Ampliar a percepção humana, ou seja, sentidos como visão, audição e tato, é algo mais frequentemente associado a histórias de super-herói. Mas esse objetivo ganha um caráter de experimentação tecnológica e reflexão artística em iniciativa surgida na Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP. Ao identificar um subaproveitamento de nossas potencialidades sensoriais, a artista plástica Paloma Oliveira transformou sua dissertação de mestrado em um projeto que tem como meta principal fomentar, tanto intelectualmente quanto com auxílio laboratorial, ideias à primeira vista improváveis.
Batizado de “Híbrida: prototipagem experimental de ampliadores de percepção”, o projeto foi contemplado pelo edital Difusão e Intercâmbio Cultural e Científico da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária (PRCEU) da USP. Nos próximos dias, vão ser selecionadas de quatro a seis propostas para prototipagem – processo que simula um produto final, mas feito com recursos e materiais mais baratos – a serem desenvolvidas no InovaLab@POLI, laboratório experimental transdisciplinar da USP.
Na página do Híbrida é possível consultar um Banco de Projetos com exemplos que mostra, na prática, ideias que têm como mote a expansão da percepção, e que servem de inspiração aos interessados em enviar propostas. Os selecionados terão à disposição uma estrutura que inclui microprocessadores, sensores diversos, impressoras 3D, além de oficinas com especialistas, que ajudarão a integrar técnica e reflexão nos projetos.
“Eureka”
Segundo Paloma, o projeto nasceu da sua vivência na própria Universidade, que permitia o trânsito entre as diversas áreas do conhecimento, como a psicologia e a engenharia. “Tanto a vivência de outras aulas quanto conhecer os grupos que misturavam medicina, biologia, engenharia e tecnologia foram fundamentais para a criação do Híbrida.”
Além disso, um ponto fundamental foi a realização de uma performance com o artista mexicano Jaime Lobato, hoje co-autor da pesquisa. A exposição, que foi apresentada no México e na Alemanha, era baseada em uma vestimenta interativa com botões coloridos, inspirada na luta livre mexicana. Conforme os participantes lutavam, sons ou imagens eram disparados para indicar quem estava vencendo.
Por meio da roupa, o público acompanhava, por exemplo, os batimentos dos participantes, seja pela exposição da cor ou da audição do ritmo cardíaco. “De alguma forma, o público podia acompanhar algo que não era visível. Era algo interior que a gente exteriorizava”, comenta Paloma.
Agora feche os olhos. Pergunte ao seu corpo o que verdadeiramente gostaria que pudesse ser ampliado. Que tipo de acoplamento seria útil, importante ou interessante? Para que? O que pensa que mudaria em sua vida? (site do Projeto Híbrida)
Foram as dificuldades enfrentadas para compor essa performance, inclusive, que a motivaram a criar algo que transitasse por diversas áreas do conhecimento. Para isso, contou desde a concepção do projeto com o auxílio de especialistas de outros campos.
Como participar?
Até o dia 14 de fevereiro estão abertas as inscrições de projetos que lidem com a ampliação da percepção humana em três eixos: visão, audição e estrutura. De acordo com Paloma, o ideal seria atingir pessoas de diversas áreas e titulações. “Nós queremos um grupo desierarquizado”, afirma.
Entre 20 de fevereiro e 10 de março, serão abertas as inscrições para interessados em participar da prototipagem, complementando e colaborando com as ideias já selecionadas na etapa anterior.
O desenvolvimento dos trabalhos levará, ao todo, sete semanas, com reuniões duas vezes por semana. Os encontros teóricos acontecerão no Paço das Artes, na USP, às sextas feiras, das 9 às 12 horas. Já as aulas laboratoriais ocorrem no espaço do InovaLab@POLI com duas turmas distintas. A turma 1 se reúne às segundas e quartas, das 19 às 22 horas; e a turma 2 às terças e quintas, das 9 às 12 horas. As aulas teóricas serão abertas a todos os interessados.
Tudo isso poderá ser acompanhados por meio de um blog criado para que os participantes detalhem passo a passo como fazer os protótipos criados.
Mais informações: emails palomaoliveira@usp.br, projeto.hibrida@gmail.com