Corrente dominante da economia se afasta da realidade, critica pesquisador

Para professor da FEA, a corrente dominante da economia se preocupa com elegância e formalismo sem confrontar suas pesquisas, caindo no irrealismo econômico

Paloma Rodrigues / Agência USP

Pesquisas no campo da economia provenientes da corrente dominante são geralmente irrealistas. Previsões feitas por economistas de prestígio e grandes instituições de pesquisa tendem a apresentar resultados largamente falhos e imprecisos. Isso acontece porque elas não tentam se aproximar da realidade. Segundo pesquisa do professor e economista Emilio Cherñavsky, da Faculdade de Administração, Economia e Contabilidade (FEA) da USP, eles partem de modelos que negligenciam as condições do mundo real. Ou seja, são estudos que só funcionam no papel.

O irrealismo é característico da abordagem que não consegue atender às características do cenário econômico vigente, ou seja, se prega a métodos e modelos que não contemplam os desafios por que passa o mercado. “Esse tipo de modelo não é bem sucedido em encontrar uma parcela relevante da realidade. Ele negligencia as proposições nesse sentido”, coloca Cherñavsky.

O mundo real e o mundo do pesquisador

Para exemplificar a questão, Cherñavsky faz um paralelo entre o mundo real e o que ele denomina  “mundinho” criado pelo pesquisador. “Durante a elaboração de uma teoria, o pesquisador coloca seu modelo dentro de um mundo, onde os problemas e os desafios são ditados só por ele. Ninguém confronta suas informações”, descreve o economista.

Para entender a realidade, os economistas devem propor mecanismos para este “mundinho” que também acreditem funcionar no mundo real, podendo assim compreendê-lo.

 

Nos gráficos (acima e abaixo) é possível, segundo o professor, perceber erros bastante grosseiros cometidos pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e pelo Banco Mundial a menos de um ano do agravamento da crise. Essas instituições apontavam para 2008 uma expansão de produto de, respectivamente, 80% e 94% a mais do que realmente aconteceu. Para o ano seguinte, 2009, seus apontamentos foram ainda mais errados . Como neste exemplo de 2009:

 

Erros desse tipo acontecem com bastante frequência no cenário econômico. Eles são cometidos por entidades julgadas seguras e confiáveis. Para Cherñavsky, os erros são produto da negligência destes profissionais. “Os economistas ficam preocupados com critérios como elegância, formalismo, consistência com equilíbrio e tratabilidade matemática dos modelos e não se atém à aderência desses pontos à realidade”, explica.

No Brasil

O Banco Central coleta e divulga semanalmente no relatório Focus as previsões econômicas elaboradas, principalmente, por instituições financeiras e consultorias econômicas. Essas previsões possuem um papel central na operação da política monetária por parte do Banco Central, afetando decisivamente o valor da taxa Selic, a taxa básica de juros da economia.

“A despeito dessa importância, o desempenho dessas previsões não têm sido satisfatório, pois elas erram muito, mostrando-se pouco exatas”, avalia.

Cherñavsky diz que é fundamental que se perceba esse comportamento, uma visão mais crítica das proposições da corrente dominante na ciência econômica. Saber que dali podem prover erros, faz com que as pessoas tentem encontrar outras ideias e opiniões sobre o estado da economia. “Precisamos mudar as atitudes e mostrar o quanto esse tipo de comportamento tem levado a resultados ruins”, completa.

A tese de doutorado No mundo da fantasia: uma investigação sobre o irrealismo na ciência econômica e suas causas foi defendida em 2011 e foi orientada pela professora Leda Maria Paulani, professora Titular da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP e presidente da Sociedade Brasileira de Economia Política.

Mais informações: email echernavsky@usp.br

 

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