Técnicas adaptativas permitem softwares que melhoram a si mesmos

Laboratório de de Linguagens e Técnicas Adaptativas estuda inteligência artificial em busca de soluções de problemas.
Foto: Marcos Santos / USP Imagens Segundo o pesquisador, jogos são “o paraíso” para quem está trabalhando com tecnologias adaptativas
Foto: Marcos Santos / USP Imagens Segundo o pesquisador, jogos são “o paraíso” para quem está trabalhando com tecnologias adaptativas

Diferentemente da programação convencional, em que um programa executa sempre a mesma função ainda que com dados diferentes, a adaptabilidade propõe um comportamento diverso diante de cada nova circunstância. Nas palavras do professor João José Neto, “um programa adaptativo tem uma crítica sobre aquilo que ele fez e o resultado que obteve. Quando isso acontece, ele modifica o seu próprio comportamento e começa a operar com aquele aprendizado que conseguiu a partir da experiência anterior”.

Neto, Ricardo Luiz Azevedo da Rocha e Jorge Kinoshita formam a equipe de professores do Laboratório de Linguagens e Técnicas Adaptativas, o LTA, do Departamento de Engenharia de Computação e Sistemas Digitais da Escola Politécnica (Poli) da USP. No laboratório, a equipe, junto com os alunos de pós-graduação e eventuais alunos de graduação, lida com essa técnica de inteligência artificial em busca de soluções de problemas, que pode ser utilizada, entre outras aplicações, nas ações de tomada de decisão.

A tomada de decisão é, para tratar de exemplos mais tangíveis, uma atividade muito cara à administração, à economia e à gestão de empresas. Lidando com um grande volume de variáveis efêmeras, a decisão sobre como agir é um desafio que a adaptabilidade busca resolver, em especial agregando o histórico de experiências malsucedidas. Fornecedor, venda, estoque, oportunidade e prazo são algumas das inúmeras variáveis que, geralmente, são utilizadas no processo de tomada de decisão. Da mesma forma que os valores das variáveis se modificam, o próprio conjunto de variáveis é inconstante, o que obriga as decisões a serem reavaliadas, sendo, desse modo, adaptadas.

Foto: Wikimedia Robôs como as sondas espaciais podem tomar decisões a partir de conhecimentos incorporados pela prática
Foto: Wikimedia Robôs como as sondas espaciais podem tomar decisões a partir de conhecimentos incorporados pela prática

Além das atividades com problemas já delineados, um desafio dos membros do laboratório é encarar problemas ainda desconhecidos, pois, além de encontrar meios de descobrir o problema, é necessário, dentro do espectro de soluções possíveis, entender qual a decisão correta.

Jogos são um outro campo de atividade das técnicas adaptativas, ou, segundo Neto, “o paraíso” para quem está trabalhando com o adaptativo. Uma característica dos jogos é o potencial infinito de mudança de comportamento e de exposição a condições diversas. Além disso, jogos são simulações, o que pode ser perfeitamente utilizado como método de ensino e treinamento caso o programa possua uma lógica que procure simular exatamente o fenômeno que se pretende. A funcionalidade do simulador, porém, depende, justamente, da sua adaptabilidade, variando de acordo com a atividade da pessoa envolvida, pois, caso possua o comportamento fixo, a sua capacidade didática é perdida.

Foto: Wikimedia Uma das pesquisas do LTA trabalha com linguagem natural em transcrição e tradução automática
Foto: Wikimedia Uma das pesquisas do LTA trabalha com linguagem natural em transcrição e tradução automática

Um dos trabalhos em desenvolvimento no LTA se ocupa da linguagem natural. Nele, partindo de um texto ou de uma fala, procura-se aplicar aos programas de tradução ou de transcrição automática a teoria de adaptabilidade. Há alguns anos em andamento, ao contrário dos programas já existentes, que se apegam preferencialmente à fonética, o projeto se atém à formação das palavras, à filtragem dos erros e à análise, procurando descobrir a sentença correta. Para Neto, esse projeto “é a menina dos olhos, é aquilo que a gente gostaria muito de ver funcionando um dia”. A dificuldade do grupo, entretanto, fica por conta da carência de patrocínio e da instabilidade do grupo, dado que muitos alunos, após terminarem seus estudos na universidade, abandonam o laboratório. “A gente tem que se acostumar com isso, porque não tem muito jeito”, desabafa o professor.

Muitos alunos chegam ao laboratório motivados pela curiosidade, porém, ao se depararem com a teoria, não seguem adiante. O professor explica que isso é mais um medo do aluno: “as pessoas acham que para fazer esse tipo de coisa tem que saber muita teoria. É preciso saber um pouco de teoria, sim, que é a base em cima da qual nós construímos as coisas, mas é preciso também baixar um pouco a guarda e conhecer um pouquinho dessa teoria dita complicada. Ela não é complicada, a pessoa precisa de um ano de experiência trabalhando um pouco com essas coisas para se inteirar”.

WTA

Foto: WikimediaSimuladores de voo podem utilizar inteligência artificial para facilitar aprendizagem e treinamento
Foto: WikimediaSimuladores de voo podem utilizar inteligência artificial para facilitar aprendizagem e treinamento

Como meio de congregar estudiosos e curiosos do assunto, além de divulgar as produções da área, nos dias 6 e 7 de fevereiro, o LTA promoverá o Workshop de Tecnologia Adaptativa (WTA 2014), que está na sua oitava edição. O evento será realizado no Auditório Professor Francisco Romeu Landi, no prédio da administração da Poli, localizado na Av. Prof, Luciano Gualberto, Travessa 3, nº 380. Butantã, São Paulo, SP.

Mais informações: email joao.jose@poli.usp.br, site http://lta.poli.usp.br

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