Projetos do ICMC para auxiliar pessoas com deficiência são premiados em evento

Projetos foram reconhecidos durante a segunda edição do Prêmio Nacional de Acessibilidade na web, o Todos@Web

Denise Casatti/Assessoria de Comunicação do ICMC

Um deficiente visual que desenvolve softwares e programas de computadores enfrenta muitas barreiras no dia a dia. Entre elas está o desafio de lidar com modelos de criação de software e de programas que necessitam do uso da visão. Para contribuir com a redução dessa barreira, o pesquisador Filipe Grillo desenvolveu a ferramenta AWMo: Accessible Web Modeler.

Mestrando do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos, Filipe teve seu trabalho reconhecido durante a segunda edição do Prêmio Nacional de Acessibilidade na web, o Todos@Web. Ele obteve o segundo lugar na categoria Aplicativos/Tecnologias assistivas. Outro aluno do ICMC, o doutorando William Watanabe, ficou em terceiro lugar na mesma categoria, com o trabalho Aria-check. Ambos fazem parte do grupo de pesquisa em Sistemas Web e Multimídia Interativos do ICMC e foram orientados pela professora Renata Fortes.

Citando dados do Censo 2010, Grillo afirmou que, atualmente, no Brasil, o número de pessoas que possuem algum tipo de deficiência é de 45,62 milhões, o que representa cerca de 23,92% da população brasileira. “Mais especificamente no âmbito da computação, os deficientes visuais têm historicamente uma participação mais ativa, pois os códigos de programas de computadores são essencialmente texto e, portanto, mais facilmente acessíveis por meio de tecnologias assistivas, tais como leitores de tela e mostradores de braille, por exemplo”, explicou Grillo.

No entanto, o pesquisador ressaltou que os modelos de software são geralmente representados na forma de diagramas visuais, usualmente compostos por formas geométricas e conectores ligando essas formas geométricas. Quando um deficiente visual utiliza um leitor de tela para extrair a informação ali contida, o entendimento do conteúdo fica bastante prejudicado. Nesse caso, é preciso que esse deficiente conte com a ajuda de outra pessoa – não portadora de deficiência visual – para ajudá-lo a extrair as informações dos diagramas. Para aumentar a autonomia do profissional que precisa lidar com esses modelos, Grillo desenvolveu uma ferramenta web para permitir que as informações contidas nesses diagramas sejam transformadas em texto, o que facilita a obtenção desses dados por meio dos leitores de tela.

A ferramenta criada por Grillo, chamada AWMo: Accessible Web Modeler, permite que os usuários modelem diagramas de classe da Unified Modeling Language (UML), uma linguagem visual bastante empregada no desenvolvimento de modelos de softwares. O grande diferencial da ferramenta é possibilitar o trabalho tanto de desenvolvedores de software que não são portadores de qualquer necessidade especial quanto de profissionais que são portadores de deficiência visual. Isso porque a ferramenta possibilita tanto que o desenvolvedor desenhe diagramas de maneira tradicional, arrastando os elementos e conectando-os visualmente, quanto a elaboração dos mesmos diagramas por meio de textos.

Para testar o uso da AWMo, Grillo realizou testes de usabilidade com dois portadores de deficiência visual e, a partir dos resultados obtidos, implementou melhorias no projeto. O pesquisador explica que a ferramenta ainda está em fase piloto e, por isso, são bem-vindas contribuições de potenciais desenvolvedores, já que se trata de uma ferramenta de código aberto que pode ser acessada via web neste link.

Aria-check

Outro projeto do ICMC premiado no Todos@Web é chamado Aria-check, uma ferramenta destinada à validação da acessibilidade. Hoje, com vistas a tornar qualquer página web acessível a todas as pessoas, não importa qual o conteúdo ali existente, já foram criadas diversas diretrizes de acessibilidade disponibilizadas por instituições como a Web Accessibility Initiative (WAI). Uma dessas diretrizes é a chamada Acessible Rich Internet Application (ARIA), destinada a garantir acessibilidade a aplicações ricas de internet, tal como, por exemplo, o Facebook.

No caso específico do Facebook, há inúmeras janelas que podem se abrir ao usuário no momento em que ele está conectado. Imagine que você está postando uma informação em sua linha do tempo e, de repente, algum de seus amigos resolve chamá-lo para um bate-papo. Quem utiliza tecnologias assistivas para interagir na internet, como os leitores de telas, por exemplo, muitas vezes não conseguirá identificar o surgimento dessa nova aba de bate-papo. Se a aplicação seguir os padrões ARIA, o leitor de tela interromperá a leitura que estava sendo realizada para mencionar que uma nova aba foi aberta e realizará a leitura das novas informações que surgiram.

Hoje, há muita dificuldade em avaliar se uma aplicação rica de internet está, de fato, empregando os padrões ARIA. Por isso, o doutorando William Watanabe desenvolveu o Aria-check, para possibilitar que usuários e desenvolvedores de softwares verifiquem se os padrões ARIA de fato estão sendo respeitados. Também desenvolvido em código aberto, a ferramenta está disponível nesta página.

Todos@Web

A segunda edição do Todos@Web recebeu 66 inscrições, incluindo sites, portais, blogs, simuladores e ferramentas, o que representou um aumento de 40% no total de inscritos em relação à edição anterior do prêmio. A premiação aconteceu no dia 3 de dezembro, Dia Internacional da Pessoa com Deficiência, no auditório da Secretaria dos Direitos da Pessoa com Deficiência, na Barra Funda, em São Paulo. Além de receberem troféus e terem seus trabalhos exibidos em publicação do W3C.br, Grillo recebeu R$ 3 mil e Watanabe, R$ 1,5 mil.

Na primeira edição do prêmio, no ano passado, o projeto AccessibilityUtil, desenvolvido no ICMC em parceria com o Departamento de Ciência da Computação da Universidade Federal de Goiás, ficou em segundo lugar.

O Todos@Web é uma iniciativa do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br) e do W3C Brasil, que tem como objetivo promover nacionalmente a acessibilidade na web, de forma a conscientizar desenvolvedores e homenagear pessoas que se destacaram em atividades que visam promover o acesso a web e ações em prol do acesso de pessoas com deficiências na web.

Mais informações: site http://premio.w3c.br

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