Pesquisadora da FFLCH destaca conteúdo politizado do Le Monde Diplomatique Brasil

Versão brasileira da revista francesa inicia bem sua trajetória no Brasil, com conteúdo crítico reflexivo

Paloma Rodrigues/Agência USP de Notícias

A versão brasileira da revista Le Monde Diplomatique se firma no País propondo um conteúdo crítico reflexivo para seus leitores. A historiadora e jornalista Juliana Sayuri, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, analisou as edições mensais desde 2007, quando a publicação ingressou no mercado nacional. Partindo do princípio de que não há jornalismo imparcial, o “Diplô” — como é chamado — veicula textos politizados e articulados com movimentos sociais. A revista mostra que é possível se manter vivo dentro do mercado consumidor oferecendo uma outra proposta que não a do hard news, mas com artigos extensos e elaborados de pesquisadores, professores e intelectuais.

À primeira vista, Le Monde Diplomatique Brasil se destaca na mídia nacional pela singularidade de seu projeto editorial. A publicação tem 40 páginas preenchidas por análises sobre a realidade sócio-política, com o prestígio herdado do modelo francês a partir de sua edição francesa, matriz de mais de 60 edições internacionais. Mas Juliana destaca que “um olhar mais atento revela o projeto político da revista, conquistando relevância histórica singular para a compreensão da contemporaneidade”.

São dezenas de versões internacionais do Diplô. Todas seguem um padrão: 60% do conteúdo tem de ser proveniente da matriz francesa; os outros 40% podem ser produzidos ou rearranjados pelas edições nacionais. “No caso do Brasil, é possível perceber que existe uma boa relação com a publicação Argentina em especial. Mas, no geral, os textos produzidos na América Latina são bastante utilizados na edição brasileira”, diz Juliana.

O Le Monde Diplomatique surgiu para ser um suplemento do jornal Le Monde, da França. Desde o início, as publicações tinham equipes separadas, mas o comando era o mesmo para os dois. Com o tempo, o Diplô conseguiu a autonomia administrativa. A partir disso, ampliou suas pautas para além das questões diplomáticas e seguiu caminhos mais analíticos da política global.

Conteúdo específico

A sede do Diplô no Brasil fica em São Paulo. A maioria dos funcionários in loco é de editores e revisores de textos. “É o pessoal que fica na redação que seleciona o que será usado da versão francesa e que pautas têm de ser acrescentadas para complementar a edição brasileira”, explica.

A revista trabalha com colaboradores que enviam seus textos de diversas partes do Brasil, de modo que eles não estão concentrados em uma redação. “O corpo de pessoas que elabora o Diplô é muito diverso e amplo: são professores, pesquisadores e intelectuais. É um tipo de conteúdo muito competente, com artigos de intelectuais que são consagrados na Europa”, aponta Juliana.

Ela diz acreditar ser este um dos pontos mais positivos da revista, pois ela dá ao público a possibilidade de consumir uma informação mais trabalhada, reflexiva e com embasamento social. “Um dos editores do Le Monde Diplomatique Brasil me disse uma frase que responde muito bem a esta questão: A informação é importante, mas a análise é fundamental.”

A pesquisadora diz que por conta dessas características específicas, o Diplô alcança uma gama também específica da população. “O Diplô não tem a intenção de concorrer com os grandes veículos brasileiros, pois ele entende que essa não é sua filosofia. É uma revista que é feita para atingir aqueles que querem consumir aquele tipo de conteúdo e não para lutar pelo mercado”, conclui.

Desta maneira, a revista “se paga”, segundo Juliana. Sua arrecadação com vendas e patrocínios permite que ela continue existindo e mantendo seus funcionários. Entretanto, a revista não alcança uma grande margem de lucro, de modo a ameaçar seus concorrentes.

Para ela, a revista conseguiu se inserir de maneira satisfatória no mercado brasileiro e cumprir com suas propostas. Ainda assim, Juliana acredita que as matérias podem ir além do que já vão. “A revista geralmente publica grandes dossiês, mas depois não toca mais no assunto. Seria interessante ver um acompanhamento, uma continuação ou menção a esses conteúdos”.

A dissertação de mestrado Le Monde Diplomatique Brasil: por uma história possível foi defendida em 2011 e orientada pela professora Maria Aparecida de Aquino, também da FFLCH.

Mais informações: email julianasayuri.o@gmail.com

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