Trabalho precoce prejudica rendimento escolar de estudantes

Filhos de migrantes são inseridos no mercado de trabalho desprotegido do aparato legal, o que prejudica sua escolarização.

Crislaine Messias / Serviço de Comunicação Social da Prefeitura do Campus em Ribeirão Preto

Filhos de migrantes rurais da região de Ribeirão Preto apresentam prejuízos na vida escolar por causa da inserção precoce e precária no mercado de trabalho. “A legislação deveria protegê-los, mas isso não acontece”, afirma a psicóloga Edinalva Santana que está acompanhando a rotina de adolescentes-trabalhadores matriculados em uma escola na periferia de Guariba, no interior de São Paulo. Guariba fica na região de Ribeirão Preto e é habitada basicamente por famílias com histórico de migração; a principal atividade econômica é o agronegócio, com destaque para o cultivo da cana de açúcar.

Na pesquisa de mestrado Entre o trabalho e a escola: adolescentes que estudam e trabalham, filhos de migrantes, Edinalva e  sua orientadora Vera Navarro, professora do Departamento de Psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, investigaram como adolescentes, filhos de trabalhadores rurais migrantes, se inserem no mercado de trabalho e conciliam o estudo e a atividade laboral.

Os resultados iniciais do estudo mostram que o trabalho no período escolar é uma realidade na vida de todos os entrevistados: 30 adolescentes, de ambos os sexos e idade entre 14 e 18 anos. “Movidos pelas dificuldades financeiras, eles precisam, logo cedo, conciliar o estudo com o trabalho, mas com muitos prejuízos à vida escolar e até mesmo à saúde”, afirma a psicóloga.

Saúde

Para ajudar no sustento da casa, esses adolescentes começam a trabalhar como ajudantes em açougues, salão de beleza (com uso de produtos químicos), empregadas domésticas. Esses trabalhos são proibidos por lei e classificados como trabalho infantil.

Edinalva alerta que, “além de afetar a vida escolar, esses estudantes-trabalhadores, muitas vezes, ficam expostos principalmente a risco de saúde, pois desenvolvem atividades sem nenhuma proteção ou preocupação com a lei”.

De acordo com a pesquisadora, pela legislação, o trabalho realizado por adolescentes entre dezesseis e dezessete anos é permitido, porém deve ser exercido em condições que respeitem seu desenvolvimento. Se a legislação for desrespeitada e o trabalho do adolescente for impróprio a sua idade, esse trabalho também é considerado trabalho infantil.

Educação

A pesquisa mostra ainda que, além deles estarem empregados em trabalhos inadequados, com salários inadequados, exaustivos, alguns desenvolvidos no período noturno, essas condições afetam a escolarização.

A maioria dos adolescentes não encontra tempo suficiente para se prepararem para as provas escolares. Alguns chegam atrasados, faltam e até dormem na sala de aula. “Há prejuízo da vida escolar, com baixa no rendimento devido ao cansaço advindos dos horários inadequados do trabalho. E, mais, esse rendimento escolar fica abaixo da média quando comparado aos índices dos demais alunos.”

A pesquisadora garante que as leis trabalhistas que coíbem essa prática existem, mas são vulneráveis e deixam margem para que ocorra desde cedo exploração na vida profissional desses adolescentes.

Mais informações: email vnavarro@usp.br

Scroll to top