Técnica da Personalidade Resistente tem função de proteção contra o estresse, aponta pesquisa

Algumas características na personalidade da pessoa promovem maior resistência ao estresse. Método pode ser aprendido, aprimorando o “compromisso”, “controle” e “desafio” do profissional.

Paloma Rodrigues / Agência USP

Estudo com enfermeiros de um pronto-socorro de Vitória (ES) comprovou que o Hardiness tem a função de proteção contra o estresse e a insatisfação no trabalho. Hardiness ou Personalidade Resistente é a constatação de que algumas características na personalidade da pessoa promovem maior resistência ao estresse. A pesquisadora Karla de Melo Batista, da Escola de Enfermagem (EE) da USP, compilou dados que apontam que quanto maior o Hardiness, menor o estresse da pessoa, confirmando sua efetividade na melhora da qualidade de vida do trabalhador.

Foram analisados 72 enfermeiros do Hospital Universitário da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). O estudo utilizou a diversos instrumentos para a coleta de dados. Os principais foram as escalas autoaplicáveis: Escala de Hardiness, validada no Brasil pela professora Patrícia Serrano, da PUC-SP, e a Escala Bianchi de Stress, desenvolvida pela professora Estela Regina Ferraz Bianchi, coordenadora do grupo de pesquisa “Stress, Cooping e Trabalho” da EE da USP e também orientadora deste trabalho de doutorado.

As escalas apresentavam uma série de questões, cujas alternativas representam uma determinada pontuação. Por exemplo, a Escala Bianchi de Stress permite que o voluntário responda entre “baixo”, “médio”, “alerta” e “alto”. Já a Escala de Hardiness permite que a questão seja respondida com “não verdadeiro”, “pouco verdadeiro”, “mais ou menos verdadeiro” e “totalmente verdadeiro”. Cada alternativa tem um valor fixo pré-determinado. Ao final, o número de pontos feito pela pessoa indicará a qual grupo ela pertence, podendo variar entre não estressado e muito estressado.

A Escala de Hardiness é reconhecida internacionalmente. A pesquisa de Karla, Stress e Hardiness entre enfermeiros hospitalares, foi a primeira a se utilizar dela no Brasil. “O objetivo inicial era validar essa escala no país e depois refletir sobre as novas questões que ela levantaria”, diz Karla.

Fatores preditores do estresse

Os profissionais foram abordados em um mesmo período e analisados em conjunto. Isso evitou a identificação dos enfermeiros, pois eles permaneceram em um bloco conciso. Foram aplicadas as duas escalas, de Hardiness e de Stress

A ampla maioria era do sexo feminino, evidenciando uma característica da profissão. O fato de não ter recolhido dados de muitos homens fez com que Karla decidisse não refletir sobre a questão do gênero no contexto do estresse desse tipo de profissional.

O ponto da idade foi o que se mostrou mais diverso. Foram encontrados recém-formados e muitos veteranos. Karla diz que o fator da experiência influencia muito na capacidade de o enfermeiro desenvolver o Hardiness. “ A questão da graduação foi alto que se sobressaltou. O enfermeiro que não tem pós-graduação tem maior nível de estresse. Ele tem mais dificuldade para coordenar suas atividades e isso o torna mais estressado”, completa.

Karla diz ainda que se surpreendeu com o nível de estresse dos enfermeiros. “Eles apresentam um nível médio de estresse. Isso foi uma surpresa porque eu achei que eles seriam mais estressados”.

Importância do Hardiness

O Hardiness é reconhecido em diversos países, proporcionando, segundo a literatura, melhor adaptação ou ajustamento a diversas doenças, como doenças pulmonares, síndrome da imunodeficiência adquirida, AIDS, hipertensão, esquizofrenia, transplante infantil e doença renal.

Pelo fato do “compromisso”, “controle” e “desafio” serem características da personalidade, Hardiness pode ser apreendido ou aumentado por meio de atividades de aprendizagem. Apesar disso, o conceito ainda ainda é pouco difundido no Brasil.

Ao aprimorar seu compromisso, controle, objetivos e capacidade de enfrentar desafios, o enfermeiro (e o profissional em geral) atua melhor e aumenta seu rendimento. “Essa pesquisa mostra o quanto o Hardiness é sim efetivo e pode auxiliar as instituições de saúde, melhorando o desempenho dos enfermeiros”, diz a pesquisadora.

Mais informações: email kmbati@gmail.com

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