Estudo da FFLCH traça paralelos entre obra de Paulinho da Viola e de pensadores

A filósofa Eliete Eça Negreiros desvenda a proximidade entre o sambista e pensadores consagrados, como Platão, Epicuro e Montaigne.

Antonio Carlos Quinto / Agência USP de Notícias

Inspirada em parte da obra do cantor e compositor Paulinho da Viola, a cantora e filósofa Eliete Eça Negreiros empreendeu um estudo na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP: Paulinho da Viola e o elogio do amor. Na tese de doutorado defendida no final de 2012, ela analisa composições de Paulinho, ou por ele interpretadas, traçando paralelos com autores e pensadores da filosofia e da literatura, contemporâneos e antigos, como Epicuro – filósofo da Grécia Antiga -, Olgária Matos, filósofa e orientadora do estudo, José Miguel Wisnik, docente do Departamento de Letras da FFLCH, Platão e Walter Benjamin, entre outros. Mesmo tendo o compositor como tema central do estudo, outros nomes da canção popular também são lembrados. Entre eles, Nélson Cavaquinho, Cartola e Dorival Caymmi.

“Há um diálogo entre as artes e a Filosofia”, avalia Eliete. “Assim como o filósofo cria um discurso, o cancionista cria a canção. Sua expressão artística então é também um modo de pensar o mundo, uma filosofia”, analisa.

Ao traçar tais paralelos, ela observa então como o amor é representado nestas canções. Para tanto, fez um “recorte” dividindo o sentimento em: amor breve; amor melancólico; amor feliz. “Optei por fazer um ensaio abordando estes recortes e a relação deles nas canções de Paulinho com nomes consagrados da filosofia”, descreve.

Os amores

Eliete mostra que a concepção de amor nas composições de Paulinho, ou nas canções que ele canta, quando representado como “o amor breve”, filia-se à tradição do pensamento ocidental que desde os gregos reflete sobre a fragilidade da condição humana e a brevidade da vida. Como num trecho da música “Aquela Felicidade”: Aquela felicidade que você conheceu/ Um dia, na minha vida, já terminou….

O compositor carioca traz em sua lírica a melancolia. “Ela é um dos modos da representação do amor em suas canções”, observa a pesquisadora. É neste espaço que a filósofa descreve o amor melancólico em seu trabalho. E mais uma vez cita o compositor, na música “Nada de novo”: Nada de novo capaz de despertar minha alegria. Para Eliete, a compreensão desse amor melancólico deve levar em conta, a partir das análises de Freud sobre o luto e a melancolia, a maneira pela qual ele e o amor se entrelaçam em sua obra e, em particular, a dificuldade do melancólico em esquecer o passado.

Já em relação à felicidade, ao “amor feliz”, Eliete descreve que há várias concepções de felicidade na obra de Paulinho. “Desde a noção epicurista de felicidade enquanto busca do prazer, até a noção estoica de felicidade enquanto resistência ao sofrimento”.

Ao todo, foram dedicados cerca de quatro anos para a conclusão do estudo que, ainda este ano, será publicado em livro. Aliás, o mesmo caminho de sua dissertação de mestrado. Em março de 2011, a cantora lançou em São Paulo “Ensaiando a canção: Paulinho da Viola e outros escritos”, fruto da pesquisa Ensaiando a Canção: Paulinho da Viola, apresentada na FFLCH em 2002.

Eliete Negreiros canta profissionalmente há 32 anos, tendo gravado seu primeiro disco, “Outros Sons”, em 1982. Somente dez anos mais tarde viria a gravar uma música de Paulinho da Viola, Para ver as Meninas, no disco “Canção Brasileira – A Nossa Bela Alma”. “Cresci ouvindo Paulinho, Wilson Batista, Gal Costa, Bethânia e tantos outros. Posso dizer que as canções do Paulinho da Viola me acompanham por toda vida.”

Mais informações: email elietene@gmail.com

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