Química na tela: portais de divulgação inovam ensino de ciências

Sites de divulgação de química relacionam conteúdos aparentemente inacessíveis a uma interface amigável e parceira do educador.
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Foto: Labiq
Imagem mostra procedimento para pesagem de sólidos utilizando uma balança analítica

Embora as ciências sejam, ainda hoje, temidas por muitos alunos do ensino médio, o ensino na área encontra na internet a possibilidade de inovar metodologias e atrair a atenção dos estudantes. Na tela do computador, os conceitos científicos ganham vida e sentido no dia a dia dos alunos. Na área da Química, por exemplo, dois portais que contam com a participação de professores da USP se destacam, S

Criado pela Sociedade Brasileira de Química (SBQ), o portal Química Nova Interativa (QNInt) indexa e relaciona artigos de publicações como Química Nova e Química Nova na Escola, além de periódicos da SBQ. Editor de conteúdo e professor do Instituto de Química (IQ) da USP, Guilherme Marson ressalta a contribuição do QNInt como fonte confiável de informação na rede. Por estar vinculado à SBQ e se apresentar na forma de portal, sua divulgação tem amplo alcance.

Marson compara o QNInt com o SciElo – biblioteca eletrônica que reúne em um só portal alguns dos periódicos científicos brasileiros mais importantes – e afirma, a partir de dados estatísticos disponíveis no próprio site, que muitos dos artigos publicados em ambos os meios têm, em poucos anos no QNInt, “o mesmo número de acessos em toda a vida do arquivo no SciELO e, isso em si, já mostra que o portal potencializa muito o acesso à informação científica”.

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Foto: Marcos Santos / USP Imagens

O professor acredita que a forma como o conteúdo é veiculado favorece uma mudança na relação que os leitores que consomem o material têm com as próprias publicações científicas. “Muitos alunos de graduação e professores de ensino de química não estão familiarizados com portais formais de divulgação”, explica Marson. “Em um mundo que precisa melhorar a qualidade de ensino, uma ferramenta como essa é muito importante – ainda mais com dois milhões de acessos”.

Um ano dedicado à Química

Celebrado em 2011, o Ano Internacional da Química contribuiu para que diversos projetos da área pudessem ser desenvolvidos em todo o mundo. No Brasil, o QNInt teve papel essencial na execução de um experimento que visava medir o pH (nível de acidez) das águas em diversos países a  partir da distribuição de kits de medição para estudantes. O chamado Experimento Global da Água contou com grande aderência de brasileiros que, em área de cobertura e experimentos, ultrapassou até mesmo os Estados Unidos. “Todos os dados deveriam ser agrupados e aquilo seria postado em um mapa, buscando encontrar um pH mundial. O QNInt atuou como hub – um concentrador de dados – do projeto no Brasil”, relata Marson.

Ainda em 2011, o QNInt apoiou a criação do projeto 365 dias de Química. Diariamente, eram publicadas a biografia de um cientista e a apresentação de uma molécula. Ao clicar nas representações moleculares tridimensionais, é possível conhecer suas propriedades e ter acesso a informações básicas – como uma “biografia” da estrutura molecular. Os usuários podem navegar pelos textos enquanto as estruturas se modificam de acordo com o que é apresentado. A página oferece, ainda, acesso a um glossário que apresenta os termos relacionados aos assuntos pesquisados e sugestões aos professores de como usar os conceitos em sala de aula.

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Foto: Divulgação No projeto “365 dias com a Química”, posts destacavam uma molécula por dia.

“É possível selecionar links diretos para outros conteúdos da revista Química Nova na Escola, além de vídeos do site Ponto Ciência – uma espécie de ‘YouTube de experimentos’, correlacionados ao tema”. O professor conta também que, para um usuário que possua interesse pelos temas abordados pela química, o portal oferece diversos recursos organizados e articulados.

Plataforma da ciência

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A partir da produção de mais de 350 moléculas durante o Ano Internacional da Química, o professor Marson percebeu que a computação deveria ser parceira do projeto, e não uma barreira. Com o auxílio de um desenvolvedor, foi criada uma plataforma com o objetivo de viabilizar a ampliação do acervo das estruturas moleculares usando ferramentas simples, dispensando o conhecimento prévio de programação. A ideia era produzir uma plataforma amigável, para que cientistas e grupos de pesquisa da Universidade pudessem produzir seus próprios conteúdos para divulgação.

O primeiro portal lançado a partir desta plataforma foi o Laboratório Integrado de Química e Bioquímica (Labiq), que traz conceitos básicos de um laboratório de química, além de um índice com materiais digitalizados e multimídias preparados para iniciar os alunos às atividades laboratoriais, como tutoriais para montagem de equipamentos e uso de ferramentas de segurança. O desenvolvimento do Labiq recebeu apoio do edital Pró-InovaLab, da Pró-Reitoria de Graduação da USP. “Se buscava modernizar não só as estruturas físicas do laboratório, mas as metodologias de ensino”, conta Guilherme Marson. Os organizadores do Labiq, assim, desenvolveram conteúdos com procedimentos laboratoriais, visando fornecer ferramentas para que os alunos pudessem se preparar para as atividades de laboratório.

“No meio desse processo, nós resolvemos ousar um pouco mais na proposta”, revela o professor. O portal foi desenvolvido de forma a facilitar a produção de conteúdos digitais. “A plataforma tem recursos embutidos que nos permitem compartilhar e criar ferramentas multimídias”, explica. Junto a este editor de ferramentas, a equipe articulou um editor de portais para que qualquer grupo da USP ou de qualquer outra universidade brasileira pudessem produzir e revisar conteúdos, como uma contribuição para o que o professor chama de Biblioteca Comum de Aprendizagem. “Digamos que algum parceiro da Geologia ou Biologia se interesse”, exemplifica o professor. “Ele vai ter um portal com a cara dele, e vai produzir seu próprio material que poderá ser utilizado de maneira interdisciplinar por outros grupos que aderirem à plataforma”, explica. A ideia, assim, é que os conteúdos não só se ampliem, mas se inter-relacionem.

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