Favelas brasileiras são protagonistas de livro lançado na FEA

Renato Meirelles e Celso Athayde basearam o livro "Um país chamado favela" em uma pesquisa que contou com cerca de duas mil entrevistas e foi realizada em 63 favelas de 35 cidades.

Anaís Motta / Assessoria de Imprensa da FEA

Hoje, no Brasil, 12 milhões de pessoas moram em favelas. Destas, 53% já admitiram ter faltado dinheiro para comprar comida, e 94% se consideram felizes. No livro “Um país chamado favela”, lançado no dia 11 de novembro na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP, Renato Meirelles e Celso Athayde promovem um protagonismo social aos moradores das favelas brasileiras e rompem a lógica que os coloca como coadjuvantes da própria história e realidade. A obra foi baseada em uma pesquisa, que contou com cerca de duas mil entrevistas e foi realizada em 63 favelas de 35 cidades.

Athayde é fundador da Central Única das Favelas (CUFA), a maior organização não-governamental focada nas favelas do Brasil, e Meirelles é sócio-diretor do Data Popular, instituto de pesquisa das classes C, D e E brasileiras. Nenhum dos dois autores quis tratar as comunidades como ratos de laboratório durante o estudo e, por isso, decidiram criar o Data Favela, que visava aplicar uma pesquisa de mercado feita e interpretada pelos próprios moradores das favelas. “Selecionamos uma equipe do Data Popular para qualificar uma galera da CUFA que morava em favelas para aplicar os questionários aos outros residentes. A ideia não era fazer uma coisa sobre a favela, mas sim para a favela”, explica Meirelles.

Segundo dados apresentados pelo autor, a renda familiar média dos 25% mais pobres no Brasil foi a que mais cresceu nos últimos anos, o que fez surgir a chamada nova classe média. Esta, agora estrela principal de um mercado interno crescente, despontou a partir do controle da inflação primeiramente trazido pelo Plano Real, e se sustentou com o consequente aumento do emprego formal, a maior facilidade de crédito e o aumento do consumo. “Pouca gente acreditava que a classe C fosse ganhar a força que ganhou no mercado brasileiro”, afirma Meirelles.

Esta nova classe média brasileira é composta por famílias que possuem renda domiciliar per capita entre R$ 320,00 e R$ 1120,00, valor que, apesar de aparentemente baixo, estabelece essa camada social como mais rica que 54% da população do planeta, aproximadamente 3,8 bilhões de pessoas. “Também tentamos comparar esses dados somente aos da classe média dos Estados Unidos, já que muita gente me pedia para fazer isso, mas notamos que não dá. Utilizando a metodologia da paridade de poder de compra, percebemos que a classe média norte-americana é mais rica que 89% da população mundial. Não é parâmetro de comparação com absolutamente nada”, conta Meirelles.

Ainda há muito a ser feito por essa parcela da população que, apesar de pertencente a uma nova camada social e ser detentora de notável poder de compra, ainda sofre bastante com a escassez de recursos, saneamento e boas condições de vida. A situação melhorou: atualmente, o consumo das favelas brasileiras é maior do que o do Paraguai e da Bolívia – e quase igual ao dos dois países sul-americanos juntos. Mais de 70% dos jovens entre 18 e 30 anos de idade residentes dessas comunidades já estudaram mais que seus pais, e 16% dos moradores das favelas já viajaram de avião. O progresso é claramente uma tendência – não à toa, 66% das pessoas que moram em comunidades disseram que não gostariam de sair das favelas nem se sua renda dobrasse.

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