DNA explica evolução social das abelhas

Comparações genômicas entre espécies encontram explicações para a evolução em vida social das abelhas.

Pesquisadores da USP, em Ribeirão Preto, acabam de ver resultados de seus estudos em genética de abelhas publicados em duas revistas de grande impacto científico. A edição de abril da Genome Biology traz a análise e comparação de genomas de duas espécies de mamangavas, a Bombus terrestres e Bombus impatiens; e a edição de junho da Science, a análise de um conjunto de dez genomas de abelhas de diferentes graus de sociabilidade, além de sequenciamento de seis novos genomas.

Um desses seis novos genomas apresentados é o da Melipona quadrifasciata, uma espécie de abelhas sem ferrão do Brasil. Explicam os pesquisadores da rede Laboratório de Biologia de Desenvolvimento de Abelhas (LBDA), professores Klaus Hartfelder, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP), e Zilá Luz Paulino Simões, da Faculdade de Filosofia e Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP), ambos da USP, que juntas “essas dez espécies representam todo o espectro de socialidade em abelhas, desde o estilo de vida não social [solitário], o estilo facultativo social, o primitivo eussocial do gênero Bombus, e o altamente eussocial das duas espécies de Apis e da Melipona quadrifasciata”.

O que mais chamou a atenção, garantem os especialistas, foi a maior quantidade de alterações em regiões do DNA ligados ao estilo de vida das abelhas altamente sociáveis (aquelas que vivem em sistemas de castas com grande complexidade social), quando comparadas com as solitárias. Isso, além de conseguirem demonstrar efetivamente que essas regiões estão relacionadas ao grau de socialização desses insetos.

Essas diferenças explicam, segundo eles, a relação “das redes gênicas mais extensas e de maior plasticidade com o maior grau de flexibilidade fenotípica”; ou seja, o desenvolvimento de castas (rainha e operárias) que funcionam de formas distintas nas colmeias, como uma maior flexibilidade na divisão de trabalho entre as operárias.

Vida social

“Tais caraterísticas há muito tempo são consideradas como fundamentais para a vida social das abelhas”. E, com estes estudos, “ficou agora evidenciada uma assinatura genômica para tal plasticidade fenotípica e de comportamento”, observam os pesquisadores. Outra questão que foi explicada geneticamente foi a de “uma aparente seleção positiva e de evolução rápida em genes associados à percepção de odores, as odorant binding proteins, nas espécies mais sociais”.

A disponibilidade dessas informações genéticas devem facilitar as pesquisas sobre “a expressão gênica nas abelhas, tanto para questões puramente acadêmicas, como a da evolução gênica dentro dos diferentes grupos de abelhas, como também estudos aplicados, relacionados à conservação de polinizadores e de testes de agrotóxicos”. São, portanto, animadoras as perspectivas para a “genômica de abelhas e de outros insetos sociais no Brasil, país que tem uma das maiores biodiversidades nesse grupo de insetos tão importantes para a estabilidade dos ecossistemas e a agricultura”.

Os dois especialistas da USP adiantam que, entre os grupos de maior interesse “devem figurar as abelhas sem ferrão, os Meliponini, do qual temos agora uma espécie com genoma sequenciado, o que deve estimular e facilitar projetos genômicos com mais espécies desse grupo de polinizadores endêmicos das regiões tropicais do mundo”.

Eles lembram que a Apis melífera é uma espécie introduzida no Novo Mundo em diferentes ciclos entre os séculos 18 e 20. O último levou à “formação de híbridos, chamados de Abelha Africanizada. Já os Meliponini são representados nos Neotrópicos [região que compreende parte do sul do México e da Flórida, EUA, ilhas caribenhas e América do Sul] com mais de 400 espécies, de alto grau de diversidade em termos de estrutura de ninhos e comportamentos, sendo assim excelentes modelos para estudar assinaturas de evolução social nas abelhas”.

A rede Laboratório de Biologia de Desenvolvimento de Abelhas reúne pesquisadores da FMRP e FFCLRP de Ribeirão Preto, da UFSCar de São Carlos, da Unesp de Jaboticabal, e da Universidade Federal de Alfenas (Minas Gerais). A rede participa de consórcios internacionais de genômica de abelhas, nos quais os pesquisadores do LBDA estão envolvidos desde o início do projeto genoma da abelha Apis mellifera, publicado na revista Nature em 2006.

Rita Stella / Serviço de Comunicação da PUSP-RP

Mais informações: (16) 3315.3063 e (16) 3315.4332

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