USP Conferências tem rodada sobre o mundo promissor da nanotecnologia

Ela influi em áreas como química, física, engenharia ambiental e medicina. A maioria dos medicamentos de alto-desempenho, por exemplo, são nanos.

Nos dias 6 e 7 de dezembro, a USP reunirá alguns dos maiores estudiosos de uma das menores coisas do nosso universo: os nanomateriais. Trata-se da Conferência USP de Nanotecnologia 2011, que integra o projeto USP Conferências e retoma a ideia da Rede USP de Nanotecnologia, que funcionou entre 2004 e 2008.

De acordo com Henrique Eisi Toma, um dos coordenadores do evento e também coordenador do Núcleo de Apoio à Pesquisa – Nanotecnologia e Nanociências (NAP-NN), o objetivo é mostrar aos participantes o que é exatamente a nanotecnologia. “Queremos alertar, chamar a atenção do público, mostrar as possibilidades desse campo e a importância disso. Isso é ciência de primeira linha, é o topo da ciência”, define.

Microtecnologia

Na década de 60, pouca gente apostaria que a microtecnologia seria algo corriqueiro nos primeiros anos do século 21. Mas foi graças a ela que, por exemplo, o computador passou de 30 toneladas, 270 m² e 5 mil operações por segundo*, para cerca de 600 gramas, 448 cm² e no mínimo um bilhão de operações por segundo** (e nem é o computador mais avançado que existe!). Hoje, a tecnologia aumentou ainda mais o seu zoom, se tornou nano.

* Configurações do ENIAC (Eletronic Numerical Integrator and Computer), primeiro computador digital do mundo.

** IPad 2.

O que é nano?

O micrômetro é a milésima parte do metro. Já o nanômetro é sua bilionésima parte (0,000000001 metro). Comparado a um nanômetro, um fio de cabelo (70 micrômetros) é cerca de 70 mil vezes maior. Algo como a diferença entre a espessura de uma agulha de costura e um prédio de 20 andares.

Outra diferença: se o objeto de estudo da microtecnologia é a eletrônica, o da nanotecnologia é mais abrangente. Ela influi em áreas como a química, a física, a engenharia ambiental, a medicina, a farmacêutica. Henrique Toma aponta que a maioria do medicamentos de alto-desempenho, inclusive, são nanos. Por isso, eles têm liberação controlada e se ligam a células específicas.

As consequências de uma manipulação de materiais nesse nível são imensas – suas propriedades são drasticamente alteradas. Há um exemplo na natureza: as conchas. O material de que são feitas é próximo ao do giz. No entanto, compostos orgânicos, aminoácidos e proteínas entrelaçados montam uma estrutura que é base para o crescimento dos cristais. O resultado é que a concha é dura, resistente, ao contrário do giz. Desta observação, pontua Toma, “gera-se toda uma tecnologia para crescer biominerais que vão substituir os ossos, fazer reparo dentário e também em medicina”.

Um dos projetos feitos pelo grupo de Toma, e que está em processo de patenteamento, é um novo sistema de purificação de água, com a fabricação de uma nanopartícula magnética. Um pózinho que, misturado à água, reage com as impurezas. E quando um ímã se aproxima, as leva consigo.

Mas esse pózinho também pode reagir com petróleo, aumentando a eficiência na prospecção ou na contenção de pequenos vazamentos. “Se formos comprar isto hoje no mercado, esta coisinha aqui que não chega a 100 miligramas, e iremos pagar  US$ 2 mil. Aqui no laboratório, nós fazemos por alguns centavos”, e acrescenta: “eu comprei esse material lá fora para comparar com o nosso. O nosso é muito melhor. Incomparavelmente melhor. Entretanto, o pessoal acredita que tudo o que é importado é bom e o que é feito no país não presta”.

Gargalos

Apesar de ser uma área de ponta da ciência, a nanotecnologia enfrenta vários obstáculos. Um deles é a necessidade de mão de obra extremamente qualificada, não só em uma, mas em diversas áreas, como química, física, biologia e engenharia.

Outro gargalo é o alto investimento que se deve fazer para permitir estudos na área, e que então se produza algo. “Para enxergar um átomo, para ter resolução atômica, os aparelhos têm um custo astronômico. O microscópio eletrônico, por exemplo, custa na faixa de U$ 1 milhão. É muito dinheiro para qualquer laboratório comprar”.

Um terceiro gargalo é a falta de informação do público em relação à nanotecnologia. “A sociedade nem sabe o que é nanotecnologia. Nem sabe para que que serve isso, ou que a economia vai ser movida nessa escala”. A Conferência atua neste nível, segundo Toma, de publicização do tema e apresentação de projetos. Espera-se que com isso o governo, o empresariado e a sociedade se sensibilizem.

“Se a fecharmos os olhos, vai passar o bonde da nanotecnologia, vamos importar [produtos] e vamos continuar absolutamente ignorantes do que é tecnologia, do que é desenvolvimento”, alerta Toma.

Serviço

A Conferência USP de Nanotecnologia 2011 acontece dias 6 e 7 de dezembro, no Auditório Mário Covas, da Escola Politécnica (Poli) da USP. O endereço é a Av. Prof. Luciano Gualberto, travessa 3, 380, Cidade Universitária, São Paulo. As inscrições e a programação podem ser conferidas no site.

Mais informações: (11) 3091-3887 / 8513, email henetoma@iq.usp.br, email koiaraki@iq.usp.br

Scroll to top