Compreender os diversos aspectos que envolvem o Oriente Médio e o Mundo Muçulmano exige análises detalhadas, embasamento teórico e percepção para distinguir entre os fatos e os exageros. Os estudos nesta área são ainda fracamente desenvolvidos no Brasil, não existindo tantos grupos de pesquisas ou publicações a respeito. Por essas razões, é comum que as discussões sobre o universo islâmico provoquem mal-entendidos e reforcem a crença em mitos.
Em busca de diminuir os preconceitos e oferecer informações fidedignas, que promovam e testem novas interpretações, foi criado o boletim eletrônico Malala. A revista é uma publicação do Grupo de Trabalho Oriente Médio e Mundo Muçulmano (GTOMMM) do Laboratório de Estudos da Ásia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. Com quatro anos de existência, o GTOMMM desenvolve atividades em três eixos: debates, que acontecem mensalmente; atividades de campo, com visitas a centros culturais e religiosos e, mais recentemente, a incorporação do boletim Malala, que, além da publicação de pesquisas, pretende fomentar debates acerca dos estudos do grupo. O formato digital permite alcançar um amplo público “interdisciplinar”
De acordo com o professor Peter Robert Demant, coordenador do GTOMMM, “a revista Malala mantém um segmento crítico, mas que tenta criar uma empatia do público com o mundo islâmico”. A intenção é debater alguns dos grandes dilemas da contemporaneidade e abrir espaço para que se possa aprender sobre um mundo geograficamente distante, mas próximo e influente de forma política.
Para o coordenador do GTOMMM, grande parte das opiniões equivocadas em relação ao mundo islâmico são fruto de ideias erradas perpetuadas pela mídia e acontecimentos mal explicados. “Isso, muito comumente, acontece quando convicções e opiniões pessoais são traduzidas em posições políticas”, assegura. “Dessa maneira, é um dever dos pesquisadores buscar mecanismos para que possam compartilhar suas pesquisas e dividir seus conhecimentos com a sociedade”, completa.
A organização
A revista Malala, que está na edição número três – composta por dois volumes – é formada através da participação de pesquisadores brasileiros e estrangeiros; com trabalhos que são, em sua predominância, originais, mas podem ser republicações também. A revista é um espaço aberto a todos que desenvolvam trabalhos que estejam em diálogo com o islã e o Mundo Muçulmano, sendo que todas as propostas são avaliadas pela comissão editorial do boletim. Além disso, é uma plataforma para divulgação de pesquisas finalizadas e em andamento.
Os textos da revista são dos mais variados tipos, incluindo relatórios de viagem, escritos por pesquisadores que estiveram há pouco tempo em algum país do mundo islâmico, ou país em que a temática islã se mostre preeminente; resenhas de livros e filmes com recorte voltado ao islã; artigos de cunho acadêmico, além de ensaios e artigos opinativos. Ademais, acompanha todas as edições um pequeno texto que explica a escolha do nome Malala para o boletim, uma alusão a Malala Yousefzai, a jovem paquistanesa conhecida em todo o mundo por defender o direito à educação das meninas no Paquistão. Segundo o professor Peter Robert Demant, “Malala faz com que as pessoas acreditem que é possível ultrapassar preconceitos e formar espaços onde a discussão e troca de informações aconteça de maneira clara e plural”.
Entre os assuntos mais recorrentes abordados no boletim estão a guerra civil na Síria e o conflito entre Israel e a Palestina. No volume número 1 da terceira edição, está uma entrevista feita pelo boletim Malala com o professor Samuel Feldberg, intitulada “O máximo que Israel está disposto a oferecer não chega ao mínimo que os palestinos estão dispostos a aceitar – e vice-versa”. Nela, é abordada a visão do professor acerca das negociações de paz entre Israel e a Palestina. O número seguinte contém uma entrevista com a professora Arlene Clemesha, com a posição dela sobre o mesmo conflito. No mesmo volume, Rogel Tavares, membro do GTOMMM, narra, no texto “Impressão das Impressões”, viagens a Israel e ao Egito e a forma como sua visão sobre esses países mudou em relação às suas concepções anteriores.
A coletânea conta, também, com artigos sobre a proposta binacional para resolver o conflito entre Israel e a Palestina, de Danilo Guiral Bassi; representações de Israel e Palestina em HQ, de Patrícia Rangel; Frantz Fanon e a Palestina, de Mauro Saccol e diversos outros textos.
A próxima edição de Malala trará análises sobre o islã e seus críticos, visando saciar dúvidas referentes ao tema. O ponto de partida da equipe editorial para delimitar o assunto foram os atentados ao jornal satírico Charlie Hebdo, que aconteceram em janeiro. O episódio fomentou discussões sobre liberdade de expressão e respeito às religiões e ideologias. Será analisado, portanto, “qual o preço e a consequência de não se tolerar certas críticas e certos críticos e se esquivar de certos debates?”.
Interessados em submeter trabalhos para incorporação na próxima edição podem fazê-lo através do site da revista (no ícone “submeter texto”) até o dia 1º de agosto. As normas para publicação estão disponíveis neste link.
Serviço
O boletim Malala pode ser acessado gratuitamente no Portal de Revistas da USP. Todas as edições estão disponíveis para consulta e download em formato PDF.
O GTOMMM conta, também, com o blog GT USP Oriente Médio e Mundo Muçulmano, onde são publicados eventos e realizações do grupo.
Mais informações: site www.revistas.usp.br/malala, email malala@usp.br