De aluno a professor: laboratório estimula docência com propostas para ensino de História

Laboratório de Ensino e Material Didático

No final da década de 1990, o Ministério da Educação determinou uma nova proposta de Diretrizes para a Formação de Professores da Educação Básica. Antes da legislação, a licenciatura – autorização concedida por uma autoridade pública para que profissionais lecionem em escolas de nível básico – seguia o modelo “3+1” no qual, para obter a licença após o bacharelado, era necessário realizar apenas mais um ano de formação em educação.

Um dos problemas desse modelo era que os cursos de licenciatura e bacharelado não dialogavam entre si. Neste cenário, as universidades formavam pesquisadores, que possuíam um conhecimento muito específico de sua área, porém não tinham contato com matérias relacionadas ao ensino.

A USP, para se adaptar à legislação e atender as novas demandas da sociedade, implantou uma série de reformas nos currículos associados à área disciplinar. As matérias ligadas ao ensino, que antes eram cursadas na Faculdade de Educação (FE), passaram a ser incorporadas nos próprios departamentos dos cursos.

Criado em 2008, o Laboratório de Ensino e Material Didático (Lemad) surgiu no Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. Coordenado pela professora Antônia Terra de Calazans, ele tem como um dos seus principais objetivos desenvolver trabalhos que incentivem alunos a se tornarem professores.

Sequências Didáticas

Foto: Marcos Santos | USP Imagens
Foto: Marcos Santos | USP Imagens

O Laboratório, que atualmente é referência na área, desenvolve trabalhos em parceria com a disciplina ‘Ensino de História: Teoria e Prática” ministrada pela professora Antônia. Uma das atividades desenvolvidas é a produção de Sequências Didáticas, propostas de aulas planejadas pelos alunos, que seguem os princípios do teórico Antoni Zabala. Segundo a coordenadora do laboratório, nesse estudo é necessário explicitar não apenas os conceitos e informações sobre as temáticas das aulas, como também todos os materiais (vídeos e textos), orientações e metodologias possíveis para que os professores possam aplicá-las.

Com o objetivo de disponibilizar esses e outros materiais, o Lemad elaborou uma plataforma online, na qual os melhores trabalhos são divulgados. O intuito é ampliar o acesso ao conhecimento desenvolvido na universidade, incentivando, inclusive, professores da rede pública a trabalhar com propostas alternativas em sala de aula. O site conta também com uma seção destinada à disponibilização de propostas curriculares de história de diferentes estados, tanto contemporâneas como históricas.

Projetos

Uma das pesquisas desenvolvidas no Lemad é a catalogação e higienização dos livros didáticos contidos em seu acervo. A partir desse trabalho, alunos realizam estudos sobre os autores, as temáticas e os aspectos iconográficos das obras. “Eles nos ajudam e ao mesmo tempo aprendem a fazer pesquisa com livros didáticos”, afirma a professora.

Recentemente, os estudantes trabalharam com um projeto em que passaram a procurar e digitalizar livros didáticos traduzidos para diferentes escolas indígenas. Além disso, realizaram pesquisas com obras didáticas do século 19 e as disponibilizaram online.

O Lemad também desenvolve um trabalho vinculado ao Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid) do Ministério da Educação, que possibilita a alunos da graduação estagiar na rede pública. Dessa maneira, os pesquisadores do laboratório, em parceria com os professores das escolas, produzem oficinas que colocam em prática propostas didáticas na sala de aula.

Foto: Divulgação | Lemad
Foto: Divulgação | Lemad

De acordo com a Antônia Terra de Calazans, umas das atividades propostas foi o trabalho com a temática indígena. O laboratório possuía uma série de objetos indígenas, fato que levou alunos a realizarem uma pesquisa da história sobre o material, com o auxílio de dicionários etnográficos, levando-os a elaborarem propostas sobre como trabalhar este conhecimento didaticamente nas escolas. A sala de aula foi organizada para que os objetos e os respectivos vídeos que ilustravam sua utilização pelos indígenas fizessem parte do espaço.

Na oficina, foram distribuídas fichas com o mapa do Brasil e fotografias dos materiais presentes na sala. A proposta era que os alunos buscassem a origem desses itens no mapa, assim como, observassem e explicitassem suas características materiais e culturais.

Além de discutir as propostas realizadas em sala de aula, os estudantes da graduação desenvolvem pesquisas relacionadas ao estudo do meio. Um dos seus trabalhos foi a visita a uma aldeia Guarani em Paraty. “A ideia era poder conhecer realidades quilombolas e as realidades indígenas”, explica a professora.

Os alunos do ensino médio, por meio da bolsa de pré-iniciação científica, também desenvolveram pesquisas no laboratório. O projeto, que foi realizado em parceria com a graduação, tinha como intuito trabalhar com a temática história da África, a partir dos quadrinhos. Os bolsistas foram levados ao acervo de quadrinhos da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP e do Centro Cultural São Paulo. Além disso, realizaram oficinas sobre como compor um quadrinho com um desenhista convidado.

Ensino da Cultura Afro-Brasileira e Indígena

A Lei nº 11.645  definiu que, a partir de 2008, as escolas de nível médio e fundamental deveriam incluir em seu conteúdo programático o estudo da cultura afro-brasileira e indígena. No entanto, de acordo com a coordenadora do Lemad, mesmo que as universidades tenham dedicado esforços para incorporar disciplinas de história da África e Indígena em seus currículos, são muitos os professores atuantes hoje em dia que não tiveram essa formação e que apresentam, assim, dificuldades de trabalhar com essas novas propostas.

As oficinas produzidas por meio do PIBID têm como objetivo problematizar as discussões sobre essas questões, trazendo um conteúdo que muitas vezes não é visto em sala de aula, como a diversidade de línguas faladas pelas populações indígenas. Para a docente, essas temáticas não são encontradas de maneira enfática nos livros didáticos. “O que tem pouco é uma versão histórica que dê protagonismo às ações dessas populações”, defende a pesquisadora.

Mais informações: site http://lemad.fflch.usp.br

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