Núcleo na FEA estuda questões ambientais pela perspectiva econômica

Grupo pretende demonstrar, através da criação de cenários econômicos, que é possível desenvolver um modelo de crescimento atrelado à sustentabilidade.

O mundo se prepara para a Rio+20, que acontece este ano, duas décadas após as conferências Eco-92 e Rio-92. De lá para cá, as preocupações ambientais se intensificaram – contexto em que foi criado o Núcleo de Estudos em Contabilidade e Meio Ambiente (NECMA), na Faculdade de Economia, Admnistração e Contabilidade (FEA) da USP. Se contabilidade e meio ambiente soam como áreas distantes, a prática mostra justamente o contrário. “A solução requer a ajuda de todos, inclusiva da força econômica”, declara professor José Roberto Kassai, coordenador do Núcleo.

Visando esta abordagem multidisciplinar – e necessária – da questão do meio ambiente, o grupo conta também com cerca de 40 pesquisadores divididos entre unidades da USP, como o Instituto de Biociências (IB) e o Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG); o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN); e outras universidades, como a UFRJ e a Unicamp.

Um dos principais objetivos do núcleo é demonstrar, através da criação de diversos cenários econômicos, que é possível desenvolver um modelo de crescimento atrelado à sustentabilidade. Para isso, o NECMA mensura os aspectos sociais e econômicos da sustentabilidade, demonstrando sua viabilidade.

Balanço verde

Com vistas a demonstrar os prejuízos ao meio ambiente provocados pelo atual modelo, por exemplo, o grupo realiza balanços econômicos voltados para países. Utilizando-se de dados colhidos do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), na FEA e no IPEN o professor Kassai considera florestas, terras produtivas, capacidade de absorção de CO2, entre outros, como “ativos” – bens de que dispõe uma nação -, em constraste com os “gastos” realizados por ela, como queimadas ou o aumento da concentração de dióxido de carbono.

Esta pesquisa abrangeu os países do Bric (Brasil, Rússia, Índia e China), Estados Unidos, Japão e Alemanha, e chegou a resultados alarmantes. “Mantendo-se o ritmo de consumo e de destruição ambiental atual, o Planeta estaria falido em 2050”, alerta Kassai. Além disso, a maioria dos países apresenta já hoje um déficit nesta “balança” – caso dos Estados Unidos e da China.

Outro estudo conduzido pelo NECMA dividiu a energia do planeta pela população mundial e, posteriormente, pelos 365 dias de um ano, chegando a uma quantidade máxima de energia que cada pessoa poderia usar diariamente: 46 mil kcal, entre combustível, alimentação e consumo de produtos. O que se constata, porém, é que a distribuição destes gastos energéticos é extremamente desigual, como aponta Kassai:

“A energia é diretamente ligada ao desenvolvimento. Nos Estados Unidos, por exemplo, o gasto energético diário por pessoa é 230 mil kcal, e em Bangladesh é de 4 mil kcal. É necessário distribuir melhor a energia.”

De acordo com o docente,  para a distribuição ser mais igualitária, é preciso aumentar as possibilidades dos países menos desenvolvidos de terem acesso à energia, e não diminuir o consumo dos desenvolvidos. “Mas utilizando  energia renovável”, ressalva.

O professor também destaca a importância das empresas nas questões da preservação ambiental, afirmando que  “mais da metade das 100 maiores economias do planeta não são países, mas empresas”. Para Kassai, as organizações  só poderão se conscientizar da necessidade de um modelo sustentável através da utilização da economia:

“Se não há uma linguagem financeira, de nada adianta a retórica dos ambientalistas.”

O futuro que queremos

No próximo o sábado (31), às 8h30, a FEA recebe a palestra “Rio+20: O futuro que queremos”, organizada pelo grupo do professor Kassai, dentro do quinto Congresso da Civilização Yoko. O evento participa das atividades preparatórias para o Rio+20, que acontece em junho, no Rio de Janeiro. Na ocasião serão colhidas respostas acerca do futuro que se quer e espera para um documentário a ser enviado à Rio+20.

Na visão do professor, a discussão às vésperas da reunião Rio+20 é extremamente necessária para que se perceba que os avanços na questão ambiental conseguidos nos útlimos 20 anos foram muito aquém do esperado. “Os resultados foram fracos visando uma sociedade mais equitativa e sustentável”, avalia.

Ainda assim, Kassai acredita que os avanços na conscientização das novas gerações, buscando a construção de um futuro mais sustentável, é um ponto significativo alcançado pelas conferências ambientais do início dos anos 90. “A juventude de hoje tem muito mais consciência ambiental e ética. O jovens pensam muito mais na coletividade”, pondera.

A palestra “Rio+20: O futuro que queremos” ocorrerá às 8h30, no Anfiteatro FEA-5, à Av. Prof. Luciano Gualberto, 908, Cidade Universitária, São Paulo, e será transmitida online por este link www.iptv.usp.br. As inscrições podem ser feitas gratuitamente pelos emails congressoyoko@mahikari.org.br ou jrkassai@usp.br.

Mais informações: site http://stoa.usp.br/necma/profile, email jrkassai@usp.brcongressoyoko@mahikari.org.br 

Scroll to top