Estudo da EACH conclui que pesquisadores na área de políticas públicas são visitantes na modalidade

Três quartos dos autores publicaram apenas uma vez sobre este assunto e menos de 2% o faz com regularidade.

Lara Deus /Agência USP de Notícias

Com o aumento de cursos superiores na área de políticas públicas no Brasil, a produção de artigos científicos sobre este tema se intensificou entre os anos de 2000 e 2011. Uma pesquisa da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP que analisou este assunto concluiu também que mais de 70% dos autores dessa modalidade de estudo publicaram apenas uma vez e são visitantes da área.

“Embora seja possível perceber um aumento claro no volume de publicações e de autores nos últimos anos, ainda é necessário fortalecer a identidade do pesquisador que, de fato, pertence a esse ramo de estudo”, afirma Paula Trottmann, autora da pesquisa. Ela é formada pela primeira turma da graduação em Gestão de Políticas Públicas da EACH e concluiu o programa de mestrado em Modelagem de Sistemas Complexos, financiada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), sob orientação da professora Flávia Mori Sarti. Enquanto há um grande número de autores visitantes — mais de três quartos dos analisados —, menos de 2% dos pesquisadores estudados publicam regularmente sobre as políticas públicas.

Outro resultado da pesquisa indica que não há um padrão na formação acadêmica destes autores. Poucos deles cursaram a graduação ou a pós-graduação na área de políticas públicas. Para Paula, o caminho para a área ganhar identidade é a “fidelização” dos pesquisadores “que tem como um dos caminhos possíveis o fortalecimento dos programas de pós-graduação, também”, afirma.

Redes sociais

Paula decidiu fazer sua análise sob a ótica das redes sociais. Ela explica que “as redes são agrupamentos entre pontos conectados entre si. O volume de conexões – links – em uma rede determinará, por exemplo, sua densidade. As redes sociais têm as pessoas como pontos e as relações estabelecidas entre eles como os links”.

a pesquisa, os pontos eram os autores e os links eram as relações de coautoria estabelecidas nos artigos. Paula construiu um banco de dados consultando as publicações periódicas e os anais de eventos (livros que reúnem artigos e relatórios de cerimônias científicas) que têm relação com o campo das políticas públicas. Assim, foram mensuradas a produção científica e a formação das redes por meio de indicadores adaptados a esta análise.

O indicador da produção científica era o número de publicações encontradas de um mesmo autor. Já a formação das redes tem como indicadores a centralidade de grau, que mede com quantos outros autores um deles está conectado, a centralidade de intermediação, que mensura quantas conexões um mesmo autor pode fazer entre os pontos com os quais está conectado e, por último, há a centralidade de autovetor, que diz a importância de um autor na rede. “Para a rede geral do campo e para as redes de cada encontro e periódico específico essas medidas foram calculadas”, afirma Paula.

Autores

Os autores destacados nesta primeira etapa tiveram suas informações inseridas no banco de dados. Usando a plataforma Lattes, que disponibiliza o currículo acadêmico de pesquisadores, Paula registrou a formação, a titulação máxima e a instituição em que a obteve e a atuação profissional. Segundo ela, “nessas pesquisas foi possível perceber que muitos dos autores destacados no campo de estudo não têm nem formação acadêmica nem atuação profissional diretamente relacionadas a ele.”

Paula conta que a carência de identidade da área das políticas públicas era esperada por ela, mas o grande número dos chamados “autores visitantes”, não. “Esse fato surpreende pois admite-se que aproximadamente três quartos dos autores que estão publicando no campo não mantém vínculo com ele”, lamenta.

Mais informações: email paula.trottmann@usp.br

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