Literatura de cordel ganha espaço e reconhecimento no Arquivo do IEB

Equipe do Instituto também vem trabalhando para ajudar no tombamento imaterial da literatura cordelista.
Foto: Wikimedia Commons
Foto: Wikimedia Commons
Cordéis surgiram em Portugal e repercutiram de forma intensa na cultura nordestina

Literatura de Cordel
É poesia popular,
É história contada em versos,
Em estrofes a rimar,
Escrita em papel comum
Feita pra ler ou cantar.

A capa é em xilogravura,
Trabalho de artesão,
Que esculpe em madeira
Um desenho com ponção
Preparando a matriz
Pra fazer reprodução.

Francisco Diniz, por meio de seu poema, além de trazer uma definição original sobre “O que é Literatura de Cordel?”, ilustra a imaginação do leitor a respeito do gênero cordelista. Como o autor explica artisticamente nos 12 versos rimados, os folhetos de cordel surgiram em Portugal, mas chegaram ao Brasil por volta do século 17, onde se adaptaram perfeitamente à cultura nordestina. Em terras lusitanas, os folhetos eram vendidos em feiras e nas ruas pelos próprios autores, após serem dispostos em cordões. Foi justamente esta disposição característica que acabou dando nome a essa forma de literatura.

Em sua maior parte, as capas dos folhetos de cordel contém ilustrações em xilogravura. Devido às rimas, as estrofes comumente são transformadas em músicas por violeiros que recitam e cantam temas que abarcam desde folclore, política e religião até disputas, milagres, a vida dos cangaceiros, morte de personalidades, entre outros que habitam o imaginário popular.

Foto: Wikimedia Commons
Foto: Wikimedia Commons

Uma amostra significativa deste rico universo do cordel está presente no Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da USP, que abriga, além dos próprios folhetos, várias produções sobre a literatura cordelista. O Arquivo do IEB conta atualmente com cerca de 4080 documentos distribuídos entre panfletos, fotografias, registros sonoros, xilogravuras e matérias sobre o assunto. Já o Acervo do IEB abriga uma coleção de folhetos de autores expressivos da literatura de cordel do norte e nordeste brasileiro, como João Martins Athayde, João de Barros, Leandro Gomes de Barros e Patativa do Assaré.

Parceria em projetos

Mais do que abrigar alguns dos documentos mais importantes da literatura popular brasileira, o IEB também participa ativamente de projetos que visam preservar e dar maior reconhecimento para a literatura de cordel. Supervisora Técnica do Serviço de Arquivo do IEB há 4 anos, Elisabete Ribas conta que a Academia Brasileira de Literatura de Cordel (ABLC) levou até o Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) uma proposta de tombamento imaterial do cordel. Desde então, “o IEB está ajudando nesse movimento nacional, com seus especialistas e técnicos, para o registro desse patrimônio imaterial e para que os profissionais dessa área sejam reconhecidos não só como artesãos, mas também como especialistas na arte que eles estão se propondo a fazer”, afirma.

A supervisora revelou também que durante as reuniões do IPHAN percebeu-se que haviam exemplares dos folhetos de cordel espalhados por muitos lugares do Brasil, mas nenhuma instituição disponibilizava um banco de dados e não havia nenhuma relação direta entre elas. Foi aí que “para ajudar o IPHAN que precisava justificar porque o folheto de cordel precisa ser tombado, nós fizemos um extenso levantamento bibliográfico e desenvolvemos uma plataforma interna com nossos dados. Agora estamos esperando um financiamento para desenvolver um portal, mas a situação está bastante complicada”, lamenta Elisabete. Ela enfatiza a participação a estagiária Luciana Arcilla Silva, aluna de Ciência Sociais da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP e principal responsável pela coleta e organização desses dados.

Foto: Marcos Santos / USP Imagens
Foto: Marcos Santos / USP Imagens
Xilogravura do Arquivo do IEB

Professor de História do IEB desde 2003, Paulo Teixeira Iumatti é especialista em literatura de cordel. Para ele o “acervo de literatura de cordel é um dos mais importante do Brasil tanto em termos quantitativos quanto em termos qualitativos. Uma coleção que abrange praticamente toda a história da literatura de cordel até hoje”. Iumatti ressalta a importância de trazer a literatura popular para dentro do meio acadêmico, pois, segundo ele, “essa literatura é muito estratégica para despertar o interesse das pessoas e dos pesquisadores para estudar a invenção do que a gente chama de cultura brasileira.”

De acordo com Iumatti, o IEB está passando por um momento muito feliz, pois “vários professores do Instituto estão interessados em desenvolver projetos sobre literatura de cordel e acho que a tendência é se aprofundar mesmo”. O professor pontua ainda que a transferência para o prédio novo deve aumentar a visibilidade e despertar ainda mais olhares para o tema.

A nova sede

Foto: Marcos Santos / USP Imagens
Foto: Marcos Santos / USP Imagens

Depois de alguns anos de espera, o IEB está começando sua mudança para o Complexo Brasiliana. O Arquivo será o primeiro dos três setores que compõem o Acervo do Instituto que se deslocará para o novo edifício. Segundo Elisabete Ribas, os 5 funcionários e os 26 estagiários estão se preparando há dois anos para esse processo e a expectativa é finalizar a mudança até o dia 12 de junho, quando começa a Copa do Mundo no país.

Assim como o professor, Elisabete está otimista com a nova casa. Para a especialista em Arquivologia, “a estrutura vai ser melhor, sem dúvidas. Onde estamos atualmente é uma colmeia que foi adaptada. No outro prédio teremos condições estruturais e espaço de armazenamento muito melhores”, relata.

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