Convênio entre EERP e universidade angolana forma primeiro mestre

Jesus Setumba defendeu em abril o mestrado em Obstetrícia e Ciências de Enfermagem Neonatal da Universidade Agostinho Neto.

Em abril deste ano ocorreu a primeira defesa de mestrado no Programa de Pós-graduação em Obstetrícia e Ciências de Enfermagem Neonatal da Universidade Agostinho Neto (UAN), em Angola. Esta foi a primeira experiência no país na área de enfermagem e o desafio coube ao enfermeiro Mario Jesus Setumba. A USP tem participação ativa nessa conquista.

Em 2011, a Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP e a UAN firmaram convênio para organização e instalação do primeiro curso de mestrado em enfermagem naquele país e a defesa de Setumba, na área de Obstetrícia e Neonatologia, é resultado dessa parceria. Com orientação da professora Debora Falleiros, da EERP, o enfermeiro desenvolveu estudo que analisou as taxas de mortalidade em bebês de baixo peso ao nascer naquele país, que convive com elevadas taxas de morbilidade e mortalidade materna e infantil.

De acordo com Setumba, a situação de saúde das crianças angolanas é complexa, com altíssima mortalidade infantil, mortalidade neonatal precoce, desnutrição, malária, entre outros problemas. “Os próprios indicadores de saúde do país comprovam isso, uma vez que a mortalidade infantil é de 115 mortes, para cada mil nascidos vivos, com uma expectativa de vida de 47 anos de idade”.

Com o título de mestre, Setumba pretende ajudar muito a área da saúde em Angola. A enfermagem, diz, é referência para contribuir com intervenções que melhoram os indicadores de saúde e também em questões importantes nas relações sociais, como o contexto das crianças, famílias e população. Além disso, segundo Setumba, esse mestrado contribui com a melhoria do acesso e cobertura universal de Angola, com o intuito de buscar a cidadania e a defesa dos direitos e cuidados integrais à saúde da população africana de Angola.

Angola e a EERP, uma história

No final da década de 1980, a EERP começou negociações com o Departamento de Formação Técnico Profissional do Ministério da Saúde da República Popular de Angola que resultou, em agosto de 1991, num protocolo de intenções entre a Escola da USP e o governo de Angola.

Em novembro deste mesmo ano, assinaram um convênio que foi considerado audacioso, pois tinha como meta a formação de recursos humanos, intercâmbio de docentes e alunos e desenvolvimento de pesquisa, num cenário político econômico e social em Angola que era bastante restritivo. Mesmo assim, os primeiros alunos, indicados pelo governo angolano, conseguiram vir ao Brasil e estudar com a ajuda do governo brasileiro e, mais adiante, também conseguiram apoio financeiro de uma agência sueca.

Foram 21 estudantes angolanos recebidos entre 1988 e 1993. E 18 deles concluíram o curso de Bacharelado em Enfermagem. Como o governo de Angola os quisesse também professores, inicialmente fizeram o curso na Unesp de Araraquara, até que em 1994, a EERP instalou sua própria Licenciatura em Enfermagem, o que atendeu também seus alunos de Angola. Além de Angola, a EERP também formou enfermeiros para Moçambique e Guiné Bissau.

Conflitos político-militares naquele país, em 1992, paralisaram as atividades com destruição parcial da infraestrutura da área de ensino de saúde em Angola que já possuía em estruturação o Instituto Superior de Enfermagem, em 1990, que viria a se tornar o Instituto Superior de Ciências da Saúde (ISE/ISCISA), em 2009, vinculado à Universidade Agostinho Neto (UAN).

Assim, somente em 1993, começou o regresso dos primeiros angolanos licenciados em Ciências de Enfermagem à EERP. Em seu país de origem, esses estudantes somente viram a conclusão e reabertura de seus institutos de ensino e de saúde em 1998, com a instalação do curso de Licenciatura em Enfermagem na UAN e as perspectivas de novas cooperações acadêmicas entre Brasil e Angola. Contam as professoras da EERP, responsáveis pelo intercâmbio com Angola, que a Unidade da USP de Ribeirão Preto ofereceu apoio, com assessoria na estruturação do curso e disciplinas, além do fornecimento de material bibliográfico.

Formando mestres e doutores

Entre 2001 e 2005, um programa especial de pós-graduação, o Programa Estudante Convênio – Pós-Graduação, permitiu que a EERP fizesse três mestres em enfermagem entre os angolanos, sendo que um desses prosseguiu nos estudos e obteve o título de doutor.

Em 2006, celebram o primeiro convênio de intercâmbio de professores e alunos e, a partir de 2007, a EERP recebeu grupos de alunos matriculados no último ano do curso de Licenciatura em Enfermagem do ISE/ISCISA, para realização da disciplina de estágio curricular supervisionado na área hospitalar e na atenção básica. Além disso, os alunos foram inseridos em uma programação que incluiu estudos, aulas expositivas, treinos em laboratórios e visitas técnicas a serviços de saúde de Ribeirão Preto.

O estreitamento da cooperação acadêmica favoreceu a celebração de novo convênio, em 2011, para assessoria na instalação no ISCISA do primeiro curso de pós-graduação stricto sensu em enfermagem. Foi então criado em Angola o mestrado em Obstetrícia e Ciências de Enfermagem Neonatal, cuja área de conhecimento prioriza a área da saúde nesse país.

Com o apoio da EERP, orientando e participando de bancas, a primeira defesa ocorreu em abril desse ano, com novos alunos a ser titulados até setembro próximo.

Mais informações: (16) 3315-3389

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