no jogo”, exemplificou.

Os jogos no Instituto

O professor Isotani, que ministra aulas de Introdução às Ciências de Computação (ICC) para alunos do primeiro ano, explica como funciona o desenvolvimento dos jogos nas atividades-fim – ensino, pesquisa e extensão – do ICMC. “Tem toda uma parte de pesquisa relacionada aos jogos, aos processos de desenvolvimento, e também à história, às tecnologias envolvidas e como melhorá-las. A parte de ensino tem várias facetas, você pode pensar em como utilizar esses jogos como ferramenta de ensino para programação, matemática e física. A medida que o aluno desenvolve os jogos, ele vai aprendendo. No caso da extensão, você pode disponibilizar esse jogo para a sociedade e ela ter algum benefício”.

Além disso, o professor contou como foi a experiência com seus alunos, na qual deu a eles a liberdade para que desenvolvessem os jogos que quisessem. “Muitos fizeram os jogos que se lembravam da época de infância, mas de um jeito pessoal. Eles desenharam as telas no papel e as transportaram para o computador, tornando uma imagem inédita. Esse era o objetivo. Enquanto aprendiam os conceitos de introdução à computação, aprendiam também a expressar a sua criatividade naquilo que se está fazendo”, concluiu. Os alunos puderam ainda trocar informações e experiências entre eles.

Bruno Orlandi está no terceiro ano do curso de Ciências de Computação, e foi monitor da disciplina. Montou até uma aula extra com um amigo, que já tinha conhecimentos na área. “Vários alunos vieram com essa ideia de fazer jogos, mas primeiro, aprende-se a usar uma tela preta para fazer os programas, e o máximo que nós conseguimos é ler e escrever textos nessa tela. Não tem imagens coloridas e nem áudio. Então marquei uma aula com os alunos da disciplina, junto com um amigo que já tinha conhecimento em SDL (Simple DirectMedia Layer), que é uma biblioteca multimídia que permite fazer jogos, gráficos e trabalhar com áudio. Foi possível transmitir um conhecimento básico para que os alunos pudessem sair de lá sabendo mexer com SDL, programando e adquirindo um conhecimento mais profundo em desenvolvimento de jogos. Esse foi o fundamento para que os alunos pudessem desenvolver os jogos na disciplina.”, explica.

Orlandi acredita que uma das coisas que motiva o estudante a buscar um curso de tecnologia de computação e sistemas de informação é o desenvolvimento de jogos. “Eu fui inspirado a buscar a computação por estar muito envolvido com jogos de computador”.

Outras áreas de interesse que o aluno deve ter para o curso são matemática e física. Embora não pareça, as duas disciplinas estão fortemente envolvidas e presentes nos jogos eletrônicos. “A matemática envolve uma parte lógica nos games. No caso dos jogos de plataforma e corrida, é necessário conhecimentos em física”, explica Bruno.

Quem também fala sobre isso são os alunos Helder Moraes e Ricardo Fuzeto, integrantes do FoG (The Fellowship of the Game, grupo de desenvolvimento de jogos do ICMC). “Depende muito de jogo pra jogo. Há jogos que pedem um pouco mais de matemática e física, como jogos de plataformas em que é necessário calcular a aceleração do personagem, o quanto ele vai subir, a força da gravidade. Dos jogos que nós temos, dois usam bastante matemática. Um remake de MegaMan é um deles.”, diz Helder. “Um pouco de matemática sempre acaba se usando, mesmo que seja a mais elementar, porque o jogo é totalmente construído com base em um modelo matemático.”, completou Ricardo.

Além da sala de aula

No ICMC, há diversos grupos que participam de atividades relacionadas ao desenvolvimento de games eletrônicos. O FoG é um grupo de alunos vinculado ao ICMC, sem fins lucrativos, focado na criação de jogos eletrônicos divertidos, de código aberto e multiplataforma. Os participantes do grupo comentaram um pouco sobre o mercado de trabalho nesta área. “Sinceramente, o mercado é extremamente promissor. Se pegarmos os dados, pelo menos a parte do faturamento é absurdamente maior comparada, por exemplo, ao mercado de cinema. Os dois são intimamente ligados à computação, pois dependem muito de efeitos visuais. Além disso, os jogos em dia de estreia chegam a faturar até cinco vezes mais que um filme. Esses jogos que faturam bastante são de empresas que estão bem estabelecidas no mercado e tem um público-alvo muito bem determinado para cada tipo de jogo que eles fazem”, explicaram.

Os alunos revelam que a complexidade no desenvolvimento de filmes e jogos é a a mesma. Quando não, o jogo é ainda mais complexo. “De todas as áreas de computação, a de desenvolvimento de jogos é a mais interdisciplinar. Você pode usar muito pouco da área de computação, como você pode usar tudo. Para os jogos que são lançados hoje em dia no mercado, as empresas demandam muita mão-de-obra, porque é necessário uma equipe muito grande e o conhecimento tem que ser muito bem administrado e vir de uma fonte confiável. Não é a toa que muito do gasto na hora de se desenvolver um jogo vem da contratação de especialistas de áreas de conhecimentos diferentes”, analisaram.

O FoG já desenvolveu diversos jogos. Um deles é o Virtuosi!, um jogo musical com músicas clássicas, no mesmo formato do famoso Guitar Hero. “O idealizador deste jogo escolheu a música clássica para que as a pessoas conhecessem mais e vissem que música clássica não é entediante. O instrumento escolhido para o jogo foi o violino, que tem de ser manuseado com o mouse e o teclado do computador. Inclusive, nós levamos esse jogo para Brasília no ano passado no Simpósio Brasileiro de Jogos, onde o apresentamos rapidamente”, revelaram. Outro jogo que merece destaque é o Strategos, um jogo de simulação de batalha espacial em que o jogador determina naves e dá estratégias para estas. O computador, por sua vez, também gera estratégias, comparando-as até eleger a melhor para jogar com esse o jogador. “A ideia é utilizar algoritmos genéticos para desenvolver isso, pois um dos princípios básicos do FoG é aplicar os conhecimentos adquiridos na graduação”.

Projetos em andamento

Ainda falando sobre os projetos do ICMC, há um grupo que estuda “objetos de aprendizagem em matemática”, coordenado pela professora Ellen Francine Barbosa. O grupo desenvolve jogos focados em ensino de matemática, que estão disponíveis no site www.tsampaio.com/ic. Por meio de um projeto PIBID (Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência, da CAPES), coordenado pela professora Miriam Utsumi, vários desses jogos são aplicados em escolas de São Carlos.

O professor Isotani, que também tem vários projetos com seus alunos, revela o que está sendo feito e o que está projetado para o futuro. “Para as pesquisas que estamos desenvolvendo, a ideia é tentar utilizar técnicas de gameficação para melhorar os sistemas educacionais que possuímos hoje, tanto dentro quanto fora da sala de aula – em um ambiente web por exemplo. Em sala, nós estamos tentando entender como isso realmente funciona, e no caso de não funcionar, o motivo. O foco é quando e como funcionam essas técnicas de gameficação. Já no ambiente virtual, nós estamos desenvolvendo um ambiente de aprendizagem gameficado, que motivaria a apresentação de comportamentos positivos e do trabalho em grupo”, finalizou.

Mais informações: email comunica@icmc.usp.br

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