Grupo da FAU põe em destaque papel do arquiteto na segurança contra incêndio

A sensibilização do arquiteto para a questão da segurança contra incêndio pode influenciar, por exemplo, a concepção das rotas de fuga e a especificação dos materiais de acabamento e revestimento.
Foto: Wikimedia
Decisões de arquitetos também interferem na prevenção e controle de incêndios

No início deste ano, a tragédia em uma boate na cidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, trouxe à tona mais uma vez o tema da segurança contra incêndios no país. Proprietários, bombeiros, funcionários da prefeitura e engenheiros são, em geral, os profissionais mais procurados para dar explicações e tentar esclarecer as causas deste tipo de incidente. Mas outro profissional vem ganhando espaço na discussão sobre o assunto: o arquiteto.

“Ele acaba tomando muitas decisões que afetam a segurança contra incêndio. Por isso é importante que o tema seja tratado na formação em arquitetura”, afirma a professora Rosaria Ono, do Departamento de Tecnologia da Arquitetura da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP. A sensibilização deste profissional para a questão influencia, por exemplo, a concepção das rotas de fuga e a especificação dos materiais de acabamento e revestimento, aspectos que foram determinantes para a gravidade do incêndio na boate.

Arquitetura e incêndio

portal20131114_5a2Na década de 70, dois grandes incêndios em São Paulo expuseram de maneira trágica a fragilidade da regulamentação na área. O processo de verticalização ocorrido na cidade na década 50, relata Rosaria Ono, aconteceu sem os devidos cuidados e o tema da segurança não recebia atenção nem do poder público, nem da sociedade. Com o incêndio no Edifício Andraus em 1972, e apenas dois anos depois, no edifício Joelma, as autoridades precisaram responder a essa questão, passando a criar mecanismos e exigências para garantir que as pessoas conseguissem sair com segurança dos edifícios no caso de incêndio, e que fosse possível conter o fogo.

Na academia, estes acontecimentos fomentaram a criação de um laboratório no Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), no qual Rosaria iniciou seus estudos na área, e em um trabalho desenvolvido pelo então professor da FAU, Teodoro Rosso. O pesquisador reuniu um extenso material, que resultaria em sua tese de livre docência e que representa, ainda hoje, uma das principais referências em português sobre arquitetura e incêndio. No entanto, antes da defesa da tese, Rosso faleceu, interrompendo o avanço do tema na universidade.

portal20131114_6
Imagem: Luis Crepaldi
Afastamento seguro entre edificações

Um dos responsáveis pela retomada da discussão e estudo sobre arquitetura e incêndio é o professor Ualfrido Del Carlo, ex-diretor da FAU e orientador de doutorado de Rosaria. Segundo a professora, a Universidade foi pioneira na introdução do tema na graduação em arquitetura. A inclusão da segurança de incêndio na grade curricular do curso aconteceu com a chegada da pesquisadora à USP, há mais de 10 anos, que coincidiu com um período de reformulação das disciplinas de tecnologia da arquitetura.

No entanto, ainda hoje a segurança contra incêndio é pouco disseminada em outras faculdades e não recebe a atenção que merece, segundo Rosaria – um dos motivos é a escassez de especialistas na área. “O aluno não precisa sair um expert, mas ele precisa saber que terá de se atentar para aquilo em sua atuação”, comenta a professora. A lacuna na formação sobre segurança contra incêndio motivou Rosaria a criar um projeto para a produção de material didático voltado a estudantes de arquitetura. Em andamento, a proposta é criar recursos multimídia que possam ser disponibilizados na internet para uso, inclusive, por outras instituições.

Fomento à segurança contra incêndio

Foto: Wikimedia
Sinalização de emergência

Atualmente, Rosaria é uma das coordenadoras do Grupo de Fomento à Segurança Contra Incêndio (GSI), que integra o Núcleo de Pesquisa em Arquitetura e Urbanismo da FAU e é formado por pesquisadores e profissionais da área, como bombeiros, representantes da Prefeitura de São Paulo, engenheiros, consultores, fornecedores de equipamentos de segurança, entre outros. O objetivo, explica a professora, é trocar ideias e disseminar informações sobre o assunto.

“É preciso sensibilizar quem projeta, quem constrói. Sensibilizar proprietários, síndicos. E nesse ponto a USP abre portas para conseguir discutir questões”, afirma. O grupo, que tem reuniões mensais, promove palestras, eventos e publica artigos em revistas técnicas da área. Após a tragédia em Santa Maria, o GSI produziu um manifesto, disponível na página do grupo, expondo a necessidade de melhor qualificação dos profissionais e da difusão do conhecimento sobre segurança contra incêndio.

Scroll to top