Clima de Natal: professor do IAG resgata sua infância montando presépios

Mario Festa faz parte da USP desde 1967, e há cerca de vinte anos voltou a montar presépios assim como fazia com a mãe na o passado.
Foto: Marcos Santos / USP Imagens

Entre árvores enfeitadas, luzes e presentes, uma tradição de Natal tem especial apreço na cultura brasileira: o presépio. E já que as previsões do tempo não indicam que poderemos fazer bonecos de neve por aqui nesta época do ano, a Estação Meteorológica elege o presépio para simbolizar o clima de Natal no Parque de Ciência e Tecnologia (CienTec) da USP.

Elaborados pelo engenheiro mecânico, pesquisador em meteorologia e professor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG), Mario Festa, a montagem do presépio já se tornou um costume do Parque. Incluindo dezenas de peças, os conjuntos são sempre diferentes a cada ano.

Além de expor seus presépios na USP, Mario já teve a oportunidade de realizar exposições em locais como no Museu Barão de Mauá, na Casa da Fazenda, e até em uma vitrine do Metrô São Bento, em São Paulo – essa última foi vista, de acordo com o professor, por cerca de 3,5 milhões de pessoas.

A predileção de Mario por esta representação do nascimento de Jesus Cristo não veio por acaso. De origem italiana, o pesquisador busca, através da montagem, resgatar lembranças da época de sua infância vivida no país. “Não sei se ainda montam presépios por lá, porque algumas tradições acabam se perdendo com o tempo, mas, quando pequeno, vi que lá existia, em praticamente todas as casas, o costume de montar um presépio. Não havia árvores de natal, como hoje. Por isso, quando eu era criança, minha mãe comprou algumas peças e me mostrou como é que se fazia. Ela chegava até a pegar musgos, porque na região onde morávamos havia um musgo muito bonito, usado para imitar o gramado”, conta.

Há cerca de vinte anos o professor do IAG retomou essa atividade que realizava com a mãe no passado e, hoje, possui uma coleção de mais de 2500 peças. “Eu sempre encontrava aqui e ali algumas peças interessantes que poderiam se integrar. Assim eu comecei a montar presépios de tamanhos modestos, e depois fui ampliando-os cada vez mais. Até que eu descobri uma coisa interessante: a possibilidade de montar presépios étnicos”, diz.

Foto: Marcos Santos / USP Imagens
Foto: Marcos Santos / USP Imagens

Ao longo dos anos, por ter encontrado peças características de cada região, Mario percebeu que existem várias representações no mundo para a mesma cena religiosa. “Muitos povos fazem a representação do presépio. Existem presépios de origem russa, polonesa, portuguesa, espanhola, mexicana, entre vários outros. E não há um mais bonito, ou um menos bonito – são todos diferentes. Cada região monta de acordo com os aspectos das pessoas do lugar e da época que se quer retratar”, explica.

O professor, que já utilizou cascas de árvores, areia, musgos, cactus, e até “revestimentos naturais” em suas peças – como tecidos para as figuras de pessoas, e couro para os animais – considera como presépio “mais original” montado por ele um com mais de 160 peças inspiradas na África. Para a composição da cena, Mario utilizou figuras de crianças, jovens, guerreiros, mulheres, idosas, e até figuras típicas de animais, como leões, tigres e elefantes. “Foi quando meu sobrinho me disse que nunca tinha visto elefante em presépio. Expliquei então que o elefante já havia sido muito usado como meio de transporte e que aquela era uma representação diferente. Muitas pessoas acham que só tem que ter, no máximo, camelos em um presépio. Mas eu vejo o presépio não apenas com suas imagens básicas – que seriam o menino Jesus, Nossa Senhora e São José. Pois se lembrarmos que essa cena aconteceu em uma cidade que estava cheia de gente, e que eles não encontraram abrigo em lugar nenhum, nós podemos ambientá-la em uma vila normal”, conta.

Foto: Marcos Santos / USP Imagens
Foto: Marcos Santos / USP Imagens

Sobre seus futuros projetos, Mario Festa conta que tem o plano de montar um presépio cujas figuras são tema da saga Senhor dos Anéis. “Também tenho a intenção de montar um presépio com figuras brasileiras, seguindo o estilo das peças de Caruaru, em Pernambuco”, diz.

Além de colecionar e restaurar peças de presépios, Mario também é músico, tendo se apresentado em eventos culturais e formaturas de alunos do IAG . Mas os hobbies – que incluem uma dose de seriedade – de Mario não param aí. O professor é também colecionador de selos e, atualmente, escreve um livro no qual relaciona, através de uma visão lúdica e interessante, diversos cientistas e personagens históricos que, de algum modo, contribuíram para o desenvolvimento da meteorologia.

Ingresso na USP

“Foi no fim da década de 1960, durante a fase da minha juventude, que cheguei a conhecer pela primeira vez o espaço no qual hoje está instalado o Parque CienTec – onde antes se localizava o IAG. Mas nem de longe eu poderia imaginar que um dia iria trabalhar aqui por tanto tempo”, relata, Mario Festa.

Mais precisamente, Mario faz parte da USP desde 1967, quando ingressou como uma espécie de estagiário na Estação Meteorológica do IAG, hoje localizada no Parque CienTec, para pagar seus estudos no curso superior em Engenharia Mecânica no Instituto Mauá de Tecnologia. “Comecei a trabalhar na estação como um estagiário, embora na época ainda não existisse essa conotação específica. Foi aí que eu comecei a aprender como é que eram feitas as observações meteorológicas, porque até então eu não tinha a menor noção daquilo”, conta.

Durante cerca de dez anos o professor trabalhou na Estação sem interrupções. Isso porque, como aponta Mario, “a Estação tem a característica de não interromper, por qualquer que seja o motivo, suas atividades. Pois o tempo não tem pausas para feriados, ou aniversário. Tempo é tempo, e precisamos sempre registar o que está ocorrendo”.

Foto: Marcos Santos / USP Imagens
Foto: Marcos Santos / USP Imagens

Até que em 1977, com a consolidação do curso de bacharelado em Meteorologia do IAG, Mario assumiu um dos cargos de docentes do curso. Em função dessas aulas, Mario teve que complementar sua formação com matérias específicas de Meteorologia, no nível de pós-graduação.

E foi o que fez no Instituto de Oceanografia (IO), tendo terminado seu mestrado em 1981 e atuado junto aos pesquisadores do IO em viagens de pesquisa, nas quais dava suporte nas observações meteorológicas, “pois eles não tinham ninguém especialista nessa área”, afirma.

“Com os estudos que fiz em meteorologia, descobri que a área em que me formei [Engenharia Mecânica] tem muito a ver com a atmosfera. A atmosfera também é uma máquina térmica. Então todas as leis da termodinâmica, do cálculo, da estatística, podem ser – e são – aplicadas na meteorologia. Por isso, hoje eu oriento meus alunos de forma objetiva, explicando a inter-relação da meteorologia com outras áreas, além da mecânica, como a oceanografia, a biologia, entre outras”, diz.

O professor também participa todos os anos, direta ou indiretamente, de todas as feiras de ciências da USP, e também ministra palestras sobre como a meteorologia e os fenômenos atmosféricos funcionam para as escolas de ensino fundamental e médio que visitam o Parque CienTec.

Mais informaçôes: (11) 5073-9151, email mfesta@model.iag.usp.br

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