Estudo do ICB analisa resposta imune de camundongos expostos ao Aedes aegypti

Alta exposição ao Aedes aegypti causa resposta imune mista e pode indicar dessensibilização alérgica.

Bruna Romão/ Agência USP de Notícias

Estudos realizados no Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP abrem novas possibilidades para pesquisas em doenças alérgicas. Após analisar a resposta de camundongos expostos a grande quantidade de picadas de mosquitos Aedes aegypti e que receberam desafio intranasal com o extrato da glândula salivar do inseto, a bióloga Michele Silva de Barros detectou que os animais desenvolveram uma forte reação alérgica pulmonar, ao mesmo tempo em que parecem apresentar um processo de dessensibilização, que é quando a resposta do organismo à exposição a alérgenos torna-se menor.

Na pesquisa, Michele buscou caracterizar o perfil da inflamação alérgica nos animais quando sensibilizados pelas picadas e desafiados com os componentes da glândula pela via intranasal para indução da reação no pulmão. “A sensibilização seguida do desafio intranasal é capaz de induzir a migração de células, especialmente eosinófilos, para o espaço broncoalveolar”, explica Michele. “Já se sabia que os componentes presentes na saliva do mosquito é que causam a sensibilização do hospedeiro e podem eventualmente desencadear uma alergia”, comenta a pesquisadora. “Neste trabalho, queríamos saber como era a resposta imune desencadeada por camundongos expostos a essa saliva”.

“Foi possível observar a produção de anticorpos específicos contra componentes da saliva do mosquito e dessensibilização, assim como também pode ser observado em seres humanos”, relata Michele. Assim, o modelo de sensibilização natural pela exposição a picadas seria uma importante ferramenta de estudo sobre a ação dos componentes da saliva do mosquito, podendo também ser utilizado para pesquisas mais aprofundadas sobre doenças alérgicas.

Resposta alérgica mista

A possível dessensibilização pôde ser notada a partir de dados incomuns, que indicam que os roedores apresentam um tipo de resposta diferente, considerada mista por conta do perfil de anticorpos observado. Na dosagem dos anticorpos, a pesquisadora notou, além de anticorpos característicos de alergia (IgE e IgG1), outro tipo pouco encontrado nessas respostas, denominado IgG2a. Além disso, os testes realizados com os animais também apontaram a ausência de hiperreatividade das vias aéreas, caracterizada pela dificuldade respiratória, que costuma ser comum em respostas alérgicas pulmonares.

“A presença tanto de anticorpos IgE e IgG1 quanto IgG2a talvez indique um processo natural de dessensibilização”, conta. Para ela, é possível que a pesquisa tenha levado os animais a uma fase de dessensibilização graças ao número de vezes e ao tempo em que foram expostos à saliva do Aedes aegypti durante as picadas. “Conforme os camundongos foram expostos mais vezes aos mosquitos, observamos um aumento na produção de anticorpos IgG2a”, descreve a pesquisadora.

A dissertação de mestrado de Michele, Padronização de modelo de inflamação alérgica pela exposição a picadas de mosquitos Aedes aegypti foi apresentada em setembro de 2012. O trabalho foi desenvolvido no Laboratório de Imunologia Experimental do ICB sob a orientação do professor Anderson de Sá Nunes. Segundo a bióloga, ainda é necessário estudar as reações alérgicas que ocorrem diretamente na pele dos animais, além de investigar outros parâmetros que de fato confirmem a dessensibilização às picadas em função da grande exposição a elas.

Mais informações: email msbarros83@yahoo.com.br

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