Conexão entre fragilidade e depressão é preocupação crescente entre especialistas

Pesquisa desenvolvida pela professora Samila Batistoni, da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP busca compreender a psicologia do idoso, especialmente em relação a sintomas depressivos e fragilidade. De acordo com Samila, a temática da fragilidade em idosos tem ganhado relevância no contexto clínico, não só por causa do crescimento da população idosa e da longevidade humana, mas também por seu significado em termos de saúde pública.
Foto: Marcos Santos / USP Imagens
Foto: Marcos Santos / USP Imagens

Com o aumento da expectativa de vida da população, mais pessoas sofrem – e por mais tempo – dos problemas associados ao envelhecimento, como a fragilidade e a depressão. Ciente de que o cenário de transição etária exige modificações culturais e sociais para acompanhar esse processo, a professora da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP, Samila Batistoni, trabalhou em uma pesquisa que buscava compreender a psicologia do idoso, especialmente em relação a sintomas depressivos e fragilidade.

Segundo a professora Samila, participante do estudo nacional da Rede FIBRA (Fragilidade de Idosos Brasileiros), alguns sinais de fragilidade e depressão são semelhantes, tais como sensação de exaustão ou fadiga, perda de peso e lentificação psicomotora, dificultando o reconhecimento das síndromes ou sobrepondo uma a outra, o que pode amplificar as consequências negativas.

Dos cerca de 3.500 idosos entrevistados pela Rede FIBRA, na Unicamp, 7% foram classificados como frágeis (com a presença de todos os cinco critérios convencionados para definir fragilidade); 50,3% como pré-frágeis (presença de três critérios); e 40,6% como não frágeis. Entre os frágeis, 45,3% apresentaram uma sintomatologia depressiva significativa. Os critérios que caracterizam a fragilidade como síndrome geriátrica incluem fraqueza, fadiga, baixo nível de atividade física, lentidão na marcha e perda de peso não-intencional.

Uma questão de saúde pública

Foto: Marcos Santos / USP Imagens
Foto: Marcos Santos / USP Imagens

De acordo com Samila, a temática da fragilidade em idosos tem ganhado relevância no contexto clínico, não só por causa do crescimento da população idosa e da longevidade humana, mas também por seu significado em termos de saúde pública. “É uma grande preocupação para idosos, suas famílias e o sistema de saúde”, afirma.

“A literatura da área tem evidenciado que fragilidade prediz aumento de desfechos clínicos desfavoráveis, tais como o agravamento de incapacidades, institucionalização, morte e associação com síndromes psicogeriátricas, como demências e depressão”, completa.

Embora envelhecer não seja sinônimo de deprimir, no Brasil, estudos encontram até 34% de presença de sintomas depressivos entre idosos.

Assim como a síndrome da fragilidade, os transtornos depressivos e a presença de sintomas de depressão em idosos também chamam a atenção sob o aspecto da saúde pública, em virtude de sua alta prevalência nessa faixa de idade e pelos seus efeitos adversos sobre o bem-estar dos indivíduos e seus familiares. “Embora envelhecer não seja sinônimo de deprimir, no Brasil, estudos baseados na aplicação de escalas de rastreio para depressão encontram de 20 a 34% de presença de sintomas depressivos entre idosos pesquisados”, relata a pesquisadora, ao ressaltar que quando os sintomas depressivos aparecem concomitantemente a doenças e condições crônicas, ampliam-se os riscos de incapacidade e de mortalidade.

Fragilidade ou depressão?

Foto: Marcos Santos / USP Imagens
Foto: Marcos Santos / USP Imagens

Do ponto de vista psicológico, fragilidade pode significar para os idosos perdas no controle direto e autônomo da própria vida e se refletir na diminuição significativa do bem-estar e do acesso a recursos de adaptação ao processo normal de envelhecimento. “Poucos estudos têm se dedicado a compreender os sintomas depressivos como possíveis marcadores psicológicos da fragilidade, uma vez que esta síndrome pode trazer implicações e obstáculos à experiência positiva da velhice”, critica.

Os investimentos em pesquisa de Samila, em parceria com alunos da graduação e pós-graduação, têm ajudado justamente na identificação destes marcadores.

Entre os sintomas depressivos presentes na população idosa, segundo ela, é possível identificar atitudes pessoais negativas frente à vida (sentir que a vida foi um fracasso ou não estar feliz) e avaliações sociocognitivas negativas (perceber os outros como em situação melhor ou sentir que os outros não se importam consigo). E estes são aspectos frequentes também em idosos frágeis.

Além destes sintomas afetarem o bem-estar pessoal, a associação da depressão com a fragilidade dificulta os efeitos das ações dos cuidados em saúde e funcionalidade, refletindo-se também sobre a saúde e o bem-estar dos cuidadores de idosos. “O fortalecimento da rede social de apoio aos idosos dependentes, em especial, gera no próprio idoso um aumento na possibilidade de tomar suas decisões e fazer escolhas pessoais via outras pessoas, além de diminuir as demandas de atenção do cuidador familiar primário”, conclui.

Primeira | Anterior | Próxima

Scroll to top