Estudo da EERP traça perfil de dependente químico em Ribeirão Preto

Pesquisa revela que o simples fato de ver pessoas consumindo álcool ou outras drogas pode favorecer a recaída.

Marcela Baggini / Serviço de Comunicação Social da Prefeitura do Campus de Ribeirão Preto

Pesquisa da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP com usuários dependentes de crack ou cocaína revela que o simples fato de ver pessoas consumindo álcool ou outras drogas pode favorecer a recaída. O estudo foi realizado no primeiro semestre de 2012 com pessoas que buscam tratamento no Centro de Atenção Psicossocial a álcool e drogas (CAPSad) de Ribeirão Preto e traz resultados que podem subsidiar as ações dos profissionais de saúde que realizam atendimentos e contribuir para uma assistência de qualidade e mais efetiva.

Foram entrevistadas 95 pessoas por meio de questionários sobre o padrão de consumo do crack e cocaína; a gravidade do problema em relação ao uso dessas drogas, bem como o uso do álcool e suas consequências para o organismo; família; trabalho e justiça. Com base nas respostas, a enfermeira Josélia Benedita Carneiro Domingues Rocci, a autora da pesquisa, conseguiu traçar o perfil do usuário dessas drogas que chegam para tratamento no CAPSad de Ribeirão Preto.

A professora Sandra Cristina Pillon, orientadora da tese de doutorado de Josélia, afirma que esse é um dos primeiros trabalhos desenvolvidos na EERP sobre o tema. “Ainda são poucos os estudos para avaliar este perfil, frente ao grande número de usuários de crack que tem buscado por tratamento”, conta.

Segundo Josélia, muitas vezes os usuários de drogas chegam às unidades de saúde com comportamento agressivo e desorientados devido ao uso da substância. Nesses casos, os pacientes precisam de cuidados que vão além de medicamentos. “Não é todo profissional que está capacitado para fazer uma abordagem específica ao dependente e iniciar o tratamento imediatamente, ou encaminhá-lo a um tratamento especializado. Às vezes, o profissional atende e considera-o apenas como mais um usuário ou um bêbado”, afirma. Ela ressalta ainda a importância de se conhecer o perfil destes usuários, bem como os problemas que essas drogas têm gerado na vida desses pacientes, para melhorar o atendimento realizado e evitar consequências futuras.

O perfil do usuário

O estudo mostrou que 58,2% dos atendidos eram usuários de crack e 44,2%, de cocaína. “A maioria era homem adulto-jovem, solteiro, com baixo nível de escolaridade, católico, branco e com trabalhos informais. Porém, é importante salientar que os usuários dessas drogas têm suas particularidades.”

Os usuários de crack, em sua maioria, têm de 30 a 49 anos, baixo nível de escolaridade, são evangélicos e estão fora do mercado de trabalho. “Devido à busca constante pela droga, eles não querem trabalhos que paguem depois de 15 dias ou um mês. Eles querem receber pelo serviço no mesmo dia.”

Já os usuários de cocaína são mais jovens, têm entre 18 e 29 anos, possuem ensino médio completo ou incompleto, são católicos e não possuem nenhum vínculo empregatício. A maioria busca tratamento por iniciativa própria ou de seus familiares. “A família não consegue lidar com essa situação e os colocam para fora de casa. Uns ficam debaixo de pontes, outros em casas abandonadas, sempre sem nenhum recurso, o que agrava o estado de saúde.”

O trabalho aponta também que a maioria dos pacientes é branca. “Geralmente, as pessoas acreditam que os usuários de drogas são negros e pardos. Nós estamos mostrando que, para o crack e a cocaína não existem etnias; qualquer um está sujeito.”

Os resultados também apontam que a maioria dos pacientes, principalmente os viciados em cocaína, contam com apoio familiar, o que os motivou a buscar ajuda após chegarem à situação de busca compulsiva pela droga. Por outro lado, entre os usuários de crack, foram detectados maiores problemas familiares.

“Eu sou contra a internação destas pessoas. Elas devem viver na sociedade e não excluídas”, defende Josélia, baseada nos resultados de sua pesquisa, que apontaram como principal causa da recaída a falta de suporte familiar. “Quando eu perguntei se já tentaram parar de beber ou usar drogas, disseram que não conseguiam porque, em casa, havia alguém que bebia ou era usuário de drogas.”

Como melhorar a assistência

Como respaldo aos profissionais da saúde pública, a pesquisa traz, após análise de aspectos de saúde e vida social, peculiaridades dos usuários de crack e cocaína. Além disso, as relações entre aspectos biopsicossociais e o uso dessas drogas também foram ressaltados. “Os resultados permitem afirmar que, apesar das diferenças pontuadas, os pacientes em tratamento e seus familiares requerem uma assistência diferenciada direcionada as suas necessidades específicas”, afirma a orientadora.

Segundo Josélia, o atendimento dado a essas pessoas só vai melhorar caso os profissionais da saúde conheçam melhor suas necessidades e a família receba maior suporte para auxiliar os dependentes.  “Não se trabalha só com o dependente, mas com a família também”, afirma, concluindo que “o serviço de saúde, na maioria das vezes, não está equipado tanto com recursos técnicos ou com recursos humanos.”

Mais informações: email joselia.rocci@hotmail.com

Scroll to top