Uma Universidade aberta para mentes e corpos ativos

Programa Universidade Aberta à Terceira Idade, fundado pela professora Ecléa Bosi, possibilita ao idoso aprofundar seus conhecimentos nas áreas de interesse, ao mesmo tempo em que viabiliza a troca de experiências com os alunos da graduação.
Foto: Marcos Santos / USP Imagens
Foto: Marcos Santos / USP Imagens

O Brasil é um país que envelhece. Segundo dados do IBGE, entre 2001 e 2011, o número de idosos com 60 anos ou mais passou de 15,5 milhões para 23,5 milhões de pessoas – cerca de 12% de toda a população brasileira. A Universidade se prepara para isso, e já há vinte anos atende a esta geração ativa em busca de conhecimento e bem estar.

O programa Universidade Aberta à Terceira Idade tem como objetivo possibilitar ao idoso aprofundar seus conhecimentos nas áreas de interesse, ao mesmo tempo em que viabiliza a troca de experiências com os alunos da graduação. Para participar, os interessados devem ter 60 anos ou mais.

Fundadora do projeto, a professora Ecléa Bosi, emérita pelo Instituto de Psicologia (IP) da USP, conta que começou a se interessar pela terceira idade com um trabalho realizado a partir de narrativas dos idosos sobre as transformações da cidade de São Paulo. Impressionada com os testemunhos sensíveis das mudanças, Ecléa quis se dedicar a um projeto que pudesse, de alguma forma, melhorar a vida deste público.

Foto: Marcos Santos / USP Imagens
Foto: Marcos Santos / USP Imagens

À época, já se desenvolvia no Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP um trabalho voltado à terceira idade. Sob a coordenação do professor Silvio Coutinho, era oferecido um curso de pintura aos idosos. “Ele é um professor extraordinário”, declara Ecléa, contando que foi a partir desta ideia que começou a escrever para outros docentes, perguntando se eles aceitariam em suas classes alunos idosos. A iniciativa recebeu adesão de muitos dos contatados e, quase naturalmente, o projeto foi acolhido pela Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária.

Os idosos nos campi

Além das aulas, que marcaram o início do projeto, novas atividades surgiram para atender mais integralmente a demanda dos novos – e experientes – alunos. O Centro de Práticas Esportivas da USP (Cepeusp) oferece uma série de atividades físicas apropriados a este grupo, caso do curso Bioenergia e Autocura, ministrado pela professora Marina Tirrin, constituído por exercícios de visualização criativa e meditações.

A Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH), na USP Leste, também oferece atividades físico-esportivas aos idosos. Dança sênior, karatê e vôlei adaptado dividem espaço com as experimentações tecnológicas da oficina Gerontech – que propõe a realização de atividades físicas com o auxílio de tecnologias de games.

Foto: Marcos Santos / USP Imagens
Foto: Marcos Santos / USP Imagens

A Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) contribui com a organização de um ciclo de palestras voltadas à saúde dos idosos. E há uma novidade para o ano que vem. O Hospital Universitário (HU) vai iniciar um curso sobre Envelhecimento Ativo. As atividades do projeto, organizado pelo professor Egidio Dorea,  incluem disciplinas regulares, cursos de extensão, palestras e atividades físicas, e devem acontecer durante todo o ano, tanto em São Paulo quanto nos campi do interior.

Na sala de aula

Presentes em mais de 170 disciplinas só na capital, os idosos estão em contato direto com as gerações mais novas da Universidade favorecendo a troca de experiências e o diálogo. “A gente conversa muito com eles, porque temos esses idosos em nossas classes, então nós acompanhamos de perto o que está acontecendo”, relata Ecléa. A Universidade é uma novidade para muitos, que encontram nela uma forma de se manterem ativos na sociedade. “Uma aluna me disse outro dia que é um rejuvenescimento também. Eles se sentem participantes da vida cultural, da sociedade como um todo”.

Da arte para os números

Muitos dos participantes do Universidade Aberta veem no programa uma oportunidade para aprenderem sobre paixões antigas, que foram deixadas de lado no momento da escolha profissional. E o lugar comum de engenheiros que queriam ser artistas, ou médicos que desejavam ser escritores, por exemplo, nem sempre se aplica.

Foto: Divulgação | Estação Memória
Foto: Divulgação | Estação Memória

Quando jovem, Reiko Oshiro Ceregatti, hoje com 77 anos, gostava muito de matemática. A necessidade de trabalhar e de obter o quanto antes um diploma foi o que a afastou da área – ela acreditava que o curso exigiria mais tempo e dedicação do que sua outra escolha, que foi a Educação Artística. “Agora estou aposentada. Com a possibilidade de cursar o Universidade Aberta à Terceira Idade, optei pela matemática”, conta Reiko, que acompanhou as aulas de Geometria Analítica e Laboratório de Matemática Aplicada no Instituto de Matemática e Estatística (IME) da USP durante o primeiro semestre deste ano.

Segundo Reiko, no início sua família julgava que a ideia era uma ‘bobagem’. “Mas como eu tinha a chance, insisti e fiz. Meus filhos e meus irmãos achavam que eu estava procurando sarna para me coçar”, conta. Neste segundo semestre, a professora aposentada só não se matriculou porque faria uma cirurgia, mas pretende se candidatar a uma das diversas disciplinas que o IME oferece já no próximo ano.

Colaborou: Aline Naoe

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