Projeto com professores da FE propõe autonomia na avaliação de escolas

No projeto, as escolas públicas de educação básica teriam mais liberdade para elaboração de seus próprios projetos pedagógicos e de avaliação interna.

Valéria Dias / Agência USP de Notícias

Um grupo de pesquisadores da área de educação está desenvolvendo um projeto que propõe a autonomia das escolas públicas de educação básica na elaboração de seus próprios projetos pedagógicos e de avaliação interna. O Projeto de Pesquisa Avaliação e Políticas Públicas de Educação Básica: um estudo em escolas de São Paulo e Porto envolve pesquisadores da Faculdade de Educação (FE) da USP, da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto (Portugal); e do Laboratório de Observação e Estudos Descritivos (Loed) da Universidade de Campinas (Unicamp).

Nos próximos dias 24, 26 e 27, o tema será debatido durante o I Seminário Internacional de Avaliação: A avaliação em questão no contexto mundial contemporâneo, que ocorre nos auditórios da FE e da Escola de Aplicação da USP, na Cidade Universitária, em São Paulo.

De acordo com a professora Sonia Maria Portella Kruppa, da FE, e organizadora do evento, atualmente, o que se vê em vários países do mundo é a avaliação como um simples processo de rankeamento de escolas, de sistemas educacionais e de países, com base nos resultados de processos cognitivos medidos por provas estandardizadas. Esse tipo de avaliação não leva em consideração as características intrínsecas ao contexto vivido pelos alunos em cada unidade escolar, sua comunidades e as diferenças culturais entre elas. “São avaliações elaboradas e aplicadas por avaliadores externos e sem a participação dos professores ou da comunidade. São usadas apenas como um mecanismo de controle. Elas apontam, de forma repetida, supostos problemas de aprendizagem, sem levar em consideração as suas causas. É como supor que o fato de medir repetidas vezes a temperatura de uma pessoa doente produzisse, por si só, a sua cura”, destaca.

Segundo a docente, são exemplos dessa avaliação quantitativa padronizada de resultados a Prova Brasil / Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica), do governo federal; o Saresp (Sistema de Avaliaçao de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo), do governo do estado de São Paulo; ou o Pisa (sigla em inglês para Programme for International Student Assessment – Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), uma avaliação internacional coordenada no Brasil pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).

Mercantilização

“Em virtude dessas avaliações, percebemos um crescente processo de mercantilização da educação, com as grandes editoras se dedicando a produzir materiais educacionais padronizados que visam levar às escolas a um bom desempenho nessas avaliações”, conta.

De acordo com a professora, o que o grupo de pesquisadores da FE, da Unicamp e da Universidade do Porto está propondo é a avaliação negociada e participativa. “Na avaliação participativa, todas as pessoas envolvidas no processo educacional são incluídas na elaboração dos diagnósticos, das metas a serem atingidas e dos processos que poderão levar à realização dessas metas. A escola tem autonomia para desenvolver seus projetos pedagógicos e de avaliação, sempre respeitando um parâmetro mais amplo, comum às outras escolas.”

A professora faz uma comparação com as Unidades Básicas de Saúde (UBS): cada uma precisa levar em conta as características das comunidades onde estão inseridas. Por isso, as campanhas de prevenção às doenças podem ser diferentes entre elas, dependendo do bairro ou cidade. Apesar disso, há características comuns a todas. Para Sonia, o mesmo poderia ocorrer com as escolas públicas. “Se fizermos uma comparação entre duas das mais tradicionais escolas particulares da cidade de São Paulo, percebemos que os projetos pedagógicos são distintos, apesar de ambas serem escolas frequentadas pela elite”, compara.

Para a professora, a avaliação institucional, por si só, não produz a melhoria direta na qualidade do ensino. “Certamente, é preciso que as políticas públicas apoiem essa proposta, contribuindo para que a escola possa se organizar para ter esse tempo/espaço propositivo, que seja acompanhado por processos contínuos de formação dos profissionais de ensino, que fortaleçam também o relacionamento da escola com a comunidade; com o bairro, com a cidade onde ela está localizada.”

Diálogo do conhecimento com a vida

Sonia cita ainda a necessidade de a escola ter um currículo que dialogue com as necessidades da vida. “A história do conhecimento científico mostra que seu desenvolvimento relaciona-se às questões colocadas socialmente. Um exemplo pode ser a criação e uso dos algarismos, a história da matemática: existem os algarismos romanos e os algarismos arábicos. Como explicar essas diferentes maneiras de representar as quantidades? Não é possível explicar essa questão sem mencionar o fato de que os árabes eram comerciantes e é impossível fazer contas utilizando os algarismos romanos. Ou seja, o conhecimento científico aprendido na escola precisa dialogar com as demandas do dia a dia”, finaliza.

Fazem parte do projeto 8 escolas pela USP, 8 pela Unicamp e 6 pela Universidade do Porto. A coordenação é dos professores Lisete Regina Gomes Arelaro (FE), Manuela Terrasêca (FPCEUP/Portugal) e Mara Regina Leme de Sordi (Loed/Unicamp).

Mais informações: (11) 3815-0232, site http://migre.me/fPzQyemail skruppa@uol.com.br, com a professora Sonia Kruppa

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