Estudo da FMVZ comprovou ação de planta no controle da placa bacteriana em cães

A Kalanchoe gastonis-bonnieri (KGB), vegetal popularmente conhecido como “planta-da-vida”, “orelha-de-porco”, “saião” ou “folha-grossa”, pode ser usada para combater a doença periodontal em cães. Estudo desenvolvido na FMVZ comprovou a ação do KGB in vivo, ou seja, fazendo o tratamento odontológico nos próprios cachorros.

Lara Deus/ Agência USP de Notícias

A Kalanchoe gastonis-bonnieri (KGB), vegetal popularmente conhecido como “planta-da-vida”, “orelha-de-porco”, “saião” ou “folha-grossa”, pode ser usada para combater a doença periodontal em cães. Isto porque, segundo pesquisa de doutorado da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP, a planta foi eficaz na redução do biofilme bacteriano e do cálculo dentário.

O estudo, de autoria da médica veterinária Samira Lessa Abdalla, comprovou a ação do KGB in vivo, ou seja, fazendo o tratamento odontológico nos próprios cachorros. A alta incidência da doença periodontal em cães – de 85% – foi o que motivou Samira a pesquisar o tema. Esta enfermidade é causada pelo acúmulo de placa bacteriana nos dentes e gengiva, mecanismo que aconteceu em menor intensidade quando os cães eram tratados com KGB.

O cálculo dentário, por sua vez, se forma quando há a mineralização da placa bacteriana, se acumulando entre os dentes e a gengiva. Plantas medicinais são usadas comumente para tratamento odontológico, mas raras são as vezes em que há estudo científico sobre seus efeitos.

Tratamento

Nos testes, os animais foram divididos em três grupos, um deles recebendo tratamento com 10 mililitros (ml) diários de KGB a concentração de 10%, um grupo controle positivo com solução de clorexidina a 0,12%, e outro grupo controle negativo com solução fisiológica, durante 28 dias.

A clorexidina é um antisséptico e tem ação antibacteriana, já a solução fisiológica é um líquido apenas constituído de água e cloreto de sódio. Quando comparado a ambos os controles, a KGB promoveu a redução do cálculo dentário em maior proporção. A placa bacteriana também foi evitada na presença de KGB, mas apenas apresentou diferença significativa em relação ao grupo controle negativo.

No estudo, a veterinária ainda realizou exames de sangue com os cães para avaliar os efeitos colaterais decorrentes deste tratamento. Eles se mostraram dentro da normalidade, mas ela enfatiza que “são necessários estudos complementares a longo prazo para a comprovação da ausência de efeitos colaterais”. Além disto, para entender o modo como a KGB interfere no processo de mineralização da placa bacteriana, deve haver outros estudos que se aprofundem no tema, explica ela.

Antes de Samira, uma pesquisa concluída em 2006 por Márcio Menezes, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), avaliou a ação antibacteriana da KGB in vitro, ou seja, fora de organismos vivos. Já em seu mestrado, também pela UFRRJ, ela pesquisou sobre a quantificação computadorizada da formação de placa bacteriana e cálculo dentário de cães.

Tudo isto contribuiu para que, em 2012, ela concluísse seu doutorado Eficácia in vivo do sumo de Kalanchoe gastonis-bonnieri no controle do biofilme bacteriano e cálculo dentário de cães, pela FMVZ. O trabalho foi orientado por Marco Antonio Gioso, do Laboratório de Odontologia Comparada da FMVZ.

O estudo da veterinária pode contribuir com descobertas sobre o uso de KGB tópico para tratamento da doença periodontal também em outras espécies animais, inclusive humanos. Esta planta faz parte de um grupo de recursos naturais que, segundo ela, são “ainda pouco conhecidos e utilizados”, apesar de estarem amplamente disponíveis na natureza.

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