Mestrado profissional em administração traz soluções reais para empresas

Encontro de Mestrados Profissionais em Administração na FEA trouxe para discussão cases de empresas como Itaipu, Flytour American Express, Orguel, Whirpool, Embraer e Johnson Controls.

Cacilda Luna / Assessoria de Comunicação da FEA

Foto: Divulgação / Itaipu Binacional
Foto: Divulgação / Itaipu Binacional

A Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP promoveu, entre os dias 14 e 15 de agosto, o Emprad – Encontro de Mestrados Profissionais em Administração, com apoio da FECAP, FIA, Uninove e Volkswagen. O objetivo do encontro, o primeiro do gênero no país, visou divulgar essa modalidade de pós-graduação stricto sensu, que passou a ser oferecida na USP, com a finalidade de atender às necessidades dos profissionais que necessitam de qualificação, mas não pretendem seguir carreira acadêmica de ensino e pesquisa. Diferente do MBA, o curso é gratuito e confere grau. Na FEA, teve início este ano o Mestrado Profissional em Empreendedorismo, com uma turma de 20 alunos, que passaram por uma rigorosa seleção.

Coordenado pelo professor Martinho Isnard Ribeiro de Almeida, o Emprad trouxe para discussão diversos cases de empresas como Itaipu, Flytour American Express, Orguel, Whirpool, Embraer e Johnson Controls, que foram analisados por professores e debatidos com o público presente. Os cases mostraram como é possível juntar o conhecimento teórico da academia à experiência profissional, auxiliando as empresas a encontrarem respostas que precisam para melhorar a eficiência de seus negócios.

Em sua exposição, o superintendente de Operação de Itaipu, Celso Villar Torino, falou sobre seu trabalho “Produção de Energia com Alta Performance – Estratégia, Métodos, Cultura e Pessoas”. Engenheiro com especialização em automação, Torino foi aluno do MBA executivo da FIA, onde se formou em 2011. Orientado pelo professor Carlos Honorato, ele conseguiu com seu trabalho otimizar a produção de energia da hidrelétrica e melhorar a produtividade da empresa, por meio da aplicação dos conceitos da Teoria das Restrições na gestão da usina.

Foto: Divulgação
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Em 2012 e 2013, a usina hidrelétrica Itaipu bateu recordes de produção de energia, atingindo cerca de 98 milhões de MWh/ano, 7 milhões de megawatts-hora a mais do que a média dos cinco anos anteriores ao biênio. Para efeitos comparativos, essa quantidade de energia elétrica seria capaz de atender o consumo do Estado de São Paulo por 287 dias. Os recordes de produção foram resultados de uma estratégia adotada pela empresa, apelidada de “dança das águas”, com base no trabalho de conclusão de curso (TCC) de Torino.

Maior produtora de energia elétrica do mundo, a Itaipu Binacional entrou em operação há 30 anos. Com 20 unidades geradoras, sua produção é destinada 92% para o Brasil e 8% ao Paraguai, representando 17% do mercado de energia brasileiro. Até 1992, havia 18 unidades em operação. Em 2007, mais duas unidades foram instaladas, mas por restrições impostas pelo acordo tripartite entre Brasil, Paraguai e Argentina, somente 18 unidades poderiam operar simultaneamente. O acordo estabelecia os níveis do Rio Paraná, para que não houvesse transbordamento do Rio da Prata. Por conta disso, duas unidades deveriam estar sempre em manutenção preventiva.

De acordo com Torino, o aproveitamento da usina estava abaixo de sua capacidade. A média de produção de Itaipu entre 2007 e 2011 foi de 91 milhões de MWh/ano. “No ramo de usinas hidrelétricas é muito difícil saber o quanto a gente vai produzir no ano, porque nosso insumo é água e existe uma série de incertezas, mas depois que o ano já fecha a gente consegue ver bem o quanto a gente poderia ter produzido”. Em 2010, por exemplo, caso o aproveitamento tivesse atingido seu pico, a produção poderia ter chegado a 101 milhões MWh/ano. O que foi feito então para que a usina alcançasse os recordes no biênio 2012-2013?

Dança das águas

Foto: Divulgação / Whirlpool S.A.
Foto: Divulgação / Whirlpool S.A.

Em julho de 2011, uma das máquinas de Itaipu estava programada para entrar em manutenção preventiva, mas a área de hidrologia avisou sobre a chegada de uma grande afluência de água. Se o início da manutenção fosse postergado em 3 dias, a unidade poderia produzir 39 mil MW por hora. “Nosso reservatório estava cheio e se a gente não fizesse isso, toda a água seria jogada no vertedouro. A empresa deixaria de faturar US$ 1 milhão, o valor agregado dessa energia no mercado”, contou Torino.

Mas para tomar essa decisão não era simples. Envolvia uma série de questões, prazos acordados, discussões entre as áreas de produção e manutenção, mas principalmente enfrentar a resistência dos funcionários acostumados a seguir regras pré-estabelecidas. A postura da empresa diante desse cenário era de que não poderia deixar de cumprir prazos. O superintendente de Operação disse que ouvia frases do tipo: “agora não dá mais, está tudo parado” ou “o timing da manutenção é diferente”.

Segundo Torino, a decisão era muito complexa, mas faria aumentar a chance de 19 unidades geradoras funcionarem o tempo todo. O principal desafio era convencer as várias instâncias da empresa de que as paradas das máquinas deveriam se subordinar ao “sinal hidrológico”, por isso a estratégia foi apelidada de “dança das águas”. Na prática, a manutenção obedeceria a um calendário flexível, baseado nas previsões hidrológicas, que trabalham com um prazo máximo de 10 dias.

Foto: Divulgação / Itaipu Binacional
Foto: Divulgação / Itaipu Binacional

“O que estava acontecendo dentro da usina? Havia uma meta da empresa de aumentar a disponibilidade das unidades geradoras – maior do que 94% – a fim de melhorar a eficiência do sistema. E isso deixava a nossa área de manutenção apavorada, porque significava diminuir a disponibilidade para fazer as manutenções”, recorda-se o engenheiro Celso Torino.

Segundo ele, nesse caso foi aplicada a Teoria das Restrições, um paradigma de gestão que considera qualquer sistema gerenciável como sendo limitado em alcançar a maioria de seus objetivos por um número pequeno de restrições. De acordo com a estratégia, 18 unidades geradoras focariam a produção, uma focaria as manutenções prioritárias e a última unidade teria como prioridade “proteger a produção” entrando em operação caso houvesse desperdício de água.

Além da gestão interna, com maior sinergia entre as áreas de produção e manutenção, Itaipu melhorou a coordenação e a otimização dos trabalhos entre a usina e as empresas parceiras (Eletrobras, ONS, Furnas, Copel e Ande). Em 2012, Itaipu bateu seu recorde mundial de produção de energia elétrica alcançando o pico de 98,2 milhões de MWh/ano. O maior volume produzido até então tinha sido em 2000, quando Itaipu gerou 93,4 milhões de MWh/ano. No ano seguinte, 2013, um novo recorde: 98,6 milhões de MWh/ano.

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