Tese da FEA cria simulador de custos para planejamento da educação pública

O trabalho do administrador Thiago Alves, que conquistou este ano o Prêmio Tese Destaque USP, concluiu que os municípios estudados deveriam investir mais de 30% de suas receitas correntes em educação básica.

Cacilda Luna / Assessoria de Imprensa FEA

Um simulador de custos inédito para planejamento de educação básica de qualidade em escolas públicas, batizado de SIMCAQ. Com esse projeto, que recebeu recursos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), o administrador Thiago Alves conquistou este ano o Prêmio Tese Destaque USP na grande área de Ciências Sociais Aplicadas, representando a Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP.

O protótipo do simulador foi testado em três municípios do interior de Goiás – Cezarina, Goiatuba e Águas Lindas – baseado em dados do sistema educacional, e mostrou a necessidade de maior aporte de recursos para garantir a oferta de ensino com padrão de qualidade. Para atingir as metas do planejamento, os três municípios goianos deveriam investir mais de 30% de suas receitas correntes em educação básica, concluiu o trabalho.

“O simulador pode constituir uma ferramenta para auxiliar a tomada de decisão dos gestores, uma vez que facilita a análise de cenários de custos e investimentos durante o processo de planejamento educacional”, defende Thiago Alves, que hoje é professor do curso de Administração da Faculdade de Administração, Ciências Contábeis e Economia da Universidade Federal de Goiás (UFG).

Intitulada “Desenvolvimento de um modelo de previsão de custos para planejamento de sistemas públicos de educação básica em condições de qualidade: uma aplicação aos municípios de Goiás”, a tese de doutorado de Thiago Alves teve a orientação da professora Adriana Backx Noronha Viana, da FEA, e a co-orientação do professor José Marcelino de Rezende Pinto, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (FEARP) da USP .

O trabalho integra o relatório final da pesquisa Análise das condições de oferta da educação em escolas da rede pública estadual para mensuração do custo-aluno para o financiamento de uma educação básica de qualidade, vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Administração de Organizações da FEARP e coordenada pela professora Claudia Passador. Iniciada em 2007, a pesquisa faz parte do Programa Observatório Nacional da Educação do Ministério da Educação (MEC), tendo como parceiros a Capes e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).

Onde tudo começou

Thiago Alves começou a se interessar pelo tema em 2002, após ingressar na Secretaria Estadual de Educação de Goiás como gestor de Finanças e Controle. Lá, ele teve contato com a realidade educacional e constatou que faltava um sistema de custo que permitisse prever os recursos necessários para se implantar um sistema com garantia de qualidade de ensino nas escolas públicas daquele Estado.

“A ideia do simulador surgiu de uma experiência, de uma dificuldade real”, lembra Adriana, orientadora da tese. A professor acrescenta que o modelo foi feito inicialmente em Excel e depois, graças aos recursos da Capes, foi possível desenvolver o software testado nos municípios goianos.

“O diferencial do software é que ele permite programar o uso do dinheiro no curto, médio e longo prazo, evitando-se improvisos. Para isso, utiliza dados educacionais da população de cada município visando construir cenários educacionais que contemplem a população que está dentro e fora do sistema educacional. Da mesma forma, o software usa as informações detalhadas sobre cada escola, coletadas anualmente pelo Censo Escolar do Inep e MEC, objetivando conhecer a infraestrutura educacional e, com base nisso, calcular as adequações necessárias para atender a demanda local com qualidade”, explica o vencedor do Prêmio Tese.

Como não há um padrão de qualidade na oferta de serviços educacionais “cientificamente comprovado”, Alves acredita que o simulador pode provocar discussões em relação ao que seja considerado padrão de qualidade na área de ensino. “A população de um determinado município, por exemplo, pode entender que, naquela localidade, todas as escolas devam ter laboratório de ciências, ou que as salas de aula não podem ultrapassar mais do que 20 alunos”, justifica. Entre os itens que compõem o parâmetro de qualidade estão: infraestrutura, jornada escolar, alimentação na escola e condições de trabalho dos profissionais.

De acordo com o pesquisador, com base no parâmetro de qualidade desejado e com a infraestrutura existente, o SIMCAQ calcula o investimento para um período de tempo pré-determinado, adequando o sistema ao padrão de oferta. Como resultado, o sistema apresenta um orçamento das despesas correntes e de capital para o período de tempo requerido pelo usuário (2, 5 ou 10 anos, por exemplo) e o custo-aluno por etapa de ensino.

O próximo desafio do projeto, segundo Alves, é transformar o software numa ferramenta multiusuário na web. “A diretoria da Undime [União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação] já manifestou interesse em intermediar a disponibilização e o uso do SIMCAQ pelas secretarias municipais de educação vinculadas à entidade”, comemora o pesquisador.

Mais informações: site www.fea.usp.br

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