Estudo avalia promoção da saúde em empresas de alimentos

Somente metade das maiores indústrias do setor produzem relatórios sociais adequados à realidade brasileira.

Da Agência USP de Notícias

No Brasil, somente 50% das empresas líderes no mercado de alimentos embalados produzem relatórios sociais corporativos específicos para o País. Segundo pesquisa realizada na Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, as demais utilizam os documentos globais como referência para ações estratégicas locais. “Quando se fala em relatórios sociais corporativos nos referimos tanto aos resultados das empresas, quanto aos compromissos que estas corporações assumem em relação à sustentabilidade e promoção da saúde da população, por exemplo, incluindo a própria produção do alimento, as iniciativas de educação nutricional e adoção de códigos de conduta voluntários”, descreve Maria Fernanda Elias.

A pesquisadora é autora da tese de doutorado Promoção da saúde: ações das indústrias de alimentos no Brasil. O estudo foi realizado entre 2010 e 2014, sob orientação da professora Sonia Tucunduva Philippi, do Departamento de Nutrição da FSP, e verificou se os relatórios sociais corporativos das empresas estariam compatíveis com a realidade brasileira.

Para determinar as indústrias alimentícias líderes do mercado nacional que compuseram o estudo, Maria Fernanda tomou como base os índices de faturamento referentes ao ano de 2012. “Os números são de 2012, mas publicados em 2013”, lembra a pesquisadora. Com base nestes dados, foram analisadas as empresas Nestlé, BRF Brasil Foods, Mondelez, Danone, Unilever, Pepsico, Bunge, LBR Lácteos Brasil, Cargill e M Dias Branco, de acordo com o valor de venda varejo divulgado pelo instituto de pesquisa Euromonitor International.

A partir daí, Maria Fernanda avaliou as ações dos fabricantes de alimentos no Brasil na promoção da saúde da população, além de comparar iniciativas locais e globais. Ela tomou como base um Relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS) que contém diretrizes às indústrias de alimentação no que diz respeito à promoção da saúde entre a população. Mais tarde, em 2006, cientistas da London City University, do Reino Unido, realizaram um estudo comparando e avaliando as diretrizes da OMS em relação à postura de empresas. “Na verdade, utilizei a mesma metodologia deste estudo britânico para aferir, aqui no Brasil, como estava a situação entre as dez maiores do setor”, conta.

Evolução

“Atualmente, 90% das empresas líderes de mercado mencionaram compromissos associados à promoção da saúde e elaboração de produtos mais nutritivos, especificamente com relação aos teores de açúcares, gorduras e sódio — ingredientes sensíveis para a saúde pública”, explica Maria Fernanda. “Esse resultado é identificado como uma grande evolução, já que em 2006 apenas 40% das empresas apresentavam o mesmo direcionamento no âmbito global”.

Por outro lado, ao avaliar o portfólio de produtos oferecidos pelas empresas, observou-se um desequilíbrio na oferta, quando comparada às recomendações da Pirâmide dos Alimentos, elaborada pela professora Sonia Tucunduva Philippi, orientadora da tese. Os grupos “Açúcares e Doces” e “Óleos e Gorduras” são oferecidos em uma quantidade maior que o preconizado, enquanto que “Frutas” e ”Verduras e Legumes” em quantidade bem menor.

A pesquisa de caráter exploratório utilizou os relatórios sociais corporativos como fontes de informação, além dos dados divulgados nos websites das empresas envolvidas. Um roteiro de perguntas estruturado avaliou aspectos associados ao desenvolvimento de produtos com perfil nutricional saudável, políticas sobre publicidade de alimentos direcionadas para crianças, posicionamento sobre rotulagem de produtos, engajamento com os stakeholders, atividades de educação nutricional, a existência de indicadores de desempenho, entre outros.

Segundo a pesquisa, ainda há um grande caminho a ser traçado para obtenção de um panorama ideal no País, mas que houve um grande avanço quando comparado há resultados obtidos por meio de um estudo global realizado em 2006.

Outra conclusão é que a ausência de relatório local prejudica as ações de promoção da saúde no Brasil, visto que não são considerados os hábitos, características e demandas da região, além de não serem estabelecidos compromissos e metas claras e mensuráveis.

Os resultados da tese já foram apresentados na University of British Columbia (Canadá), no Fourth International Conference on Health, Wellness & Society. Serão apresentados ainda no III World Congress of Public Health Nutrition (Espanha) e na University of California (Estados Unidos) durante a Conference on Knowledge, Culture and Change in Organizations.

Mais informações: email mfelias@usp.br

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