Estudantes medalhistas e amantes da matemática frequentam aulas no ICMC

Universitários de diversas partes do Brasil estiveram em São Carlos durante um mês para conhecer como funciona o ambiente de pesquisa em matemática na USP.

Denise Casatti / Assessoria de Comunicação do ICMC

Eles trocaram as férias de verão por aulas, minicursos, livros e muitas reflexões matemáticas realizadas no Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos, durante todo o mês de janeiro de 2014. Não estamos falando de professores da área, mestrandos, doutorandos ou pós-doutorandos – público já costumado a participar dos famosos programas de verão em matemática –, mas de jovens entre 19 e 21 anos que ainda cursam a graduação em universidades espalhadas pelo Brasil. Amantes dessa disciplina que é reconhecidamente odiada por tantos, eles fazem parte de um seleto grupo de estudantes que participam de um programa chamado PICME, oferecido aos universitários que se destacaram nas olimpíadas de matemática (medalhistas da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas ou da Olimpíada Brasileira de Matemática).

São alunos que têm a oportunidade de realizar estudos avançados em matemática simultaneamente com qualquer curso de graduação e recebem bolsas de iniciação científica ou mestrado por meio de parcerias estabelecidas com instituições como o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e com a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Este ano, esses estudantes tiveram a oportunidade de participar do I Simpósio Nacional do PICME, que aconteceu de 6 a 31 de janeiro no ICMC.

“Esse mês a gente passou aqui confinado para pesquisar algo na matemática. Fomos desafiados: recebendo alguns problemas, pensamos sobre eles e tentamos achar uma solução ou então propomos algum problema e buscamos revolvê-lo. Quando estamos no dia a dia da universidade, por causa das disciplinas, das provas, da cobrança por notas, não temos tempo de fazer isso. Foi uma experiência diferente”, revelou Lucas Araújo, 21 anos, que cursa Bacharelado em Matemática na Universidade Federal da Paraíba, em João Pessoa.

“Uma das coisas de que mais gostei foi ter conhecido a USP. Eu me encantei com a estrutura daqui e o contato com os professores foi fundamental”, disse Aline Zanardini, 20 anos, que cursa Bacharelado em Matemática na Universidade Federal do Paraná, em Curitiba. Decidida a seguir carreira acadêmica, além de participar do Simpósio, ela cursou uma disciplina da Escola de Verão em Matemática no ICMC e cogita voltar ao Instituto, dessa vez como mestranda.

Na opinião de Israel de Oliveira, 20 anos, que faz Bacharelado em Matemática na Universidade Federal de Pernambuco, em Recife, a troca de informações e experiências entre os diversos grupos de pesquisa formados para desenvolverem seus trabalhos durante o PICME foi o mais interessante. “Tivemos a oportunidade de pensar em coisas novas, de criar, é algo que não encontramos nos livros”, destacou Oliveira.

Já para a estudante Maria Moura, 19 anos, que cursa Licenciatura em Matemática na Universidade Federal da Bahia, em Salvador, o Simpósio teve outro papel fundamental: “Eu estava no auge do meu conflito profissional, sem saber se devia mudar meu curso de graduação da área de exatas para biológicas. Então, foi uma experiência muito boa para eu enxergar que não consigo viver sem matemática e que sou mesmo da área de exatas”. Moura decidiu, durante o evento, abandonar a Licenciatura em Matemática e trilhar o caminho da Engenharia Ambiental, na busca por aliar a paixão pela matemática com o amor à biologia.

No total, 18 estudantes participaram do Simpósio, provenientes não apenas de cursos de graduação em matemática, mas também em estatística, engenharia mecânica, civil, elétrica e química. Além dos aprendizados relacionados à pesquisa, eles levaram de São Carlos outros conhecimentos, talvez tão importantes quando os científicos: “Para mim, que moro em João Pessoa e nunca precisei sair de casa para estudar, foi uma experiência pessoal e tanto: aprendi a fazer arroz, macarrão, lavar roupa…”, confessou Araújo.

Objetivos e perspectivas

Segundo um dos coordenadores do I Simpósio Nacional do PICME, professor Ali Tahzibi, do ICMC, a ideia do evento é passar responsabilidades para os alunos e orientá-los a atacar algum problema matemático, incentivando o espírito de pesquisar que inclui muita paciência, muito trabalho e, às vezes, até frustrações. Assim, é possível detectar os melhores talentos para, eventualmente, fazerem pós-graduação no ICMC.

“Nos cursos de graduação no Brasil, existe uma carência de atividades que incentivem a independência dos alunos e, ao mesmo tempo, exijam bastante estudo. Nos Estados Unidos, há uma experiência similar ao Simpósio do PICME chamada Research experience for students e, em 2007, realizamos no ICMC um evento com alunos norte americanos e brasileiros. Atualmente, esses alunos são professores ou pós-doutores nas melhores universidades do mundo como MIT e Berkley, nos EUA”, explica Tahzibi.

Em 2014, os alunos que participaram do Simpósio do PICME foram divididos em 4 grupos de pesquisa e cada grupo, no final do evento, entregou um relatório em formato de artigo científico. Eles também tiveram a oportunidade de apresentar duas palestras, participar de 8 minicursos em diversas áreas e assistir a palestras de pesquisadores experientes. Às sextas-feiras, houve seções de vídeos matemáticos seguidas de debate. “Nossa expectativa é de que, nos próximos anos, teremos eventos similares em outras localidades do Brasil”, finalizou Tahzibi.

Mais informações: site http://verao.icmc.usp.br/verao2014/simposio.html

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