Mostra Cepeca apresenta pesquisas e aplicações práticas na concepção cênica

A fim de divulgar as pesquisas relacionadas às artes cênicas, a Mostra Cepeca reúne trabalhos de cinco “pesquisAtores”.

Sofia Calabria / Jornal da USP

Foto: Miguel Murruá
Cena do espetáculo ‘Nau do Asfalto’

No Departamento de Artes Cênicas (CAC) da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, há um centro de pesquisa diferente dos demais. O Cepeca (Centro de Pesquisa em Experimentação Cênica do Ator) funciona de modo que teoria e prática caminhem juntas no processo de estudos e resultem na criação de um espetáculo teatral. Para difundir parte desses trabalhos (alguns concluídos e outros em andamento), acontece nos dias 18, 19, 20, 26 e 27 de outubro a Mostra Cepeca, realizada no Teatro Escola Macunaíma.

Coordenado pelos professores Armando Sérgio da Silva e Eduardo Coutinho, o Cepeca caminha a fim de trazer novas diretrizes para o trabalho do ator, a partir da pesquisa acadêmica aliada a encontros semanais. O professor Armando Sérgio da Silva diz que “cada ‘pesquisAtor’ (termo criado por ele) expõe sua proposta e resultado cênico e todos os componentes analisam a relação entre a teoria e a prática. Na reunião seguinte, cada um aprimora os resultados e vai caminhando para sua dissertação ou tese e para a conclusão do espetáculo”.

No evento, cinco pesquisAtores apresentarão seus projetos, sendo quatro deles inéditos. O primeiro deles (dia 18, às 21 horas), “Dramaturgia de uma nau de loucos: uma possibilidade cênica”, consiste na tese de doutorado de Evinha Sampaio, que resultou no espetáculo Nau do Asfalto. Evinha teve como mote da pesquisa a observação dos movimentos “corposoutros” (movimentos dos corpos de moradores de rua com problemas mentais que vivem na cidade de São Paulo). Somado a isso, vem a dramaturgia das personagens. “Elas não conversam entre si. Os textos são totalmente independentes, mas trazem em si a lógica própria da loucura. Faço um teatro documentário: documento, registro e denuncio a situação dos doentes mentais nas ruas de São Paulo”, diz Evinha.

Já Marcelo Braga apresenta uma palestra sobre sua tese de doutorado, cujo tema é “Myriam Muniz: uma pedagoga do teatro” (dia 19, às 21 horas). Ex-aluno da EAD (Escola da Arte Dramática) da USP, Braga teve aulas com a atriz, professora e diretora por sete anos. “O respeito e dedicação à arte do ator eu aprendi com ela. Depois que comecei a trabalhar como professor de teatro, percebi que muito da minha condução pedagógica tinha como fonte inspiradora os processos que vivenciei ao lado de Myriam”, diz Braga, que em sua pesquisa buscou resgatar o trabalho da atriz. Para ele, Myriam foi uma “formadora de formadores”, dada sua ampla vivência não só no teatro (como, por exemplo, o Arena), como também no cinema e na televisão.

Foto: Wagner Cerqueira
Pesquisa de Renata Mazzei

Dia 20, às 20 horas, a pesquisadora iniciante Lúcia de Léllis apresenta “Demonstração de Processo: a potência criadora do ator. O vazio como recepção do agora. O presente como fundamento da verdade”. Tendo como base os trabalhos “Campo Mórfico”, do biólogo Rupert Sheldrake, e “Espaço Vazio”, do encenador Peter Brook, Lúcia foca sua seu projeto de mestrado nas possibilidades que o ator encontra para o seu processo criativo a partir de um campo-espaço de acontecimentos, ações, sensações, projetadas para e entre os atores. “Refiro-me ao vazio que, segundo Peter Brook, é adquirido com a meditação interior, é o vazio que o ator concede à personagem. Eu o denominei vazio-presente, pois se trata de um vazio que acontece no instante da cena. É o estado de plenitude do ator, a constante transição entre a quietude, o esvaziamento e o preenchimento sutil no jogo do agora.  Esse agora é o momento presente,  o momento atual de vivência do ator”, diz Lúcia.

Em “Teia Dramatúrgica: dramaturgia cênica tecida com palavra, música e dança” (dia 26, às 21 horas), Renata Vendramin demonstra sua dissertação de mestrado, que consiste no relato de uma experiência com o grupo Aivu Teatro, do qual faz parte.

Em seu trabalho, Renata relaciona palavra, dança e música: a chamada “teia dramatúrgica”. Com foco no trabalho criativo do ator, o grupo desenvolve a temática a partir da cocriação, o que resulta em uma produção autoral.

Foto: Katia KuwabaraA  próxima história - Grupo Aivú Teatro
Foto: Katia Kuwabara
‘A próxima história’ – Grupo Aivú Teatro

“Nós acreditamos que há conteúdos que a palavra dá conta, mas há outros que a música ou a dança pode melhor comunicar. Meu trabalho consiste em discutir como construir um discurso da cena que entrelace essas linguagens sem que se sobreponham uma à outra, e sim que se complementem”, comenta Renata. Além de sua apresentação, será mostrado um trecho da peça-experimento A próxima história. O tema de partida foi desenvolvido por narrativas pessoais do grupo e de outras pessoas, além de elementos ficcionais, a fim de demonstrar esse enlace de linguagens.

No último dia da mostra (27, às 20 horas), Renata Mazzei apresenta sua tese de doutorado “O Aikido e a Capoeira como fonte de inspiração para a dramaturgia do ator”. Utilizando movimentos de ambas as lutas marciais, Renata desenvolveu um trabalho no qual esses movimentos tanto auxiliam na preparação corporal do ator quanto na concepção estética do espetáculo cênico. “Nos ensaios temos uma fase de treinamento e, quando vamos para a improvisação, é lá que eles se inspiram para improvisarem corporalmente”, diz Renata. Ela ainda frisa que o intuito não é a reprodução do movimento, mas utilizá-lo como ferramenta para a criação do ator, ao mesmo tempo em que a influência dele nessa concepção se torna visível. Um dos objetivos é que fique evidente a diferença estética quando se utiliza o aikido ou a capoeira. “Essas diferenças já estão aparecendo tanto na relação com os atores como na criação individual”, completa Renata.

A Mostra Cepeca acontece nos dias 18, 19, 20, 26 e 27 de outubro, no Teatro Escola Macunaíma – Rua Adolfo Gordo, 238, Campos Elísios, telefone (11) 3217-3400). Os ingressos custam R$ 3,50.

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