Estudo da FEA mostra como abertura de capital é opção para crescimento e redução de dívidas

Processo é utilizado pelas empresas para captar recursos para a expansão de suas atividades, ter um referencial de seu valor, profissionalizar a gestão da companhia ou mesmo como uma alternativa para a sucessão.

Bruno Capelas/Agência USP de Notícias

A oferta pública inicial de ações (também conhecida como IPO, na sigla em inglês) é um processo utilizado pelas empresas para captar recursos para a expansão de suas atividades, ter um referencial de seu valor, profissionalizar a gestão da companhia ou mesmo como uma alternativa para a sucessão, no caso de uma empresa familiar. Na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP um estudo pesquisou as companhias brasileiras que abriram seu capital na Bolsa de Valores entre os anos de 2004 e 2010, período marcado pelo maior número de IPOs da história recente do País.

“Os resultados indicam que as empresas que abriram o capital foram aquelas que vinham investindo significativamente no seu crescimento e/ou aquelas que vinham aumentando o seu endividamento e encontraram na abertura de capital uma alternativa para adequar a sua estrutura de capital (diminuir a relação de dívida versus capital próprio)”, conta o administrador Bruno Cals de Oliveira, responsável pelo estudo de mestrado Fatores determinantes para abertura de capital de empresas brasileiras, orientado pelo professor Roy Martelanc.

A pesquisa de Cals mostrou que as empresas encontraram na abertura de capital uma boa opção para continuar investindo e crescendo. “Além disso, as empresas que iniciaram a negociação de suas ações apresentaram maior nível de rentabilidade, aproveitando uma janela de oportunidade do mercado para fazer seu IPO”, conta ele. Cerca de 130 companhias brasileiras abriram seu capital entre 2004 e 2011 — 64 delas o fizeram durante o ano de 2007, estabelecendo um recorde.

Conjuntura econômica

Cals conta que o contexto financeiro da época também ajudou nesse processo: “Se os setores da economia não estão crescendo, as empresas não precisariam de recursos para expandir. Se elas não precisam de recursos, do ponto de vista financeiro, não seria necessário o IPO”. Ele ainda acrescenta que a taxa de juros é um fator muito importante para a confiança dos investidores, propensos a comprarem ações de organizações em IPO. “Quando a taxa de juros está alta, os investidores preferem ter uma renda fixa de 20% ao ano a buscar uma rentabilidade maior, mas com um risco maior. À medida que as taxas de juros vão caindo (atualmente está em torno de 10,50% ao ano), os investidores podem optar por correr um maior risco em vistas a maior rentabilidade”, diz ele.

O pesquisador ainda explica que o aumento no número de aberturas de capital também foi facilitado graças à criação de regras mais rígidas para a entrada de empresas na Bolsa de Valores, em dezembro de 2000. “Foram criadas regras além daquelas exigidas pela legislação vigente (Lei das Sociedades Anônimas – Lei 6.404/76) que aumentavam a transparência das empresas e, consequentemente, a confiança que o investidor, principalmente internacional, poderia ter ao aplicar seu dinheiro em ações no Brasil”.

Sudeste

De acordo com o estudo, as empresas localizadas na região Sudeste são as mais propensas à abertura de capital, devido a um possível fator cultural. “A concentração econômica nesta região faz com que empresários de outras regiões possam ter uma resistência a abertura de capital, seja pela distância do grande polo financeiro, seja pela menor convivência no ambiente do mercado de capitais”, explica o administrador.

Outro dado interessante é que o tamanho das empresas não foi significante para que as empresas da amostra estudada abrissem capital ou não. “O Brasil tem vivenciado IPOs de empresas ainda pequenas, pré-operacionais, e também o fato de ainda existirem inúmeras empresas grandes que optaram por não iniciar negociação de suas ações em bolsa de valores”, diz Cals.

Método e limite

Por intermédio de dados fornecidos pela Fundação Instituto de Pesquisa Contábeis, Atuariais e Financeira (Fipecafi), entidade ligada à FEA, Cals analisou os dados pela regressão logística com dados agrupados e a regressão logística com dados em painel. Esse tipo de análise permite calcular quais variáveis impactam positivamente ou negativamente outras variáveis.

“Avaliamos o impacto de diversas variáveis [tamanho, nível de investimento, estrutura de capital, localização geográfica, entre outras] na probabilidade de abertura de capital de empresas brasileiras”, explica o pesquisador “Essa é uma pesquisa que foi limitada ao período compreendido entre os anos de 2004 e 2010. Ela não serve como previsão do que pode acontecer, uma vez que a realidade futura das empresas pode mudar de acordo com os avanços e as mudanças da economia brasileira.”

Mais informações: email brunocalsadm@usp.br

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