Tanjoubi omedetou! Curso de Japonês da FFLCH comemora 50 anos

Habilitação em Japonês do curso de Letras comemora 50 anos e realiza “Simpósio Internacional de Língua, Literatura e Cultura Japonesa”.

 Tanjoubi omedetou: feliz aniversário, em japonês.

Pouco mais de 50 anos após o primeiro navio com imigrantes japoneses, o Kasato Maru, ter aportado no Brasil foi criada, em 1962, a Seção de Estudos Orientais na então Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP. A partir de sua implementação, surgiu oficialmente o curso de japonês que completa, em 2013, 50 anos de existência.

A comemoração desse marco histórico deu origem ao Simpósio Internacional de Estudos de Língua, Literatura e Cultura Japonesa, que  acontece entre os dias 11 e 13 de setembro.  A ocasião tem como objetivo principal, de acordo com a docente e coordenadora do evento,  Madalena Hashimoto Cordaro, ser “uma afirmação da presença  acadêmica dos estudos japoneses na USP”.

Graduada originalmente em Educação Artística, a professora Madalena tornou-se aluna do curso de Letras com habilitação em japonês em meados dos anos 1980, ingressando oficialmente como professora da Universidade de São Paulo na primeira metade dos anos 1990.

“No início eram quatro professores voluntários, todos com conhecimentos sobre a língua e a cultura japonesa, alguns deles voluntários saídos direto da Graduação”, explica Madalena ao relembrar as origens do curso. “Hoje são oito professores que ministram dois turnos de aulas de graduação e pós-graduação”, esclarece, ao mencionar também que o Departamento de Letras Orientais conta com professores visitantes e intercambistas.

Atualmente, o curso possui 27 vagas para o período matutino e 28 para o noturno. “Nem todos os anos as vagas são totalmente preenchidas”, salienta a docente. No total, a habilitação consiste em 15 disciplinas. As turmas variam entre 10 e 20 alunos por classe.

Para o professor Wataru Kikuchi, membro do Departamento desde junho de 2005, “quando foi inaugurado, o curso era pioneiro e formou uma geração de professores que, posteriormente, inauguraram outros cursos em diversas instituições de ensino superior do Brasil”. De acordo com o docente, isso refletia “a grande presença dos japoneses e seus descendentes na cidade de São Paulo, mas sobretudo o esforço dos visionários que viram a necessidade de abrir um curso de língua e literatura japonesa na universidade”.

Herança e fascínio cultural

Ingressante do Departamento em agosto de 2006, a professora Shirlei Lica Hashimoto (mais conhecida como Lica pelos alunos e colegas), conta que, para ela, japonês sempre foi uma presença familiar. “No começo, eu quis estudar o japonês somente para poder conversar com os meus avós. Mas, no início da década de 90, quando o Japão se tornou mundialmente reconhecido como o grande exemplo econômico a ser seguido, havia muitas multinacionais no Brasil e, consequentemente, o campo de trabalho para os que possuíam conhecimento em língua japonesa aumentou”, conta.

“Naquela época, o fato de poder conseguir algum emprego razoável numa dessas multinacionais e a possibilidade de ganhar uma bolsa de estudos para o Japão foram determinantes para eu optar pelo curso de Letras Japonês”, explica, ao relatar que, após uma experiência de intercâmbio, suas motivações foram gradualmente se transformando. “Passei a me interessar em fazer traduções técnicas e, posteriormente, literárias. A atuação na área de ensino e de pesquisa foi o resultado desse meu contínuo interesse pelos estudos japoneses”, revela Lica.

Também para os professores Wataru e Madalena, o japonês é parte de uma herança cultural marcante. “Comecei desde cedo a lecioná-lo”, conta o docente. “Sou paranaense e comecei a ensinar japonês na juventude, e ainda dei aula em Brasília e Belo Horizonte, até me mudar para São Paulo, em 2000, quando ingressei na Aliança Cultural Brasil-Japão, onde permaneci até 2005. Nesse mesmo ano de 2000 entrei no mestrado, Programa de Pós-graduação em Língua, Literatura e Cultura Japonesa, e desde então continuo na USP”.

Importância e legado

Quando questionada sobre a importância da habilitação em japonês, Lica defende que sua  criação “insere-se num contexto em que a USP cumpre o papel social e cultural de oferecer  aos alunos diferentes visões de mundo expressas nas línguas e nas literaturas de línguas  estrangeiras, com os necessários aportes culturais, diante da natural complexidade dos  Estudos Orientais”, argumenta.

A graduação, que atrai o interesse tanto de descendentes quanto de não japoneses, possui  um objetivo diferente dos cursos particulares de língua japonesa existentes na cidade de São  Paulo. “Além de propiciar ao aluno conhecimentos de língua que lhe possibilitem  desenvolver a capacidade de leitura, expressão escrita e oral, proporciona conhecimentos  específicos e caros a um curso superior de Letras: a reflexão sobre os fatos linguísticos e literários”, explica Lica.

Sobre os alunos, a professora Madalena enfatiza que “hoje são comuns alunos de japonês que não são descendentes e mesmo os descendentes não trazem o idioma aprendido de berço”. A maioria deles ingressa sem nenhum conhecimento da língua japonesa. No decorrer do curso, como conta Lica, “eles adquirem um conhecimento básico que lhes permite desenvolver a leitura e a compreensão de textos”. Na graduação, existem também oportunidades de se fazer intercâmbios – através de bolsas de estudo – em universidades japonesas, oportunidade pela qual muitos alunos podem aprimorar seus conhecimentos da língua e da cultura.

Conforme Wataru, a procura pela habilitação teve um ligeiro aumento nos últimos anos, desde a ocasião do Centenário da Imigração Japonesa, em 2008. “O interesse pela chamada cultura pop japonesa, como animê e mangá também tem contribuído para despertar o interesse pela habilitação em língua japonesa”, exemplifica o professor.

“Com o surgimento dos decasséguis (nipo-brasileiros que emigram para o Japão em busca de trabalho), muitos alunos que retornam ao Brasil – após um período de contato com a cultura japonesa – voltam a estudar formalmente a língua”, acrescenta Madalena, explicando que,  ao retornarem para o Brasil, muitos deles estão fascinados pela cultura japonesa.

Sobre o Simpósio

Prestando as respectivas homenagens, o Simpósio Internacional de Estudos de Língua, Literatura e Cultura Japonesa conta também com diversas mesas e debates que incluem professores do próprio Departamento de Letras Orientais, como também docentes convidados da Universidade de Hiroshima, Stanford, Waseda, entre outras. Além das instituições de ensino, membros da Fundação Japão-SP, da Aliança Cultural Brasil-Japão e o cônsul do Japão no Brasil também estarão presentes.

“Pretendemos formalizar a história do curso e publicar um livro com os resultados do evento”, conclui Madalena.

O Simpósio acontece na Casa de Cultura Japonesa da FFLCH, e as inscrições se encerraram no dia 6 de setembro.

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