Exposição no Museu Republicano conta história de Itu em fotografias e postais

Mostra comemora aniversário de 405 anos da cidade considerada o berço da República brasileira.

Eduardo Loria Vidal / Especial para o Jornal da USP

Foto: Acervo MRCI
Foto: Acervo MRCI

Em cartaz no Museu Republicano Convenção de Itu da USP, exposição reconstitui a vida urbana e social da cidade berço da República ao longo dos últimos 150 anos

O Museu Republicano Convenção de Itu – uma extensão do Museu Paulista da USP – apresenta a exposição “Itu em Fotografias e Postais”. A mostra, que teve início no dia 24 de fevereiro e segue até 30 de janeiro de 2016, comemora o aniversário de 405 anos da cidade considerada o berço da República brasileira. O museu está aberto ao público de terça-feira a domingo, das 10 às 17 horas, na rua Barão do Itaim, 67, Centro, Itu (SP).

A exposição foi concebida pela professora Maria Aparecida de Menezes Borrego, supervisora da instituição, a partir da dissertação de mestrado do arquiteto André Luís de Lima, intitulada “Imagens da Cidade – A evolução urbana de Itu através da fotografia”, defendida na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP em 2014.

Segundo Lima, a dissertação surgiu do interesse pela fotografia e pelo patrimônio histórico de Itu, a partir da percepção de que a cidade possuía publicações de imagens antigas em livros e periódicos, com destaque para a Revista Campo & Cidade, que mostravam aspectos interessantes dos espaços urbanos ituanos em diversos períodos, mas não devidamente catalogados e organizados cronologicamente. “Com a reunião de diversas coleções de fotografias e, majoritariamente, de cartões-postais, foi possível a percepção do quão vasto é o universo de fotografias de Itu, realizadas a partir da década de 1870 até meados do século 20, quando se encerrou o período pesquisado”, afirma o arquiteto.

O conhecimento desses acervos, pertencentes ao Museu Republicano Convenção de Itu e a coleções particulares, possibilitou a identificação de coleções de cartões e publicadores que atuaram na cidade e produziram cerca de 250 diferentes unidades de postais. Também foram identificados através de anúncios encontrados nos jornais de circulação local, sob a guarda do Museu Republicano, fotógrafos que atuaram na cidade durante o final do século 19 e primeiras décadas do século 20.

O material exposto – fotografias, postais, aquarelas, jornais, negativos de vidro e máquina fotográfica – pertence aos acervos do Museu Republicano, da Biblioteca Pública Municipal Professor Olavo Valente de Almeida, do Centro Histórico do Colégio São Luís e de entusiasmados colecionadores de imagens da cidade em vários momentos da história. De acordo com Lima, em relação à evolução urbana, foram analisados alguns espaços de maior interesse do ponto de vista patrimonial, social e iconográfico, fazendo-se estudos das transformações expressas nas imagens, comparativamente com os dados históricos presentes em publicações que tratam da cidade, principalmente do historiador Francisco Nardy Filho.

Foto: Acervo MRCI
Foto: Acervo MRCI

Os originais e reproduções selecionados trazem informações sobre os primeiros registros da fotografia em Itu, o surgimento, padrões e a utilização dos bilhetes e cartões-postais, as coleções de casas editoriais e de fotógrafos que atuaram em Itu e, ainda, as transformações de locais emblemáticos da cidade, flagrados por diferentes máquinas fotográficas até a década de 1960.

Sobre a motivação para a exposição, o curador acredita que o maior desejo tenha sido o olhar-se a si mesmo, fazer os cidadãos conhecerem a história daqueles espaços em que vivem, que é sua própria história, e mostrar quão rica ainda é a cidade patrimonialmente. “Há também a ideia de mostrar o valoroso acervo público que o museu guarda e que pode ser objeto de diversas pesquisas. Algumas imagens são de locais hoje irreconhecíveis, como o Largo de São Francisco (atual Praça Duque de Caxias), e de curiosos momentos da Praça da Matriz, quando o espaço era cercado por gradis e denominado Passeio Público. Outras imagens testemunham as diversas mudanças do Largo do Bom Jesus, que, além de vários períodos de renovação da vegetação presentes nas imagens, também teve seu traçado modificado diversas vezes: ora formando jardins laterais, ora jardim central”, segundo Lima.

Exageros

A exposição traz registros fotográficos da cidade desde a década de 1870, feitos por fotógrafos não identificados que passaram por Itu para cobrir algum acontecimento, como a finalização das obras do primeiro edifício do Colégio São Luís e de outros espaços da cidade, chegando até os cartões-postais da “cidade dos exageros”, como ficou conhecida Itu a partir da década de 1960, quando se dizia “lá onde tudo é grande”.

Foto: Acervo MRCI
Foto: Acervo MRCI

Do século 19, além das fotografias primordiais, tem-se um mosaico dos anúncios de profissionais que passaram pela cidade oferecendo seus préstimos e outros que anunciam aberturas de atheliers nas principais ruas comerciais de Itu. No século 20, surgem os cartões-postais com temas de Itu, logo nos primeiros anos. A partir de 1904 são anunciadas vendas de cartões-postais nos periódicos, publicados por editores ituanos, com temas do município.

O espaço expositivo traz reproduções e originais de cartões publicados pelos principais editores da primeira metade do século: fotógrafo Frederico Egner (1904-1912), Livraria e Papelaria de Augusta Mehlman (1904 e 1909), Editora da Casa Guimarães (1920), fotógrafo Setimo Catherini (1930-50), fotógrafo Oswaldo Tozzi (1950). A partir de 1960 surgem os cartões-postais do Foto Postal Colombo e outras publicações, que seguem até os anos 1990.

Também há montagens em painéis e conjuntos de imagens em vitrine mostrando a evolução urbano-arquitetônica de alguns dos principais espaços do município, como o Largo da Matriz, o Largo do Bom Jesus, o Largo do Carmo e a Praça D. Pedro I.

O museu expõe uma câmera fotográfica que pertenceu ao fotógrafo Setimo Catherini – um dos mais conhecidos da cidade e grande produtor de cartões-postais – e que faz parte do acervo da instituição, recebida por doação da família Catherini.

Tecnologia

Foto: Acervo MRCIAndre Luis de Lima e Maria Aparecida de Menezes Borrego
Foto: Acervo MRCI
Andre Luis de Lima e Maria Aparecida de Menezes Borrego

Para o curador André Luís de Lima, a tecnologia também é um grande aliado na recuperação dessa história fotográfica. “Algumas famílias ituanas possuem um vasto material fotográfico em seus arquivos pessoais, em álbuns de família, que são publicados frequentemente na página da rede social Facebook, sob o título Imagens Antigas de Itu. Isoladamente, em acervos particulares, essas imagens não podem ser ‘lidas’ por falta de informações complementares, que a visão de conjunto pode contribuir para propiciar seu entendimento”, destaca Lima.

Os registros fotográficos urbanos divulgados por meio de postais ou fotografias avulsas são retratos de momentos da configuração urbano-arquitetônica, que em muitos casos se perderam, segundo Lima. “Para locais parcial ou totalmente alterados, esses registros são, por vezes, o único testemunho do processo evolutivo de sua configuração espacial”, avalia.

Na inauguração da exposição, também foi oferecida ao público a palestra “A fotografia através da evolução urbana de Itu”, com o curador da exposição, André Lima, e uma oficina de fotografia intitulada Paisagens Urbanas, ministrada pelos fotógrafos do Museu Paulista Hélio Nobre e José Rosael.

A exposição “Itu em Fotografias e Postais” está em cartaz até 30 de janeiro de 2016, de terça-feira a domingo, das 10h às 17h, no Museu Republicano Convenção de Itu da USP (rua Barão do Itaim, 67, Centro, Itu, SP). Entrada grátis. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone (11) 4023-0240.

Scroll to top